Será que podemos chamar de Reforma, o Ensino Médio Inovador?

Por Iza Aparecida Saliés | 07/01/2010 | Educação


Será que podemos chamar de Reforma, o Ensino Médio Inovador?

Iza Aparecida Saliés

Em 2009 o Ministro da Educação enviou para o Conselho Nacional de Educação (CNE) a proposta de reforma curricular e organizacional do ensino médio, também chamada de Projeto Ensino Médio Inovador, sendo apreciada e aprovada pelo colegiado, agora, só falta implantá-la nos sistemas estaduais de ensino e no Distrito Federal.

A priori o projeto irá apoiar iniciativas e alternativas pedagógicas das escolas, que possam contribuir com a qualidade do ensino médio oferecido atualmente, etapa de ensino, que não estão formando nem para a vida e muito menos para o mundo do trabalho.

Um dos pontos discutíveis da proposta apresentada pelo MEC, é quanto à organização curricular do Ensino Médio Inovador, a flexibilidade oferecida pelo projeto, não garante que será benéfica, em pouco vai influir no contexto curricular dos jovens, podendo ocasionar problemas de cunho social e pedagógico também.

Assim sendo, os jovens irão estudar disciplinas diferenciadas e conteúdos diversos, o que pode ocasionar um descompasso na hora as provas do Enem e dos vestibulares, pois o aluno pode ficar em defasagem de conhecimento.

Quais seriam as disciplinas que poderiam ser escolhidas pelo aluno? Pela proposta não deu para visualizar os componentes curriculares que farão parte dos 20% que o aluno pode optar em fazer ou não.

Todas essas mudanças têm por objetivo tornar a escola mais atraente para o jovem. Estudos realizados por pesquisadores que investigam a educação dizem que o modelo de Ensino Médio que está posto no sistema de ensino do país não responde mais às demandas sócias, políticas e econômicas contemporâneas provocando desinteressante e evasão por parte dos jovens. São assuntos escolares desarticulados com a realidade do aluno, com as necessidade e com o contexto do mundo do trabalho, assim sendo, eleva os índices de abando escolar, ampliando assim, o tempo do brasileiro na escolarização básica.

Será que as escolas estão preparadas para receber essa nova proposta? Para o aumento da carga horária de 2400 para 3000 horas/ano? As escolas públicas do Brasil a fora, estão abarrotadas de alunos nas salas, na sua grande maioria sem condições estruturais para ampliar o horário escolar e os Estados com parcos recursos para investir num ensino médio de qualidade, pois esta etapa de ensino da educação básica, exige investimentos muito caros.

A atual matriz curricular do Ensino Médio da rede estadual de ensino de Mato Grosso, utilizada pelas escolas em 2009 foi orientada na perspectiva da organização curricular por área de conhecimento, mas, a escola ainda trabalha por disciplinas e os professores são lotados, também por disciplina.

A proposta estabelece quatro eixos conceituais que devem permear as discussões curriculares do Ensino Médio, que são: trabalho, ciência, tecnologia e cultura, que segundo os autores da proposta, a finalidade desses eixos é de promover a interdisciplinaridade e a contextualização dos componentes curriculares e áreas de conhecimento.

É importante implantar corretamente a proposta e trabalhar a formação contínua de forma sistematizada e seqüencial de modo que o professor tenha o compromisso de utilizar essa aprendizagem para inovar sua prática pedagógica na sala de aula. É preciso também, que as instituições formadoras compreendam qual é a proposta e que pense numa reformar curricular das licenciaturas.
A escola precisa apontar sua direção às expectativas cognitivas, emotivas, culturais e sócias dos jovens e não mais utilizar das antigas aulas monótonas, cujo planejamento está sob a égide da simplória listagem de conteúdos ou das aulas da pagina 52 do livro didático.

Temos um referencial teórico, metodológico que pode ser utilizado pelas escolas que são os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCNs da Educação Básica, documento que sugere novas abordagens pedagógicas, indicando possibilidades de trabalhar diferentes conteúdos, conceitos, metodologia, temas relevantes, concepções teóricas, habilidades e contemporâneas.Esse documento está nas prateleiras das bibliotecas escolares e é pouco explorado pelas escolas, o que é uma pena acontecer.

Essas proposituras que são colocadas no projeto Ensino Médio Inovador/Mec, já são conhecidas pela escola, porém, nem todas trabalham nessa perspectiva, pois as recomendações não fluíram com a necessidade desejada que uma reforma precisa, por isso, não consolidou.

Não se faz uma reforma educacional sem abalar as estruturas básicas do sistema educacional, resolvendo questões basilares, tais como: piso salarial nacional (ainda não consolidado); formação de professores (adequada as necessidades do atendimento dos alunos); reforma das licenciaturas; investimentos em rede física; tecnologias ;equipamentos; livros; material didático para o aluno e para o professor; livro didático, universalizar o ensino básico, instituir um Sistema Nacional de Ensino do Brasil, que segundo Salviani ainda não temos.

Como não é reforma, não revolucionou em nada, posso dizer que são pequenas dicas de inovação, enquanto proposta de reforma, apresenta-se empobrecida de alternativas relevantes, pois a mesma, não define ações que possam resolver questões fundamentais para que aconteça uma revolução de fato que o ensino brasileiro precisa.