SEGREDOS DA LUA

Por Marcelo Rissato | 08/05/2011 | Contos

SEGREDOS DA LUA

(Marcelo Rissato)

A madrugada chuvosa trazia consigo o som de seus pingos fortes caindo nos becos e ruas desertas da cidade de Joanópolis no interior de São Paulo. Nesta cidade contava-se a lenda de uma criatura noturna que rondava pelas noites, deixando todos amedrontados, porém era apenas uma lenda e não havia provas sobre a existência de tal criatura.
Era o ano de 1987 e naquela noite chuvosa e de lua cheia, da mansão de Carolina ouvia-se um barulho tenebroso e todos saíram acobardados. Parecia o sinal de que algo estava para acontecer naquela até então pacata cidadezinha.
A mansão onde vivia Carolina era muito antiga, com grandes muros a cercando. Na sala central havia um quadro com o desenho da mansão e do cemitério existente nos fundos, onde estavam enterrados alguns dos familiares do atual proprietário Gregório Menezes. As paredes escuras e úmidas, os arbustos acinzentados no jardim e o telhado sobreposto de densas camadas de poeira e folhas secas tornavam o casarão ainda mais sinistro. Lá residia Gregório Menezes o patriarca da família, Joyce Lopez Menezes - mulher comedida e apática com quem era casada, cuja flácida pele já se rendera às profundas rugas trazidas pelo tempo após viver décadas a fio subordinada aos mandos e vontades do marido - e seus quatro filhos: Genésio, Gabriel, Eva e Carolina.
Genésio era o mais velho, desapareceu após uma discussão de família motivada por seus desejos de tornar-se um grande comerciante, contrariados e veementemente combatidos por seu pai. Nenhum dos familiares sabia seu paradeiro. Sabiam tão somente que ele havia seguido rumo ao Ceará para trabalhar com a pesca na cidade de Fortaleza e as últimas notícias davam conta de que estaria morando na cidade de Maracanaú. Desde então, mais nada souberam.
Eva, a terceira filha, morava na Europa, onde fora estudar direito, pretendendo tornar-se uma grande advogada.
Carolina, a caçula, era mãe solteira e seu filho se chamava Gregório Rodrigo. Para todos, dizia que o pai da criança era portador de grave doença sem cura e havia morrido antes do garoto nascer.
Gabriel, segundo filho, era pessoa muito misteriosa, de pouca conversa sempre causou grande curiosidade em todos os familiares. Quase nada se sabia da vida do jovem, tão pouco que fazia parte de uma seita misteriosa em que, todas as quintas-feiras, reunia-se com um grupo de pessoas num sítio nas imediações da represa de Piracaia, onde passavam a noite em rituais sinistros.
Era uma quinta-feira, noite gélida, pavorosamente e silenciosa, os calendários marcavam 25 de junho de 1987 àquela data. Carolina foi ao cemitério nos fundos da mansão e ficou a observar uma enorme pedra, que jurava ter a impressão de não estar ali outrora, ao lado de um túmulo vazio. Sem entender bem o que sentia, deu vazão à forte angústia que lhe tomava o peito e ali chorou muito. Gabriel saía de casa naquele instante, observou a irmã no cemitério olhando intrigada a pedra e seguiu rumo à represa para encontrar os amigos.
No dia seguinte, a sexta-feira correu normal como todas as outras, sem grandes ruídos e movimentos. Durante a noite, no entanto, ao apagar das luzes, ouviu-se um agudo e reverberante uivo de lobo. Senhoras que nas imediações da mansão passavam faziam sinal da cruz agarradas a seus terços, incrédulas daquilo que julgavam ser um grito macabro vindo das profundezas do inferno, enquanto afagavam seus rebentos assustados a agarrarem a barra de suas vestes. No céu brilhava uma enorme lua cheia. Não havia nuvens; nem estrelas naquele céu negro.
Na manhã seguinte uma grande surpresa. Imensa tragédia se abateu na vila, os criados do casarão encontraram Gregório, Joyce, Carolina e o pequeno Greg estrangulados, como se tivessem sido atacados por um animal feroz. Os corpos estavam caídos aleatoriamente no vão da sala central, ensangüentados e ainda frescos como se podia ver nas carnes expostas, ou pelo menos o que restara após o violento ataque. Quando Gabriel chegou a casa, o caso já estava feito. Encontrou todos mortos, mas não manifestou quaisquer reações esperadas de alguém que acaba de perder toda a família. Sequer demonstrou tristeza, esteve frio, inabalável durante todo o tempo. Questionou à polícia o que poderia ter ocorrido naquele local, essa foi sua única atitude de preocupação, ou talvez apenas mera curiosidade fosse. Depois de feita a perícia, os corpos foram levados para biópsia. A conclusão foi de que as mortes foram causadas por um ataque animal, hipótese reforçada pelas marcas de mordidas encontradas nos corpos, no entanto sem nenhuma pista concreta o caso acabou sendo arquivado, dando margem ainda mais e reforçando os boatos sobre a existência da lenda de Joanópolis.
O sepultamento foi feito no cemitério dos fundos da mansão junto com os familiares residentes em cidades próximas. A tarde ardia sob o sol escaldante, enquanto Carolina era sepultada justamente no túmulo que, na noite anterior, ficara a observar ao lado daquela enorme pedra. Infeliz coincidência? Predestinação?
Enterrava-se ali, junto aos caixões de madeira nobre, a história de uma família até então considerada feliz. Restaram vivos a terceira filha do casal, Eva, que morava na Europa; Genésio, em algum local desconhecido por todos e Gabriel, que esteve fora da mansão na noite em que a tragédia ocorrera. A herança da família foi dividida entre os três irmãos, ficando sob guarda de Gabriel todos os bens da família até que Eva retornasse da Europa para empossar-se de sua parte da fortuna e Genésio retornasse, caso vivo ainda fosse.
1993
Os anos se arrastaram. Naquele 1993, Gabriel se encontrava morando sozinho naquela enorme casarão, onde construiu muitas passagens secretas, sempre com o auxílio do tio Rui Menezes, irmão de Gregório. Jamais se comentou com terceiros ou criados sobre a existência dos fundos falsos, das paredes movediças e das portas de aço revestidas pelo carpete para não serem percebidas. Os caminhos subterrâneos e os mistérios lá trancafiados eram secretamente conhecidos apenas pelos dois. Confiavam um no outro como se tivessem garantias de que o segredo permaneceria preservado, independente das circunstâncias.
Rui se interessava muito pela mansão e sempre manifestou o interesse em comprá-la, porém Gregório nunca fechou negócio, alegava não poder vender um patrimônio de família, que deveria ser passada de geração em geração.
2007
Por volta do ano 2007, apareceu na estagnada e falida Joanópolis um rapaz que se dizia chamar Rodrigo. Moreno, alto, aproximadamente 1,85 de altura, cabelos negros e olhos pretos como duas jabuticabas, aparentando uns 23 anos, afirmava ser recém formado em contabilidade pela Universidade de Ciências do Ceará. Chegou à mansão dos Menezes e solicitou falar com Gabriel. Disse-lhe ser filho de Genésio, recentemente falecido por infecção nos rins. De imediato sua história não convenceu, e nem poderia ser. Entretanto, Gabriel, ao conversar mais com o rapaz, deixava-se conduzir pelo tom firme com o qual falava. Apesar de muito novo, era enérgico, eloqüente, expressava-se com propriedade ou mesmo autoridade. Seus trejeitos secos e fortes remetiam à sua memória a imagem do irmão mais velho, sentiu-se por um instante ter regressado no tempo e via à sua frente Genésio, que sempre fora homem de fibra, audacioso. Gabriel já não sabia o quanto estava confuso, não percebia com clareza as coisas, mas via naquele rapaz os traços do irmão primogênito, a quem tanto admirou pelo ímpeto enquanto conviveram. Acabou aceitando e acolhendo Rodrigo.
Gabriel já alcançava os 45 anos, não se casara, dizia não ter encontrado mulher que oferecesse o que buscava. Sozinho, no entanto, também não estava. Mantinha há tempos caso com Marisa, uma mulher de pele alva, olhos fundos e inexpressivos, parecia sempre abatida. Carregava em si uma tristeza que nitidamente lhe pesava sobre os ombros, deixando-a esquivada sempre que punha de pé com suas muitas primaveras, por volta de 40; 45 talvez. Marisa residia há 6 anos numa casa ao lado à mansão, não menos sombria, destacava-se pelas galhadas ásperas e engrenadas postas ao jardim, de modo que da fachada da casa, via-se apenas uma porta escura, desgastada por onde poucos entraram e saíram desde a data que a mulher chegara à Joanópolis. De seu passado nada se sabia, sequer seu sobrenome foi revelado, nem mesmo pelas mais alcoviteiras beatas que tentaram, e mal-sucedidas foram nas investidas realizadas sobre Marisa.
Repentinamente, Gabriel resolveu casar-se com a misteriosa mulher, agilizou a papelada junto ao Cartório da cidade e quando mal se esperava, mudara-se para a casa da esposa, deixando sozinho na mansão, a qual tanto demonstrara apego outrora, o novo sobrinho: Rodrigo.
Certo dia Rodrigo foi aos fundos da mansão e visitou o túmulo de seus avós, de sua tia Carolina e de seu primo Gregório Rodrigo, leu atentamente os nomes, as datas de nascimentos e falecimentos e observou uma grande pedra que havia ao lado do túmulo de Carolina, que chamou muito a atenção.
Rodrigo já havia passado vários dias na mansão, no entanto não conseguia dormir durante toda a noite. Sentia muita insônia e se virava muito na cama sempre muito perturbado, até que numa certa noite de lua cheia, ao som do uivo de um lobo, sonhou com uma moça muito bela, sem saber ao certo de quem se tratava, apenas achava muito parecida com a imagem da foto de Carolina que vira no túmulo. A imagem não saía de sua cabeça, perseguia-o a todo momento.
