Senhores bem vestidos

Por Marina Kraiczi | 10/08/2010 | Poesias

Ternos e gravatas, sapatos bem lustrados. Impecável aparência fomenta a elegância, com suas vestes da moda. O glamour exala-se em sintonia com a fragrância importada, odores esplêndidos inundam os pulmões e as narinas aguçadas notam a leveza. Humanos quase perfeitos, dotados de corpos esculturais e abundantes em massa muscular. Ditos santos e sábios da primeira classe terrestre, onde a perfeição é o poder de aquisição.

Onde estão os senhores que tudo tem? Onde está a classe dominante num instante de uma necessidade alheia? Onde se esconde o monte de afortuno ao se deparar com o sem teto? Quietos e calados, isto não é consigo.

Numa estrada de pedregulhos provam o pó deixado pelos carros importados. Um litro de água mineral é lançado aos que tem sede, a esmola dentro de uma sacola. Saciai todas as necessidades com um gesto de solenidade em troca da sua vaidade.

Doações sem noções de caridade, vislumbram-se sem piedade a prosperidade disfarçada e sem integridade. Em alguns carreirinhos a ajuda aguda debochando do próprio ninho. Por acaso terá o melhor vinho?

Calo-me e sigo.

Marasmo num emaranhado de temores aos horrores inconsequentes aos insolentes.