SEM MAIS OLHO NO OLHO

Por Marcos Guimarães Castello Branco | 13/07/2017 | Sociedade

Já faz muito tempo que importantes decisões da humanidade eram resolvidas no chamado “olho no olho”. Essa expressão denotava a importância de se resolver uma questão qualquer entre duas ou mais pessoas num encontro presencial onde cada uma das partes podia dizer diretamente o que pensava olhando para os demais presentes e tendo a capacidade de perceber as mais sutis reações das outras faces pelas expressões, gestos, tons e palavras. No mundo digital moderno, entretanto, é raro se observar pessoas se comunicando desta antiga forma, sejam em situações amenas ou emergenciais. As redes sociais e os smartphones vêm substituindo a comunicação humana por cliques e deslizes de dedos sobre telas touch-screen, provocando a quase total falta de interação humana em, praticamente, todos os ambientes privados e públicos da vida cotidiana. Nesta forma de comunicação, as partes não têm total percepção dos sentimentos e emoções que habitam as mentes de cada um de seus pares. Entretanto, parece valer a pena pelo maior volume de comentários e informações que recebemos de diversas partes sobre o que acabamos de expressar e num curto intervalo de tempo. Da mesma forma, parece ser possível filtrarmos e selecionarmos as opiniões e comentários que mais nos agradam, reforçando assim nosso ego e criando, automaticamente, um novo grupo de afinidades e aparentes amizades. Ao mesmo tempo, conseguimos nos blindar de represálias uma vez que, em casos de discordâncias, é rápida e fácil a exclusão da “amizade” ou mesmo a auto- exclusão de um determinado grupo com o qual não auferimos um mínimo grau de aceitação e de concordância de opiniões. A armadilha maior, entretanto, se encontra justamente na ausência do olho no olho, quando se conseguia perceber as claras intenções do interlocutor ao diferir determinado discurso, permitindo ponderações entre as partes e as devidas considerações do contexto e das emoções que talharam as ditas palavras. Mil amigos virtuais não valem mais que um único amigo real. Aquele presente nas melhores e piores horas, e que por vezes nos confortava com sua presença sem mesmo dizer uma palavra. As divergências de opinião eram profundamente debatidas e compreendidas pelos verdadeiros amigos reais, sendo que hoje são apenas descartadas pelos amigos virtuais. Que mundo verdadeiramente buscamos? Será que apenas nos importa estar cercados de “seguidores” fiéis para que nos sintamos, aparentemente, importantes, sem nos preocuparmos com as opiniões e discordâncias alheias ao nosso “grupo”? Será também que conseguiremos conduzir pacificamente nossos bairros, cidades, estados ou países, sem estarmos abertos a ouvir e tratar as opiniões diversas. A polarização freqüente em debates virtuais de temas de política, religião e comportamento humano, tem mostrado os perigosos rumos deste novo modelo de comunicação, onde se parece fácil e rápida a formação de grupos afins sem se dar conta que as opiniões radicalmente opostas às nossas também se consolidam em outros grupos dos quais não participamos e preferimos sequer tomar ciência de sua existência. Com o advento da comunicação entre máquinas e dispositivos (Internet das Coisas) um novo cenário se vislumbra num futuro próximo sobre o atual, onde grande parte das decisões humanas será gradativamente transferida para sistemas automatizados que estarão dotados de servidores conectados em nuvem com poderosos algoritmos de tomada de decisão, capazes de filtrar e processar um volume muito maior de dados e informações que a mente humana consegue tratar. Neste novo cenário, restará muito mais tempo livre para que os seres humanos se dediquem às atividades que de fato lhe dão prazer e também incrementar sua produtividade nas atividades profissionais que lhe restarem, uma vez que grande parte delas passará a ser executada pelas máquinas e sistemas de inteligência artificial. Resta agora saber se os seres humanos de fato caminham para um melhor ou pior relacionamento social, uma vez que somente as mentes humanas em pensamentos e ideais, coletivamente ajustadas e transformadas em ações, com ou sem a ajuda de máquinas inteligentes, conseguirão evoluir o planeta em benefício de sua própria raça.