1986
Era junho de 1986, em Joanópolis, antes de todas aquelas mortes acontecerem, lá estavam na mansão Gregório, a esposa Joyce, Gabriel, Carolina e Greg, como chamavam o pequeno Gregório Rodrigo. Jantavam todos, numa aparente felicidade. No alto do céu, a lua cheia iluminava soberana a bela noite, porém havia algo de diferente naquele brilho, parecia misterioso o astro que se mantinha imponente no firmamento. Quem poderia, no entanto, decifrar os segredos da lua?

Carolina, que dormia profundamente, sonhou com um rapaz que nunca havia visto antes e ficou preocupada, já que não sabia explicar de onde havia surgido aquela imagem. Disse ter visto em seu quarto, um rapaz com figura angelical, todo de branco que, enquanto sonhava, ficava a observá-la. Aquele anjo parecia querer lhe dizer algo, mas sumia sempre da mesma forma como aparecia, repentinamente.
Carolina contou à sua mãe sobre o sonho e dizendo ter ficado a imagem do rapaz gravada em sua mente.
2007
A mansão onde Rodrigo agora morava tornava-se a cada anoitecer mais sinistra e parecia esconder muitos mistérios. Certo dia estava via TV e uma reportagem chama a atenção dele e de Cássia, a criada. A matéria falava sobre uma quadrilha de assaltantes que se intitulavam de "Os Fantasmas". Eles assaltavam casas, mansões, joalherias e bancos e, em seguida, desapareciam da cena do crime como fantasmas, sem deixar pistas, sem deixar rastros. Os dois espectadores entreolharam-se e sentiram um leve arrepio, entretanto pouca importância deram ao mal-estar; convenceram-se, ou tentaram, de que a noite estava fria e, por isso, sentiram arrepios. Retiraram-se da sala, cumprimentaram-se e seguiram para seus aposentos. Curiosamente, nenhum dos dois, de fato foi para seus quartos. Vagaram um pouco pela casa até que se desfizeram os sons de passos sobre o assoalho. A madrugada rompia a noite, tornando-a perturbadoramente silenciosa.
Passadas algumas semanas, Eva retornou ao Brasil naquele 2007, sendo recepcionada por Rodrigo, a quem logo tratou de conhecer e tornar-se íntima, afinal era aquele um dos poucos parentes que lhe restaram em Joanópolis, desde a época da partida à Europa. Rodrigo a chamou para morarem juntos, no entanto, ela se recusou e preferiu uma casa mais simples, pois ficara bastante traumatizada depois das mortes trágicas de seus familiares lá ocorridas. Rodrigo conversou muito com sua tia e quis saber mais sobre o acontecido naquelas mortes. Depois de uma longa conversa, Eva narrou tudo exatamente como havia chegado a seus ouvidos ainda lá, no velho continente, e estava certa de que, estando na mansão naquela fatídica noite, teria sido um corpo vítima no crime.
1986
Dias após o primeiro contato, Carolina sonhou novamente com Rodrigo e o mesmo aconteceu com ele, num futuro próximo, mas distante o suficiente para mantê-los afastados. No sonho, por alguns minutos, eles conversaram e no outro dia, Carolina contou o que aconteceu para Lena, uma das empregadas de sua casa. A empregada não acreditou, mas ouviu tudo, pois a considerava uma grande amiga.
2007
Numa certa noite, Rodrigo jantava sozinho em sua casa e Cássia permanecia em pé próxima à mesa arrumando os talheres prateados. Ouviram passos, cogitaram ser um ladrão. Cássia foi ao quarto de onde saiu o barulho, mas nada encontrou, depois voltou para a mesa e Rodrigo não estava lá, havia sumido. Cássia chamou pelo patrão repetidamente. Em vão. Na parede da sala de jantar, uma cabeça de urso observava tudo o que acontecia; seus olhos pareciam estar vivos. Na mesma parede, ao lado da cabeça de urso, estava o quadro da mansão com o cemitério e no quadro uma das sepulturas espantosamente encontrava-se aberta. Cássia tornara a sentir arrepios quando vê uma sombra aproximar-se. Instantaneamente grita esbaforida até que Rodrigo a detém, pondo a mão em sua boca. O jovem entrara suavemente pelos fundos e disse à criada que vira um vulto passar pela cozinha enquanto ela vistoriava o quarto, tentou perseguir a imagem, mas nada encontrou fora do casarão. Cássia ameaçou chorar, seus nervos estavam por explodir, sentia-se ameaçada e desprotegida. Observou que Rodrigo estava muito pálido, suado, com as mãos frias e os lábios bastante arroxeados. Reparou nas mãos dele, viu vestígios de terra, mas apavorada diante do susto pelo qual passara, apenas baixou os olhos e rapidamente seguiu para quarto, um cuja porta passou trancas, escorando-a com o banquinho da penteadeira que utilizava para escovar os cabelos longos sempre antes de deitar.
