SETE DE SETEMBRO.

Por Alexandre Gazetta Simões | 29/12/2010 | Crônicas

SETE DE SETEMBRO.
o novo
não me choca mais
nada de novo
sob o sol
apenas o mesmo
ovo de sempre
choca o mesmo novo
Paulo Leminski
Porque hoje é domingo, e ainda não começou o jogo da seleção, e nem parece sete de setembro, não falarei de direito. Não mencionarei uma palavra a respeito da moral administrativa. De eficiência na gestão pública, então, niente. Não suspirarei pelos desmandos das chefias soberbas. Não reclamarei da institucionalização da burrice. Nem uma palavra sobre os riscos profissionais da concretização da justiça. Não bradarei pelos descamisados, ou os com chinelos havaianas de segunda mão. Não me angustiarei com a prostituição infantil nos eldorados da Amazônia. Não desvelarei meu humor negro a partir das vicissitudes de nossos "brasis". Não teorizarei sobre a volta do candidato afastado por manobras políticas. Não suspeitarei dos pareceres jurídicos a partir da lógica de resultados das casas legislativas. Não buscarei saber dos prós e dos contras das decisões de nossos tribunais, sobretudo o maior deles. Não me indignarei com os R$ 15,58 bilhões que escoram pelo ralo da corrupção, entre 2000 e 2008. Não esclarecei que "Viaduto Sonrisal" "é o pontilhão que desmancha logo, porque erguido sobre peças descartáveis" . Muito menos, farei referência a "Contrato imortal", como mecanismo de burla ao processo licitatório. Aliás, se há licitação soi contra. Não quero saber de dados, que me importa se só em cinco países (Venezuela, Paraguai, Serra Leoa, Lesoto e Namíbia) os 10% mais pobres ficam com uma parcela de renda menor que a dos brasileiros miseráveis. Ou mesmo, que em nenhum país do mundo, a desigualdade de renda é tão intensa quanto no Brasil . Nunca tirarei esse sorriso amarelo de minha face, fatigada das aventuras dominicais, pelos menos até às 12:00 de hoje.
E por que hoje é domingo, a noite é leve. Nem me lembro que a segunda nos espera ansiosamente. Que tenhamos mais do mesmo. Já que a voz do povo é a voz de Deus. Quero antes saber do emprego do Dunga, do jogo da seleção. A corrida de domingo (e dá-lhe Felipe), a novela da semana, e do seriado da estação.