SEXUALIDADE HUMANA: PERSPECTIVA HISTORICA
Por Rafael Junior heliodoro | 20/05/2013 | EducaçãoRafael Junior Heliodoro
1.0- INTRODUÇÃO
A sexualidade humana tem sido ao longo dos tempos, objeto de estudo em várias pesquisas. Neste contexto, a orientação sexual aparece com relevante significado, isso em virtude da sua relação com a própria condição humana.Acredita-se que a sexualidade está arraigada na existência humana do nascimento à morte, permeando todas as manifestações do indivíduo.Na literatura existente a respeito do tema, percebe-se um número considerável de estudos que subsidiam os educadores em sala de aula.
Contudo, as poucas instituições que incluem em suas práticas pedagógicas um tema tão importante, por vezes tratam o assunto com palestras ministradas por psicólogos ou médicos, como se isso apenas fosse suficiente para esclarecer todas as dúvidas acerca do tema.Talvez por equivoco, associa-se o tema sexualidade apenas à fase da adolescência, deixando a infância e a pré-adolescência à mercê de informações vindas de fontes não tão confiáveis como televisão e internet.Para alguns educadores do Ensino Fundamental (1º e 2º ciclos), a orientação sexual neste período não oferece benefícios à formação da criança, posto que estimula precocemente a sua sexualidade.
Estudos científicos realizados nesta área apontam para o contrário, o estudo demonstra que o trabalho de orientação sexual não estimula a atividade sexual prematuramente e não antecipa a idade do primeiro contato sexual. Muito menos aumenta a incidência de gravidez ou aborto na adolescência. O estudo aponta que as crianças que tiveram tal orientação, se mostraram mais responsáveis e conscientes de seus atos.É notória a importância de se discutir a sexualidade na escola, uma vez que cresce a cada dia o número de abuso sexual, gravidez precoce, contam inação através de DST/AIDS, principalmente entre os adolescentes, dentre outros temas fundamentais para essa discussão, que se faz necessária e inadiável.
De modo geral, podemos observar que a orientação sexual na escola pública brasileira tem recebido pouca atenção das políticas públicas e educacionais. Apesar da LDB Lei de Diretrizes e Bases, regulamentar que é dever da família, sobretudo, do Estado, zelar pela formação de todo cidadão. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs contemplam a orientação sexual nos temas transversais. Os PCNs são diretrizes estipuladas pelo ministério da Educação regulamentando a grade curricular em todas as instituições de ensino.Entretanto é necessário ir além do caráter informativo como sugere os PCNs. é preciso botar em prática, trazer para rodas de discussão, debates e trabalhos.
A importância de se discutir um assunto tão complexo, está justamente na necessidade que temos de preparar o jovem, em todos os aspectos para suas experiências futuras. A sexualidade vai mais além do que a busca de prazer, passa pela constituição do indivíduo, até a questão da cidadania.
Embora alguns estudiosos e educadores não considerem positivo este assunto ser tratado em sala de aula, a grande maioria considera que abordar este tema é de grande relevância na formação pessoal do indivíduo. Em síntese, trata-se de unificar as diferenças de gênero, de maneira que seja natural, a relação do indivíduo com seu corpo, ou com sua opção sexual.
2.0- DESENVOLVIMENTO
Não se sabe ao certo quando ocorreu à entrada da questão da sexualidade nas escolas, contudo alguns estudiosos advogam que o tema surgiu na França, a partir da segunda metade do século XVIII. Segundo os estudiosos, somente a partir deste período é que os educadores começaram a se preocupar com a educação sexual na instituição escolar.
Essa educação tinha como objetivo maior, combater a masturbação entre os jovens colegiais, para isso se apropriava das ideias de Rousseau, onde a ignorância era a melhor maneira de manter a pureza infantil. Um século depois, as discussões a respeito da educação sexual voltam à tona, só que desta vez, esta abordagem preocupava-se em prevenir doenças venéreas, a degenerescência das raças e o aumento do aborto clandestino.
No século XX voltou à tona a questão da educação sexual, voltada ao esclarecimento das questões de reprodução e continuidade da espécie e também, a relação entre instintos sexuais e reprodução humana. Apesar das discussões e reflexões sobre a educação sexual terem sido iniciadas na França, foi na Suécia onde essa abordagem foi sistematizada e organizada nas instituições de ensino. Foi lá, onde ocorreram às primeiras conferências públicas sobre as funções sexuais, também as primeiras reivindicações sobre o livre acesso aos métodos contraceptivos.
Consta que lá também ocorreu pela primeira vez, a recomendação de um governo, a educação sexual na escola em 1942, declarada obrigatória em 1956.Entretanto, verificou-se que os preceitos da educação sexual já estavam presentes desde o início do século, quando Freud inovou as ciências humanas com suas teorias sobre a sexualidade e suas implicações no comportamento humano.
No Brasil temos os primeiros registros de discussões sobre educação sexual em 1920. É nesta época que as primeiras reflexões e as primeiras ideias são ouvidas. Influenciado pelas correntes médicas e higienistas francesas, com o objetivo geral de com bater a masturbação, as doenças venéreas, e preparar a mulher para exercer seu papel de dona do lar. Visava-se sempre a saúde pública e a moral sadia.
De 1935 até 1950, não se tem registros de qualquer tipo de iniciativa ligada à sexualidade. O que resultou num tremendo retrocesso no caminho da educação sexual no Brasil. Ainda na década de 1950, a igreja católica que dominava o sistema educacional para a elite brasileira, manteve um olhar de reprovação sobre a educação sexual. Neste período surgem alguns estudos mais aprofundados sobre a sexualidade na educação. A década de 1960 foi um período muito complicado no Brasil. Passávamos pela repressão, estabelecia-se o regime de exceção. Mudanças políticas radicais foram estabelecidas após o golpe de 196 4.