Aproximava-se uma tempestade, Rodrigo também se recolheu, após vagar um pouco mais pelos cômodos da casa. Adormeceu e sonhou novamente com Carolina. Durante o sonho conversaram muito e descobriram que estavam se relacionando em épocas diferentes. De imediato, ficaram um pouco assustados, uma vez que sempre estavam dentro do quarto, que na verdade em 2007 era de Rodrigo e em 1986 era de Carolina. Suas imagens eram transparentes, como se fossem fantasmas. Carolina que, para ele, estava no passado, queria muito saber o que havia acontecido com ela no futuro, porém o rapaz não quis contar sobre as mortes que iriam acontecer na metade do ano de 1987. Rodrigo acreditou que poderia fazer algo para mudar aquela tragédia, mudar o triste fim que aquela família teve e resolveu não contar nada sobre o ocorrido e dar tempo ao tempo para ver o que poderia ser feito.
1986
No outro dia Carolina contou a Lena sobre Rodrigo e disse que estava cada vez mais apaixonada por ele, no entanto não sabia como isso poderia acabar, questionava ainda com a amiga como esse contato poderia estar acontecendo. Estaria ficando louca?
2007
Cássia, a empregada de Rodrigo morava na mansão. Numa certa noite, se levantou, foi para a cozinha tomar água e ao passar pela sala central, observou o quadro da mansão e no cemitério uma das sepulturas estava aberta, limpou os olhos, olhou novamente e não estava vendo coisas, a sepultura realmente estava aberta, depois ouviu passos fortes e rápidos pela casa e saiu alarmada, deixando caído sobre o tapete persa o copo com água que sequer chegara a provar. Dirigiu-se ao quarto de Rodrigo, entrou esbaforida no cômodo e, para sua surpresa, a cama estava vazia. Tomada pelo pavor, correu para fora da casa e, ao passar pela sala, toma outro grande susto. Encontra o patrão de pijamas entrando em casa, novamente pelos fundos, limpando as mãos em tufos de estopa. A pobre empregada já não sentia o sangue circular pelas veias. Nervoso, Rodrigo disse ter sentido falta de ar e resolveu respirar um pouco fora do casarão, nem mesmo ouviu Cássia falar sobre os passos ouvidos dentro da casa. Retirou-se silencioso. Estava ofegante naquele momento. A lua estava imensa no céu e brilhava como jamais tinha se visto, parecia mais próxima a Terra.
Na manhã seguinte, a população estava em polvorosa. A polícia dava conta da morte de uma mulher nas imediações da mansão dos Menezes, havia em seu corpo sinais de estrangulamento e marcas profundas que pareciam ser de mordidas de um animal feroz. Depôs naquela mesma manhã o senhor porteiro da escola municipal. Afirmou ter visto passar pela rua lateral minutos antes da hora do crime, com acesso à esquina onde fora encontrado o corpo da vítima, um homem meio curvado, era peludo, parecido com um lobo.
Na sala de jantar da mansão, de onde se ouvia o burburinho dos curiosos próximos à delegacia ansiosos por novidades sobre o caso, Rodrigo sentado à mesa dava ouvidos à tagarelice de Cássia, ainda exaltada com os últimos acontecimentos. Seus olhos voltaram-se para o quadro na sala central, observou todas as sepulturas fechadas, permaneceu olhando fixo para a tela, respirou profundamente e retornou a dar atenção à criada, que ainda falava ininterruptamente, sem dar trégua aos próprios pulmões.
Os relógios soavam à meia-noite anunciando a chegada de novo dia. Na mansão dos Menezes tudo parecia calmo, até que um vulto aproximou-se da porta de um dos quartos aos fundos da casa, um cômodo vazio no qual havia apenas uma bela e antiga aquarela. A sombra misteriosa trazia amarrado junto ao cós uma trouxa volumosa e aparentemente pesada, adentrou o quarto cautelosamente, trancou a porta e de lá saiu cerca de meia hora depois sem o embrulho que carregara consigo ao entrar. Com incrível discrição e sem deixar rastros, tratou de sumir por entre os vãos escuros do casarão.
Na manhã seguinte, o inspetor de polícia, no decorrer das investigações, achava muito estranha aquelas mortes nas imediações em condições semelhantes às apresentadas nas mortes da família Menezes, tantos anos antes. O homem fez uma visita a Rodrigo para tentar descobrir algo sobre o assassinato, mas do rapaz não conseguiu extrair nada, vistoriou a casa, entretanto nada de relevante encontrou. Antes de ir-se embora, o investigador se aproximou de um console de mogno situado na sala de jantar, agachou-se e pegou um pequeno objeto que coíbe em sua mão, pondo-o no bolso do colete.
