Sentir vergonha do quê?

Por Romão Miranda Vidal | 24/03/2012 | Crônicas

SENTIR VERGONHA DO QUÊ?

 Dizem uns que a saudade é algo que só quem já provou ou provou alguma coisa, sabe o que é saudade. Ou ainda que não nunca amou, não sabe o que é o amor. Ou ainda pessoas que não sentem falta de alguma coisa, pois nunca as teve. Por exemplo, amor de mãe. Quem nunca teve mãe, não deverá sentir falta do amor de mãe. São divagações a respeito do que não se pode sentir falta, daquilo que nunca tivemos. No momento atual estamos sentindo falta, de alguma coisa que nós brasileiros já tivemos. Falo do orgulho de sermos brasileiros. Não daquele orgulho quadrianual quanto o time brasileiro ou a seleção brasileira, em disputas com outras seleções termina vitorioso, quando conquistamos uma Copa do Mundo. Falo da vergonha que assola o país de norte a sul, de leste ao oeste. A imprensa com as escusas de uma reportagem investigatória, ou ainda com o pagamento antecipado para algumas “fontes”, consegue obter elevados índices de credibilidade e coerência, nas reportagens/denúncias. Presta sim um inestimável serviço a democracia, quando denuncia ações vergonhosas, escabrosas, corruptivas e imorais. Estamos sentindo vergonha de sermos brasileiros e brasileiras, ao nos depararmos com situações que já ser tornaram crônicas, na dança dos governos. Isto nos três patamares governamentais: federal, estadual e municipal. Mas até quando iremos nos deparar com as constantes e crônicas situações de corrupção, de abstenção e ignorância ante um sistema que vive do vender dificuldades, para cobrar facilidades? Até quando o “QI” – quem indica- irá funcionar? O momento pelo qual a sociedade brasileira passa, é reflexo direto do que vem se acumulando desde a época do então presidente Collor. Se houve uma trégua entre o governo Itamar Franco e o atual, está foi imperceptível. Nos oitos anos em se manteve no governo do ex-metalúrgico, praticamente adotou o procedimento dos três símios simbólicos: não ouvi; não vi; não falei; E resultou no que estamos experimentando nos dias atuais. Muitos dirão que houve um enorme progresso no resgate da cidadania, que as classes sociais menos favorecidas, alcançaram patamares, que governo algum conseguiu. Realmente tal ocorreu. Mas qual é o preço que iremos pagar? Qual é a resultante esperada? Simplesmente a devolutiva desta e de outras situações, trazem no seu bojo altos índices corruptivos e corruptores. Afora estas mazelas eleitoreiras e políticas, criou-se no Brasil a forma pela qual a Justiça não conseguirá jamais colocar sob a sua tutela condenatória, o urdimento amoral no qual se fez uso e continua sendo feito, referente a distribuição de auxílios sociais à famílias abaixo dos IDH’s municipais. A conta ou a aritmética é simples. Acolhe-se a família e se faz entrega do benefício social. Qual a retributiva esperada?O reconhecimento ao benfeitor. E de que forma se traduz este reconhecimento? Em votos. Indaga-se. Qual a posição da mais Alta Corte Brasileira? Aplaudir a iniciativa e ficar de mãos atadas ante este tipo de ação de distribuição de auxílios sociais. O Brasil aplaude. Não se tem como não aplaudir. É humana a ação. É socialmente justa a atitude. É protegida pela Constituição. Mas não o é quando dela se valem os governantes para amealhar e cadastrar eleitores e simpatizantes às hostes políticas. Nós brasileiros nascemos sob a égide da corrupção. Quando alardearam que Cabral havia descoberto terras além mar, que hoje se chama Brasil, já estava em curso uma demanda na qual outros navegadores clamavam por tal fato a si. Mas a mídia (não investigativa) primou em honrar Cabral pelo fato. E então a corrupção se traduziu na forma de colares coloridos, espelhos, balangandans e outros cacarecos lusitanos, que os descobridores usaram para atrair os índios e conquistá-los, no sentido de obterem benefícios: água, frutos, carnes, madeira e até certa aproximação sexual. A partir deste momento ou da avant-premier corruptora, nunca mais se conseguiu viver sem uma forma ou outra de corrupção. Podem dizer os indigenistas que esta é a forma de se atrair os silvícolas. Mas não deixa de ser uma corrupção psicológica... A vergonha a qual nos referimos. É a vergonha que nos deixam como que congelados, estupefatos e sem forma de agir e pensar, quando homens públicos, não necessariamente os nossos nobres parlamentares provoca formas surdas de um tráfego intenso de interesses, que resultam no objetivo maior que é lucrar de forma desonesta e perniciosa. Não podemos deixar de raciocinar que as denúncias veiculadas por uma emissora de televisão, a respeito de ações fraudulentas em relação às concorrências, causaram um impacto considerável, não só no âmbito das empresas envolvidas, mas deixou muita gente com a pulga atrás das orelhas. Foi um serviço prestado à sociedade brasileira? Foi. Mas e se não tivesse sido denunciado? Como ficaria a situação? Será que tão somente a imprensa brasileira cabe esta responsabilidade? Em uma linha de raciocínio retilíneo, sim. E por que estas denúncias não se realizam pelos partidos políticos? Pelos clubes de serviços? Pelos três Orientes instalados, reconhecidos e aceitos? Ou por uma sociedade organizada? Ou por um simples cidadão ou cidadã? As respostas são variadas e podem divergir não só no aspecto conceitual, mas também no item de interesses comuns. Enquanto não nos organizarmos, focando assuntos diretamente relacionados com a corrupção, sempre haverá uma indagação: Sentir vergonha do que?