Semântica e Pragmática Lingüística
Por Rubens Camelô | 03/04/2009 | EducaçãoCUNHA, José Carlos Chaves da. PRAGMÁTICA LINGÜÍSTICA E DIDÁTICA DAS LÍNGUAS. Belém, UFPA, 1991.
Em Pragmática Lingüística, Cunha trata de conceitos e definições acerca da problemática da enunciação com o intuito de abordar o ensino de línguas a partir de uma perspectiva Pragmática Lingüística, haja vista que para ele, a contextualização do conhecimento possibilita um desenvolvimento satisfatório do ensino- aprendizagem.
Para tanto, o autor percorre a história dos estudos lingüísticos, remetendo-se os conceitos e contribuições da lingüística estrutural, para demonstrar a necessidade de estudar a língua, não mais como um sistema de convenções mas, como um objeto de natureza sócio-comunicativa.
Nesta perspectiva, a partir dos estudos de Benveniste sobre o conceito de enunciação, Cunha busca elucidar o processo comunicativo por meio de reflexões dos filósofos Austin, Searle e Grice acerca de teorias sobre as ações do discurso,as quais propõem explicar o ato comunicativo a partir das relações entre o sentido descritivo e o sentido pragmático.
Com base nessas relações, observa-se que o processo comunicativo, para ser verídico, perpassa por duas faces, considerando a inferência do ouvinte: as competências lingüísticas e as extralingüísticas. Reconhecida a importância dessas competências, formulou-se então, o Princípio de Cooperação o qual permitiu que Grice, baseando-se nas máximas de Kant estabelecesse categorias que apontam o pré-estabelecimento de prováveis "regras" intrínsecas aos sujeitos participantes do processo de comunicação no momento das situações conversacionais.
Essas contribuições foram cruciais para o aperfeiçoamento dos estudos lingüísticos efetuados por Ducrot com o intuito de entender a "forma e função" da linguagem em âmbito ordinário que ultrapassasse as sentenças frasais, considerando então, a linguagem como instrumento social de comunicação.
Partindo desse pressuposto, Cunha recorre a concepções enunciativas de sentido, estabelecidas pelos sujeitos constitutivos do processo de comunicação (enunciador e destinatário) a partir de sua intencionalidade conversacional. Utilizadas como "recursos" direcionadores do enunciado, essas concepções apresentam-se de forma pressupostas ou subentendidas (topos), com o intuito de direcionar de forma direta ou indireta o conteúdo do discurso.
Segundo o autor, para que seja alcançado o resultado objetivado pelo enunciador, é importante considerar, além das competências lingüísticas, os dados referentes ao contexto situacional em que ocorre a interação comunicativa.
Sobre esta interação, Ducrot estudou leis que explicam a significação de posição e sobreposição do enunciado na realização do ato enunciativo a partir do Princípio de Cooperação que considera a inferência do ouvinte no processo comunicativo. Considerando essa inferência, os sociólogos americanos Brow e Levinson, atribuem aos indivíduos duas faces discursivas (negativa e positiva). Essas "faces" permitem a compreensão de "mecanismos manipulatórios" tanto do locutor quanto do seu interlocutor para a auto-valorização do enunciado.
Toda essa discussão acerca dos elementos constitutivos do processo de comunicação, deve ser considerada pelo formador no momento do ensino-aprendizagem de línguas, por considerar que esta técnica de ensino facilita a assimilação de conteúdos, pois incorpora a teoria a realidade do alunado fazendo com que haja um envolvimento maior tanto do aluno com o conteúdo, quanto do aluno com o professor, ressaltando a importância de utilizar a normatização da língua, seja escrita ou oralmente, não como um emaranhado de léxicos pré- determinados por regras mas, como ferramenta social de fazer-se entender.