A lua parecia observar tudo o que acontecia, brilhava no céu e iluminava aquele fim de noite fresco. Rodrigo e Cássia se recolheram cedo, deixando a casa tomada por um tenebroso silêncio. No cemitério dos fundos, um movimento sobre as secas folhas provocou ruídos que ecoaram pela casa. Uma forte ventania tratou de arranhar as janelas de vidro num grunhido agudo e horripilante. Cássia despertara com a inquietação da noite, foi à cozinha buscar um punhado d?água, mas para sua surpresa não estava sozinha. Deparou-se com um ser meio homem, meio bicho, com muitos pêlos nas mãos e face, de olhos vermelhos e dentes afiados como navalhas. A moça não acreditava no que via, seu coração parecia parar, a pulsação caía aceleradamente, ao olhar bem para o rosto da criatura medonha gritou alarmada. Não foi o suficiente para espantá-lo; foi violentamente atacada. Teve as carnes do pescoço devoradas, ficando expostas as cartilagens e ossos embebidos do sangue espalhado em volta do corpo. Os gritos alcançaram longa distância e minutos depois do ocorrido os policiais entram abruptamente na mansão onde vêem a cena do corpo estendido no chão sendo segurado por Rodrigo, nitidamente assustado e temeroso. Ele a segurava no pescoço, apoiando-se com um dos joelhos entre as pernas de sua ex-criada. Interrogado sobre o fato, Rodrigo contou ter ouvido os gritos, foi averiguar o que passava em sua casa e, ao ver a jovem arquejando tentou socorrê-la, mas que sua tentativa tinha sido em vão e ela acabou morta em seus braços, sujando-o todo de sangue.
A polícia investigava a morte de Cássia e cada vez mais desconfiava que Rodrigo poderia ser um "Serial Killer", que eliminava as pessoas que descobriam algo sobre ele. Um forasteiro sobre quem pouco se sabia poderia ter chegado à cidade com quaisquer propósitos, mesmo os mais macabros e inesperados. A polícia suspeitava ainda que Rodrigo pudesse ser o chefe da quadrilha dos Fantasmas, já que a desconfiança começou no dia em que encontrou aquele anel no chão de sua sala, anel esse que foi roubado de uma tradicional família moradora de Joanópolis. A polícia começou a colher dados para colocá-lo na cadeia.
Contados seis dias da morte de Cássia, Os Fantasmas assaltaram uma joalheria no centro da cidade de Bragança Paulista e combinaram um local para repassarem as jóias para o chefe da quadrilha. Quem foi receptar as jóias, foi uma mulher, chamada Clotilde e o local marcado, um beco próximo à região das mansões, por ser um local isolado.
Era uma daquelas noites de lua cheia e do cemitério saía o bicho, meio lobo, meio homem que seguiu andando em duas patas pelas ruas escuras daqueles becos a procura de mais uma vítima, quando encontrou Clotilde que havia acabado de receber as jóias dos bandidos. O animal a atacou e ela saiu em disparada dando gritos lancinantes. Em dado momento, certa de que escaparia, Clotilde arremessa o pacote com as jóias para o alto, deixando-o cair no jardim dos Menezes.
A polícia que fazia rondas com freqüência naquela região presenciou a cena e ao mexer no saco com as jóias encontrado nos jardins do casarão, achou um bilhete dos Fantasmas dirigido ao chefe da quadrilha e acabou prendendo Rodrigo como suspeito principal de ser o líder do bando de assaltantes. Após a prisão, a polícia fez uma busca na mansão e encontrou as roupas sujas de sangue da ocasião em que ele afirma ter tentado socorrer Cássia.
Eva impetrou um "habeas-corpus" e conseguiu com que seu sobrinho respondesse o processo em liberdade, contudo o rapaz não poderia sair da cidade em hipótese alguma, caso não cumprisse, seria detido sem fiança.
Chegou o dia do julgamento de Rodrigo e na primeira instância quase acabou condenado, se não fosse a excelente defesa de Eva, no entanto, foi marcado um novo julgamento, no qual nem mesmo ela teria certeza de sua absolvição, uma vez que todos os indícios apontavam contra ele.
Certa tarde, Rodrigo andava pelas ruas da pacata cidade muito triste, preocupado e sem muitas esperanças, já que no outro dia ocorreria a nova audiência, quando de repente deparou com uma moça parecida com Carolina caminhando numa das praças próximas à Capela de Santa Efigênia, padroeira de Joanópolis. Foi na sua direção, porém ela sumiu como num passe de mágica, ao passar por trás de um arvoredo que dava sombra ao pátio da Escola Municipal.
À noite em sua casa, Rodrigo adormeceu. Temia ser a última vez a dormir naquelas acomodações, poderia estar no dia seguinte, condenado a viver trancafiado numa sela por anos e anos a fio. Uma enorme lua brilhou no céu e em seu quarto apareceu uma figura parecida com um anjo que o observava dormindo. Rodrigo começou a se revirar na cama. Sua cabeça rodava e seu corpo parecia girar no ar, de repente apareceu um redemoinho, que o sugou, fazendo-o cair dentro até desaparecer totalmente.
