Sete de setembro é hoje
Por NERI P. CARNEIRO | 22/09/2015 | HistóriaSete de setembro é hoje
Até o dia sete de setembro de 1822 o Brasil não era muito mais que uma colônia de Portugal. Até essa data todas as principais decisões sobre o Brasil eram tomadas pelo rei de Portugal. As decisões menores cabiam ao príncipe regente, d Pedro, filho do rei português e que, até essa data, administrava o Brasil em nome do rei português.
Mas as relações pai e filho nem sempre são as mais cordiais. Principalmente quando se trata de administrar a herança da família. E o Brasil, até aquela data, não passava disso: um grande território que pertencia ao rei que, por herança deixaria ao filho, d. Pedro. O fato é que havia divergências entre pai e filho e por causa dos interesses diferentes. E num dia desses, irritado com o rei, proclamou a independência do Brasil. Casualmente era 7 de setembro.
Mas uma coisa é gritar – se é que gritou mesmo - “independência ou morte!”. Outra coisa, bem diferente, é efetivar essa independência. Foi necessário solidificar a independência. E como se faz isso: pedindo, implorando, solicitando, exigindo... que outras nações reconheçam o ato. Qual ato? O de dizer: independência ou morte! Depois do grito lá da beira do rio foi que d. Pedro precisou fazer valer seu grito. Depois do grito de bravata precisou gritar pedindo socorro: que outros países reconhecessem a separação Brasil/Portugal.
Como ninguém dá nada de graça foram feitas muitas negociações, muitos acordos e pagas muitas exigências. Só depois disso o Brasil virou um novo país e d. Pedro passou a ser d. Pedro I. Mas não virou rei, virou imperador. É que o Brasil, por ser um grande território em vez de se chamar de reino, foi batizado de Império. Por isso d. Pedro I, que foi o primeiro governante do Brasil governou como imperador: d. Pedro I, imperador do Brasil.
O fato é que para assegurar a independência, d. Pedro fez contatos com outros países e firmou acordos comerciais, tratados de amizade... o que não foi um processo simples e rápido. Primeiro porque naquele tempo não tinha internet nem telefone ou televisão. E as notícias demoravam muito a chegar ao destino. Somente dois anos depois do grito da beira do rio os Estados Unidos da América reconheceram a validade do grito. Mas isso para defender seus interesses: diminuir a influencia da Inglaterra no continente e aumentar sua própria influencia sobre as novas nações latino-americanas. Isso aconteceu em 26 de maio de 1824.
Depois foi a vez da Inglaterra: 5 de janeiro de 1925. Em troca de acordos comerciais supervantajosos a Inglaterra reconheceu a independência do novo país. Pelos acordos comerciais a Inglaterra, de certa forma, passou a mandar no Brasil. Somente depois de algum tempo outros países também reconheceram a independência, como Portugal que reconheceu que tinha perdido a ex-colônia em troca de uma indenização de dois milhões de libras – notando que libra era o dinheiro da Inglaterra.
Mas como fica essa tal independência nos dias de hoje? No meio de tanta desordem, corrupção e outras safadezas, o povo brasileiro não se sente muito motivado a comemorar o sete de setembro como dia da independência, pois se é verdade que ocorreu desligamento em relação a Portugal, o Brasil passou a ser dependente do capital internacional. E, pior do que isso: passamos a ser reféns da imoralidade, da corrupção, das manobras para tirar vantagem de tudo... tornamo-nos um país de corruptos. Hoje é quase vergonhoso ser honesto por aqui.
Nesse ponto pode-se fazer uma constatação: demoramos alguns séculos de história para afundar neste lodo. Agora restam dois caminhos: afundar de vez ou construir outro rumo. Não dá pra mudar a história, mas dá pra mudar a ética, os costumes, os valores, as posturas. Não dá para esperar que os políticos sejam diferentes, mas nós podemos ser diferentes. Não dá para mudar a imoralidade institucional, mas dá para nos rebelarmos contra ela.
Dá para construir um futuro diferente. Desses avanços poderá nascer a independência. Mas é necessário um sete de setembro para cada dia. Essa é uma tarefa para todos os dias.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO