Senhora...

Por Heloisa Pereira de Paula dos Reis | 17/08/2012 | Crônicas

Senhora...

Sinto dizer senhora, mas o melhor é esquecer seu filho... Ele tem muitas contas a acertar com a justiça. Pense que hoje ele morreu. Vá viver sua vida, cuide-se. Não dê seu endereço a ninguém. Não atenda ao telefone. Não colabore para que ele a encontre e comece tudo outra vez e volte a fazer de sua vida um inferno!                      Foi isso que ouvi do policial. Ele falava do meu menino, tão jovem ainda e que agora já não mais reconheço... É um estranho que está em minha frente a chamar-me de mãe e a implorar para ficar comigo, para cuidar de mim... Como se possível fosse.                 Com minha alma doendo, meu coração apertado, virei às costas para não vê-lo ser colocado no camburão. Estou sem rumo, nem mais sei o que fazer de mim. O barulho da sirene toca em cada parte de meu corpo. É meu grito de dor que estou a escutar.                       Ouço alguém me chamar... Sou eu mesma que me chamo, para sair do estupor em que me encontro. Estou dividida. Uma parte de mim quer meu filho de volta, por pior que ele seja, mesmo sabendo que ele jamais será outra vez aquele que pari. O meu menino, que se envolveu com o mundo das drogas... Vendeu tudo que eu tinha. Até sem botijão de gás fiquei Lutei com todas as minhas armas para trazê-lo de volta à vida e não consegui. Fui derrotada.  Em minhas noites insones a esperá-lo, ficava a imaginar se o roubaram de mim ou se foi ele que resolveu ir embora, ver o mundo com outros olhos.  Os olhos das drogas, da marginalidade, do seguir o caminho da perdição... E a resposta não vinha e se vinha eu preferia não ouvi-la. A outra parte que mantém os pés no chão,  pede que eu deixe que tudo tome o rumo certo, que talvez seja o melhor para nós. A parte que sente a separação, mas sabe que é impossível ficar juntos novamente... Caminhos separados foram trilhados e com isso a certeza do não mais o reencontro...  Como o sol e lua. Quando um se vai vê o outro ao longe. E só. Nada mais.                                 Sinto-me fracassada como mãe. Hoje sou só a sombra do que fui um dia. Mãos a mim se dirigem, querendo ajudar-me a levantar, a recomeçar a viver. Mas antes disso, preciso refugiar em mim, para sentir a minha dor e aceitá-la sem revolta...                                  Como se possível fosse