1986
Amanheceu. O rapaz apareceu meio zonzo na frente de sua casa e ficou um pouco assustado, já que tudo estava diferente, a começar pelas casas, carros antigos e as pessoas com roupas diferentes e quando olhou para seu corpo, percebeu que estava andando pelas ruas de pijama. Perguntou a um garotinho que passava em que ano estavam? O garoto lhe respondeu que estavam em 1986. Ao ouvir, foi um tremendo choque, uma vez que descobriu que por algum mistério viajou no tempo e foi parar na época em que vivia sua amada Carolina.
Rodrigo esperou uma oportunidade e acabou se encontrando com Carolina, com quem tinha marcado pelos sonhos um encontro justamente naquela manhã. Rodrigo foi acolhido na casa de Edílson, o noivo de sua empregada Lena e todos na verdade não entendiam que mistério acontecia para que se desse a tal viagem no tempo.
Carolina se encontrava todos os dias com Rodrigo até que resolveu apresentá-lo a sua família como seu namorado. Ao entrar na mansão, Rodrigo andou por todo lado e nos fundos visitou o cemitério, no entanto só encontrou as sepulturas dos avós maternos de Carolina e durante alguns minutos observou uma grande pedra e se lembrou que no futuro estava bem ao lado da sepultura de sua amada, passou a mão sobre ela e de seus olhos saíram algumas lágrimas que aguçou a curiosidade de Carolina, contudo ele não revelou o motivo de tanta emoção, depois se retirou daquele lugar. Carolina queria saber o que aconteceu com ela no futuro, já que ele vivia em 2007, por que não a encontrou, e se a encontrou, o que aconteceu com a história de amor deles? O rapaz desconversou e disse que nunca soube de seu paradeiro no futuro.
2007
Em 2007, chegava o dia do julgamento de Rodrigo que não compareceu, uma vez que desapareceu como por encanto. Foi mobilizada toda a polícia para tentar capturá-lo novamente, porém tudo foi em vão e nem mesmo suas roupas ou passaporte desapareceram, deixando a polícia de mãos atadas.
Mesmo depois do desaparecimento do rapaz, as pessoas continuavam a ser atacadas e as mortas tornavam-se cada dia mais numerosas. Havia denúncias de pessoas que viram um lobisomem rondando a cidade. A idéia de imediato era absurda, no entanto acabou aceita como verdadeira e a polícia reforçava mais e mais sua suspeição de que Rodrigo fosse o ser que virava lobisomem e que após seu desaparecimento devia ter se escondido em algum lugar mais seguro, fazendo visitas freqüentes ao cemitério.
1986
Rodrigo e Carolina estavam cada vez mais apaixonados, porém um medo pairava pelo ar, o do dia em que voltaria para o futuro. A dúvida era de quando se daria isso, até que um dia Carolina lhe revelou estar grávida. Foi um choque e pensavam em se casar, mas como seria possível se a qualquer tempo poderiam estar separados pela misteriosa viagem no tempo. Enquanto isso, secretamente Rodrigo resolveu investigar as escondidas o motivo das mortes daquela família que iriam acontecer no próximo ano. Rodrigo seguiu Gabriel até as margens da represa de Piracaia, na mesma noite em que Gabriel vira Carolina angustiada a observar a pedra próxima ao túmulo vazio. Presenciou uma reunião da seita em que um dos integrantes se transformava num lobisomem e desaparecia pela mata. Muito assustado Rodrigo retornava para a casa de Edílson onde estava hospedado e começava a ligar os fatos desconfiando que as mortes fossem causadas por um daqueles animais ou até mesmo por Gabriel que devia ser um deles. Poderia ser a prova de que Rodrigo precisava para mostrar que nada teve com os assassinatos de Cássia e Clotilde.
Eva que morava na Europa estava para chegar no sábado próximo e Rodrigo ao saber de sua vinda acreditava que se ela o visse no passado, no futuro entenderia toda a história, já que sendo sua advogada poderia criar sua defesa sabendo exatamente o que aconteceu.
Naquela mesma noite que antecedia a chegada de Eva da Europa, noite aquela que havia tirado suas conclusões sobre as mortes ocorrida no futuro relacionadas a seita que Gabriel participava, o moço fora transportado ao "presente", acordando deitado sobre sua cama e bastante atordoado.
Carolina se desesperou após o desaparecimento do amado e contou a sua família sobre a gravidez dizendo que Rodrigo era portador de uma doença sem cura e que havia morrido há semanas. Seus pais no início manifestaram certa resistência, no entanto, depois acabam aceitando a chegada do neto, que após o nascimento passou a se chamar Gregório Rodrigo, homenagem feita por Carolina a seu pai e ao seu amado.
