Ser Perfeito

A família foi chegando. No ar exalava um aroma adocicado de perfume. Dia de festa. Comemorar oitenta e oito anos não era tão comum.

A mesa grande e envelhecida coberta com uma toalha de linho, guardanapos brancos, pratos e travessas antigas de porcelana pintadas com arabescos dourados, repletos de doces. O bolo em coração com os dizeres: Muitos anos de vida. Crisântemos plantados em vasos singelos, begônias coloridas das jardineiras acenavam para o aniversariante.

De onde estava, assistia ao mesmo cenário anos a fio! Crianças inquietas, jovens que balançavam as pernas desajeitadas como a dançar. .Noras se disfarçavam, sorriam a demonstrar afeto que nunca existiu. Nem atentavam para os homens a falar de negócios.

Com dedos tamborilando sobre a mesa, mostrava-se impaciente para o início e término da festa. Olhar fixo e distante, O rosto apenas sereno, nada mais a expressar

A voz estridente da nora mais velha entoa: Parabéns a Você!

Anoitecia, um após outro, como em fila indiana, abandonaram a cena. Ouviu-se ainda a mesma voz esganiçada do "Parabéns a Você":

-Até o ano que vem senhor Oscar!

Sentado à cabeceira da mesa, com olhar hirto, suspirou intimamente:

- Eu só existo uma vez ao ano?

E esse dia se quebrou como se quebram as ondas do mar. Levantou-se imponente e apagou mais uma vela. Em sonhos, buscou cada filho, e às gargalhadas brindaram um novo aniversário. Basta ser perfeito