Na educação, há registros de tentativas de implantação da educação sexual para alunos das escolas públicas e particulares. Algumas foram pioneiras no trato deste assunto em sala de aula.Entretanto, devido à reprovação dos pais, esta abordagem não sobreviveu por muito tempo. Essas escolas tinham uma orientação mais progressista, muito à frente do contexto social retrógrado da época.
Em 1968, a deputada Julia Steimbruck, do Rio de Janeiro, apresenta o primeiro projeto de lei propondo a im plantação obrigatória da educação sexual em todas as escolas do país, em todos os níveis.Após três anos, isto é, em 1970, especificamente em novembro, o projeto ainda estava em tramitação. O projeto recebeu grande apoio da maioria dos educadores, estudiosos e intelectuais, entretanto a burocracia engessava esta proposta.
Ainda durante a década de 1970, precisamente entre 1974 e 1975, a escola Preparatória de Cadetes do Exército, organizou uma série de conferências sobre orientação sexual para alunos do 2º grau da escola militar.Em 1978 foi realizado por iniciativas particulares o 1º Congresso Nacional sobre Educação Sexual nas escolas, em São Paulo, que teve como objetivo debater a dimensão pública da educação sexual. Nesse congresso registrou-se um grande interesse dos educadores para com o tema, reunindo cerca de duas mil pessoas.
A década de 1980 foi um tempo próspero referente à questão da educação sexual. Foi um período de abertura política e retorno de grandes pensadores e intelectuais das mais diversas áreas.Enquanto o povo gritava nas ruas por “diretas j !”, eram publicadas as primeiras revistas exibindo corpos nus, coisa que antes não ocorria.Estava também ocorrendo uma grande revolução sexual nas m ídias de massa, a televisão, o cinema, e a mídia impressa, passava a publicar conteúdos que até então, eram proibidos.
Nessa década a sexóloga Marta Suplicy fez um quadro no programa TV Mulher, tratando justamente do tema sexo. Grande foi a repercussão deste quadro nas mais diversas camadas da sociedade, fazendo ressurgir o interesse pelo tema.Em 1983 foi realizado o primeiro encontro para uma reflexão mais robusta acerca da sexualidade na escola. Esta discussão se deu, sobretudo, pelo crescim ento acentuado nos índices de gravidez na adolescência e o crescimento da AIDS entre os jovens.
Em 1989 a secretaria municipal da educação de São Paulo, sob orientação de Paulo Freire, decidiu im plantar a educação sexual na escola. Primeiro nas escolas de 1º grau, estendendo para os outros níveis paulatinamente. O modelo foi tão bem elaborado, que foi copiado por outras capitais brasileiras como Porto Alegre,Belo Horizonte, Florianópolis, entre outras.
O objetivo inicial era capacitar o educador para a abordagem deste tema tão complexo, além de produzir material sobre o tema para que os educadores estivessem aptos a trabalhar a orientação sexual e a prevenção das DSTs.Nos anos 1990 se intensificaram ainda mais as iniciativas de promover a orientação sexual, uma vez que havia aumentado virtuosamente o índice de gravidez na adolescência.
No final dos anos 1990 várias organizações não governamentais, sobretudo a mídia buscava incentivar o debate sobre o tema de maneira mais aberta. Em suma, foi somente na última década do século que começamos a pensar e refletir sobre a importância da orientação sexual, muito embora, como vimos estudos, já eram realizados há tempos.
Dos anos 1990 até hoje, muito se tem estudado e discutido a respeito do tema. Os educadores têm sido subsidiados de informação. Contudo, as redes privadas e públicas de ensino, não tem tido eficácia, por motivos de tabu, pois discutir um tema complicado abertamente, não é tarefa fácil.Dentro do contexto atual, a orientação sexual nas escolas se faz cada vez mais necessária, entretanto precisa ser discutida de forma clara e coesa, de maneira que chegue à raiz do problema, isto é, informe e conscientize.
A dúvida maior é se os professores estão preparados para ministrar aulas de orientação sexual, um campo complexo e cheio de questionamentos e incertezas, uma vez que os educadores de hoje, foram os educandos de ontem e sofreram a repressão sexual daquele tempo que certamente deixaram marcas profundas no comportamento e no modo de pensar de cada um. Em pleno século XXI, nota-se a crescente necessidade de informação dos jovens seja sobre literatura, cinema, e é claro sexo. Cada vez mais os filhos vão buscar a conversa com os pais.
3.0- CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da história vemos que independente do tipo de sociedade, sempre ocorreu algum a forma de controle sobre a sexualidade dos indivíduos que a compõe. Seja através da religião, ou dos tabus, a sociedade exerce alguma forma de pressão sobre o indivíduo. Basta pensarmos que há pouco tempo, refletir sobre opção sexual era quase um crime. Pessoas sofreram e outras ainda sofrem, pelo fato de terem uma opção sexual diferente. Isso é o resultado de séculos de omissão do governo. O papel da política é justamente integrar a sexualidade à educação, uma sociedade informada é uma sociedade mais tolerante, consciente e, sobretudo, saudável. A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência.
4.0- REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO
- FOUCAULT, M. A história da sexualidade I: a vontade de saber. 199
- LISPECTOR, C. A paixão segundo G.H. 16 ed. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1991: p.15.
- LOYOLA, M.A. (org.) AIDS e sexualidade: o ponto de vista das ciências humanas. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 199