2007
Após seu retorno, Rodrigo ficou sabendo que a polícia estava a sua procura. Encontrou-se com Eva, pediu abrigo e contou tudo o que aconteceu, inclusive sobre a seita da qual Gabriel participava e sobre ter visto um dos integrantes se transformando em um lobisomem. Em princípio, Eva não acreditou, achava ser um devaneio do sobrinho abalado com todas as circunstâncias envolvidas no seu julgamento. Contudo, ficou preocupada, pois ainda da Europa em 1987, ficara sabendo que o noivo de Carolina realmente se chamava Rodrigo e havia morrido acometido por um mal pouco conhecido e para o qual não havia cura e ainda lembrou que ele desapareceu pouco antes de sua chegada da Europa em 1987. Achou toda a história muito estranha e com muitas coincidências, resolveu procurar Marisa, a esposa de Gabriel, e sem dar muitas explicações, disse que seu marido poderia ser um assassino ou até mesmo ser um lobisomem. Marisa demonstrou pouco interesse sobre os alertas de Eva, permanecendo taciturna, distante, indiferente durante toda a visita da cunhada.
Rodrigo e Eva juntos resolveram procurar a casa de Lena, antiga empregada dos Menezes, e tentar esclarecer algo sobre história, mas para grande surpresa, ao chegarem se depararam com um velório de uma senhora na pobre casa. Ao perguntarem sobre Edílson, uma das pessoas ali presentes informou que ele havia morrido há três anos. Dentro do caixão repousava o corpo de Lena, estava serena, sua expressão transbordava candura e tranqüilidade, até parecia sorrir e talvez estivesse, aproximando-se de Deus após grande sofrimento pelo qual passara depois da tragédia na mansão dos Menezes, onde trabalhou árdua e dedicadamente por 28 longos anos, ficando sem emprego e entregue à miséria, a mercê das vontades do destino. Rodrigo e Eva lamentaram bastante, tanto pela perda de um ente que fizera parte da história de seus antecessores, bem como a perda de um elemento chave que poderia esclarecer todo o mistério cujas respostas buscavam.
Para a polícia de Joanópolis, Rodrigo continuava como o principal suspeito de ser o chefe dos Fantasmas. Armou uma emboscada na tentativa de atraí-lo, divulgou pela imprensa local que estava para chegar da Espanha algumas relíquias sacras e uma imagem de São João Batista coberta de diamantes que ficaria por dois dias exposta na Igreja Matriz de São João Batista na praça central da cidade. Os Fantasmas, ao tomarem conhecimento da notícia, como se esperava armaram um plano, mas foram mal-sucedidos. Foram pegos em flagrante e ao deporem, não denunciaram o chefe da quadrilha, dizendo não saber quem realmente ele era, já que os contatos eram feitos através de Clotilde, morta assassinada pelo maníaco de Joanópolis. A polícia continuava desconfiando de Rodrigo, uma vez que achava que ele teria matado a mulher após ela ter arremessado as jóias ao jardim do casarão e executado sua parte no plano. Julgavam que o suspeito tivesse praticado uma queima de arquivo.
Em meio à grande confusão na sala do delegado, tocou o telefone. A autoridade buscou o aparelho sobre a mesa em constante desordem e o atendeu. Uma voz rouca, distante e trêmula disse que o verdadeiro chefe da quadrilha estava nas proximidades, escondido em sua própria casa, a mansão onde hoje morava Rodrigo. Afirmou ainda que a maior prova de quem era o líder dos Fantasmas já era conhecida, não por todos, mas sim pelo delegado, que espantou-se diante da afirmação. Como poderia alguém saber que ele possuía uma prova, que considerava cabal, para acusar o criminoso?
Reuniu a guarda, entrou na viatura e segui para o casarão. Recebida a denúncia, armaram um cerco envolto à mansão. Eram 5 da tarde, a polícia invadiu a residência, mas ninguém encontrou após a revista. Ao término das buscas, já caíra a noite e, por trás das serras longínquas, havia nascido uma lua cheia, redonda, majestosa. Curiosos já se amontoavam por trás das fitas de isolamento policial, supunham coisas, especulavam, quando em meio à confusão, numa tentativa desesperada de fuga, saiu do cemitério a figura do lobisomem. Estava acuado, assustado, caminhou expondo as enormes garras e rangendo com força os dentes em direção à pequena multidão. O tumulto estava instalado, gritos, correria, desmaios, pessoas foram pisoteadas até que num certeiro disparo um dos policiais acertou em cheio o bicho. Caído no chão, o monstro voltou sua forma normal, surpreendendo todos após tomar novamente a fisionomia de Gabriel. Tudo parecia esclarecido agora. Gabriel Menezes matara tantas pessoas, inclusive seus genitores, tornando-se, enquanto herdeiro, num dos homens mais ricos da região. Foram vitimadas também Clotilde, Cássia e as outras dezenas de infelizes que cruzaram o caminho da aberração.
Esclarecido o mistério das mortes, restava ainda revelar quem seria o chefe da temida quadrilha de Fantasmas. Após tomar conhecimento das revelações, Rodrigo dirige-se à delegacia acompanhada de Eva, a tia advogada, a fim de resolver sua situação, uma vez que se livrara das suspeitas com a descoberta da verdade na morte de Gabriel. O delegado informou-o de que sobre ele ainda pesava uma acusação. Após ter recebido de Clotilde as jóias no jardim, antes da morte dela, a autoridade pôs a mão no bolso, trazendo de lá acompanhada de um anel com um imenso brilhante cravado na base dourada. Era aquele o objeto que encontrara próximo ao console na noite da primeira busca. Questionado sobre a relíquia, Rodrigo defendeu-se, dizendo jamais ter visto aquele anel antes. Eva interveio, afirmou conhecer a origem do anel. Havia pertencido à seu pai, o nobre Gregório de Menezes, solicitou que verificassem no inventário deixado pelo pai para comprovar estar aquela jóia dentre os bens deixados para Gabriel pelo patriarca. E assim foi atestado.
