Seu exemplo é meu melhor presente...

Por Francisco Antônio Saraiva de Farias | 21/12/2013 | Crônicas

Seu exemplo é meu melhor presente...

Noite longínqua voltávamos para casa de carona, eu minha saudosa esposa e nossas duas crianças, num carro de um amigo, quando, próximo ao Liras Lanche, na Isaura Parente, vi um corpo estendido no asfalto. Pare, clamei ao motorista, mas ele tentou me demover da ideia afirmando que aquilo era perigoso, posto que no Pronto Socorro o Plantonista da PM iria me fazer um monte de perguntas num clima de total desconfiança a respeito do autor do atropelamento. Não lhe dando ouvidos, desci do carro, pedindo ao mesmo que levasse a minha família até em casa. Então me agachei junto do corpo inerte... Era de uma menina de aproximadamente nove anos. Um filete de sangue escorria por sua fronte. Comecei então a acenar aos motoristas que passavam, mas ninguém parava. Então me expus no meio da rua acenando com os braços erguidos. Um taxista parou. Pedi a ele que levássemos rápido aquela criança ao Pronto Socorro, mas ele olhou para o corpo da menina estendido no asfalto e disse que não porque ela iria sujar o banco do carro dele de sangue... Falei que forraria o banco com a minha camisa e levaria a criança no meu colo. Então ele desceu do carro e me ajudou a entrar e a me acomodar no banco traseiro. Minutos depois já estávamos defronte ao Pronto Socorro. Trocamos algumas palavras, depois entrei apressado no Pronto Socorro com a menina nos braços. Dei de cara com o PM plantonista. Ele, sem perguntar nada, colocou a mão em meu ombro e me levou rápido até uma das moças da Portaria que vendo a situação da menina, nos ladeou e seguimos a passos largos direto para a sala de emergências, onde deixamos a criança sob os cuidados de uma das equipes médica de plantão. Então a moça da Portaria e o PM me convidaram gentilmente para formalizar a Ficha de Atendimento e o BO. Após as assinaturas de praxe a atendente e o PM me agradeceram e me parabenizaram pela minha atitude. Perguntaram se eu tinha transporte para retornar para casa só então lembrei que estava sem nenhum centavo. O PM então meteu a mão no bolso e me entregou uma passagem de ônibus, cuja parada era em frente ao Pronto Socorro. Às primeiras horas da manhã o telefone de casa tocou. Era a plantonista do Pronto Socorro que decidiu ligar para me dizer que a equipe médica havia conseguido estancar uma hemorragia e que a criança não corria mais risco de morte. Estava lúcida e conseguira até prestar informações sobre a sua família. Seu nome era Glória e o seu pai era taxista...

Ontem à noite, 21 de dezembro de 2013, minha filha, agora com 28 anos, voltava da Maiz Academia em seu HB 20. Chovia. Nas proximidades da rotatória do Campus da UFAC percebeu que havia um corpo estendido no asfalto, à margem direita da pista. Viu que o corpo estava totalmente desprotegido. Uma ferrenha vontade de ajudar a fez contornar as rotatórias da UFAC e do CEFAP para tentar prestar socorro à vítima. Ao chegar ao local do acidente lá já se encontrava um homem de nome Severino, parou o seu carro a uns cinco metros de onde o corpo estava caído, no desejo de protegê-lo. Ligou as luzes de alerta e saiu do carro. A vitima era um homem de meia idade, uma das pernas dele estava ligada ao corpo apenas pela pele, a tíbia estava exposta, seu nome era Pedro Lima, aparentava está alcoolizado. Severino então explicou que Pedro havia sido atropelado por um motoqueiro que surgira em alta velocidade. No choque, o motoqueiro fora cuspido da moto e desmaiara ao chocar-se com o asfalto, mas logo recobrou a consciência pegou a moto e saiu rápido do local do acidente, retornando minutos depois com uma mulher na garupa. Minha filha perguntou ao homem acidentado se ele se lembrava de número de telefone de algum parente, o homem respondeu que sim, estava gravado na memória do celular que estava no bolso da sua bermuda, justo do lado da perna que fora quase decepada. Minha filha ligou para o SAMU e a atendente falou que um Senhor de nome Severino já havia ligado e uma unidade do SAMU já estava a caminho. Dois carros da polícia militar passaram pelo local do acidente, um, que trafegava na mesma pista, até diminuiu a velocidade, mas não parou. O outro, que trafegada na pista no sentido contrário, parou, mas seguiu sem sequer baixar o vidro da porta da viatura. Meia hora depois chegou o SAMU. Já imobilizado o homem perguntou se iria perder a sua perna, o paramédico do SAMU falou que não, então minha filha colocou a mão em seu ombro e falou que ele não iria perder a sua perna, em nome de Jesus! Pediu que ele tivesse fé. A porta traseira foi fechada, a sirene foi acionada e o SAMU partiu em alta velocidade, rumo ao Pronto Socorro. Minha filha chegou a casa minutos depois ainda muito abalada. Hoje, cedinho, perguntei a ela mais alguns detalhes sobre o trágico acidente e ela de pronto me respondeu que estava com vontade de ir visitar o homem acidentado no Pronto Socorro. Olhei para ela carinhosamente e sorri cheio de orgulho.

O nome do Bom Velhinho não deveria ser Papai Noel, e sim SOLIDARIEDADE. Quem sabe, assim, conseguíssemos nos afeiçoar ao verdadeiro sentido do Natal. 

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