Ser Top?
Por Ivonete Sacramento | 31/08/2008 | CrescimentoIvonete Sacramento
Hoje (25/08/2008), ao assistir uma parte de um programa local, fiquei pensando na imagem que a mídia passa indiscriminadamente acerca de fazer sucesso, ou ser um sucesso (tanto faz).
Confesso que fiquei incomodada com a fala do apresentador que divulgava a seleção para dois programas em nível nacional. Um deles trata de se tornar uma 'Top Model' (seja lá o que signifique, pois não encontrei na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE). Na chamada o apresentador diz que é uma grande chance, e cita como exemplo uma garota de um bairro simples aqui de Salvador, filha de uma costureira que, após participar do programa, para abrir a boca e dizer um 'Oi' ganha milhões de dólares.
O que me incomodou? Não foi o fato de a moça ter origem humilde e agora ser milionária. Cada um com sua 'estrela'. Deixou-me preocupada a mensagem implícita (???) de que ficar milionário – que é o que importa na sociedade do 'ter' – é uma coisa fácil: "Basta querer!!!Veja o exemplo de Fulana!!!". Não vejo nesse tipo de programa um quadro mostrando pessoas simples que, através do estudo e/ou de um grande esforço, se tornaram pessoas atuantes na sua comunidade, ajudando seus pares a achar o caminho pautado em valores, no cuidado com o ser (tanto faz significando 'pessoa' ou 'viver'). Porque em minha opinião, ser 'pessoa' é 'viver' bem consigo e com os outros, o que exige um cuidado todo especial.
Me chama a atenção o fato de que muitas jovens simples, iludidas com o sonho de se tornarem famosas da noite para o dia, deixam de pensar em outras maneiras de serem felizes, correndo atrás de um sonho que poucas vão conseguir realizar. Não por falta de beleza ou 'talento', mas pela restrição da atividade: Tem lugar para poucos. Os promotores e apresentadores desse tipo de programa não mostram quantas mulheres comuns existem para cada top model de verdade (verdade mesmo???).
Ganhar milhões para dizer um 'Oi' significa que não preciso estudar nem tampouco interagir com as pessoas que me cercam, pois isso não vai servir para nada em minha grande carreira de top model. O que quer dizer que só preciso ter um lindo rosto, um lindo corpo e saber dizer 'oi' com charme. Será?
"Ao ocupar o lugar dos valores morais e éticos, a busca da perfeição corporal é confundida com felicidade e realização, gerando grandes frustrações. Quem lucra com essa inversão das prioridades humanas é a milionária indústria da beleza." (Marco Frenette )
Sei que existem outras 'qualidades' para uma moça se tornar uma top model, mas isso não é mostrado, o que reforça minha opinião e preocupação aqui expostas.
Não seria bom mostrar também o que acontece por trás dos holofotes da indústria da moda e da beleza, como as dificuldades de emplacar a carreira, o comportamento pouco ético de várias agências, a extrema competição entre as garotas e as exigências quanto ao corpo perfeito?
Algumas informações:
·Vinte anos atrás uma top model pesava 8% menos que a média das mulheres. Hoje a diferença saltou para 25%.
·Em estudo recente, a pesquisadora americana Patricia Owen concluiu que quase metade das mulheres da Playboy e um terço das 500 modelos pesquisadas em sites de agências estavam dentro dos critérios internacionais de desnutrição e de peso perigosamente reduzido.
·A obsessão pela aparência é hoje uma das principais causas de estresse e ansiedade, tornando infelizes e deprimidas pessoas saudáveis que não atingem o padrão de beleza que a sociedade exige. Beleza inalcançável, já que especialistas afirmam que parcela mínima da população mundial (entre 5% e 8%) tem estrutura física para tanto.
·Recentemente, a promotora de Justiça Luiza Nagib Eluf escreveu artigo apontando para o grande poder dos meios de comunicação globalizados de influenciar pessoas e gerar obsessões coletivas, como a de buscar uma beleza inatingível.
Referências