Sem mais provas ou testemunhas, com os indícios apontando para que o lobisomem fosse também o cabeça dos Fantasmas, como já suspeitava o inspetor, deu-se por encerrado o caso e o inquérito foi arquivado. Passada a tensão, radiante pelo esclarecimento dos fatos, Rodrigo e Eva saíram da delegacia e retornaram à casa da advogada para repousar e se recomporem diante de tantas novidades e revelações. Ao longe, Rui ? o Tio ? observava o movimento. Parecia satisfeito, sorria discretamente, com um ar vitorioso. Rui procurou naquela noite ainda Rodrigo e Eva, propondo-lhe que vendesse o casarão.
Rodrigo nada mais havia a fazer naquela cidade, fecharam negócio e transferiram a propriedade da mansão.
Rodrigo ao adormecer em sua última noite naquela mansão que parecia assustadora e ao mesmo tempo trazia boas lembranças do romance com Carolina. Como de costume, o rapaz revirava-se na cama, porém não conseguia cair em sono profundo. Fechou os olhos por um instante e próximo a sua cama apareceu o anjo, dizendo que ele poderia se comunicar com Carolina uma vez mais, a última.
2008 - 1987
Nessa altura dos acontecimentos, no presente a época era 2008 e no passado 1987. Rodrigo se emocionou ao ver o rosto de Carolina, sabia que seria a última vez. Sua vontade era de abraçá-la, beijá-la e nunca mais se separar de sua amada, no entanto o destino que ao mesmo tempo os uniu, agora ia separá-los. Rodrigo disse a Carolina que a amava muito e que nunca a esqueceria. Carolina contou que nesse tempo que ficaram sem se comunicar, teve um bebê e o batizou de Gregório Rodrigo, em homenagem a ele e seu pai. Ela pediu para que ele fosse no dia seguinte ao cemitério da mansão e observasse aquela enorme pedra que havia por entre os túmulos e que por algum motivo qualquer havia extraído lágrimas no dia de sua visita.
Amanheceu. Rodrigo foi ao cemitério e observou a pedra, leu o epitáfio que assim dizia: "Te amo para toda a eternidade", assinado: "Carolina". Abaixo a data já rasa na lápide marcava: "25 de junho de 1987".
No outro dia, Rodrigo acessou a internet e conheceu uma jovem na qual conversaram durante algum tempo, que era chamada de Renata. A grande surpresa veio quando ela disse que era de Fortaleza e que estaria em São Paulo retornando para sua cidade na terça-feira seguinte. Rodrigo deixou a mansão e marcou também para próxima terça-feira, o retorno para sua terra.
Rui assumia o casarão como sempre sonhou após Rodrigo deixar a casa e ficar hospedado na residência de sua tia Eva aguardando a terça-feira que antecedia seu retorno para Fortaleza. Realizado, aquele que tanto almejou aquele momento, entrou numa das passagens secretas da mansão, da qual era agora proprietário, e começou a remexer nas jóias que ele mesmo havia guardado fruto dos inúmeros e mirabolantes assaltos que planejara enquanto o líder do bando. Agora era um homem livre, afinal o caso já estava arquivado. Brindou a si mesmo pela idéia de plantar de maneira premeditada o anel de Gabriel no casarão, para que sobre ele recaíssem as acusações dos furtos. Milionário, distante das suspeitas poderia manter a sua identidade secreta como chefe da quadrilha dos Fantasmas. Ao lado de Marisa, a quem chamava de Feiticeira, sua maior e mais fiel cúmplice, comemoravam a doce vitória regada a champanha. Sentados no sofá da sala, de costas para o quadro que tinha naquele momento duas sepulturas abertas, sorriam. Ali seria o bom refúgio do crime, o mais seguro cofre, a sua grande e mal-assombrada fortaleza.
A terça-feira chegava, o dia 30 de junho exaltava no calendário e Rodrigo ansioso para o embarque. Estava de retorno para o lugar onde nasceu e viveu durante muito tempo. Ao embarcar na aeronave, aquela linda jovem chamada Renata o esperava, sentou-se ao seu lado e sorriu. A fisionomia lembrava muito a imagem de Carolina. Aquela data 30 de junho de 2008 ficaria marcada para sempre como uma espécie de renascimento. Estava rumando a uma nova vida. Os olhares se encontraram, Rodrigo sorriu para Renata e seguiram rumo a uma história que estava apenas começando, lá onde Rodrigo seria feliz, em sua Fortaleza.


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