Se quiserem mudar a página, precisarão muito fazer até terminar de movê-la!

Por Victor Teixeira | 03/05/2016 | Política

A questão da luta contra os terroristas do Estado Islâmico vem tendo o envolvimento dos Estados Unidos com base em posturas antagônicas. Subordinados de Barack Obama fornecem com uma mão amparo à segurança do povo turco ao recusar suporte a movimentos curdos no combate ao Daash, ao mesmo tempo que com a outra retiram dos civis sírios fundamental direito a resguardo quanto aos riscos de suas operações.

Uma reunião entre membros do Senado estadounidense demonstrou a chegada do país a entendimento cobiçado pela Turquia quanto ao significado da assistência aos movimentos curdos YPG e PYD no enfrentamento ao Estado Islâmico em terras sírias. Os sinais de que teriam aderido à visão turca de vínculos entre os grupos e outro com semelhantes interesses em nome dos quais se dedica ao terrorismo, o PKK, surgiram semanas antes numa visita do Senador Lindsey Graham à cidade de Gaziantep, na Turquia, ocasião em que previu consequências negativas a provirem da aliança com as forças.

Graham listou como impecilho ao emprego da mão-de-obra local para debelar o EI deficitários estímulos de outros aliados para que os ajuntamentos curdos atinjam a hoje mundialmente mais temida organização extremista num dos pontos onde mais a impactem ocupando um importante reduto seu, a cidade síria de Raqqa, e sua proximidade à fronteira com a Turquia. A predominância dos incentivos no lado incorreto – a opressão do governo turco ao povo que os combatentes dizem representar –, mais do que já era segundo o PKK mostrou até recentemente em suas agressões ao público civil, torna fértil o terreno dos conflitos. E o risco de o enredo caminhar por este rumo vem em um dos momentos menos convenientes por ser ele de crise orçamentária e queda nos recrutamentos pelo ISIS, resultando no gasto improfícuo de recursos materiais e vidas humanas entre as fileiras curdas e a massa inocente.

O enfrentamento aos fundamentalistas em tal contexto lhes infligirá o equivalente à contaminação de um organismo com um dos três vírus agora abrigados no Aedes aegypti, uma debilidade da qual muito se consegue escapar, apesar de altos os índices de mortes ou invalidez crônica, esta oriunda das prolongadas dores articulares que acometem vítimas do patógeno chikungunya. Tendo como pano de fundo a corrida presidencial nos Estados Unidos, ganha respaldo a advertência de Graham sobre o risco de a estratégia somente atenuar o problema e deixá-lo a quem suceder Obama. Não dá mais para os EUA prolongarem desnecessariamente suas intervenções políticas, passando de solução para estorvo aos países contemplados, a exemplo das ocupações militares no Iraque e no Afeganistão herdadas por Obama da gestão George W. Bush e, como melhor exemplo a Guerra do Vietnã, pedra que por cerca de vinte anos transitou entre os sapatos de cinco presidentes.

A inimizade entre o correr do tempo e os direitos dos setores sociais na lida com cujas tensões os EUA oferecem uma mão amiga (?) confirma-se agora nas operações anti-Daash, podendo abranger outras, com o abrandamento na cautela com alvos de bombardeios aéreos onde haja rebeldes e inocentes aprovado pela Casa Branca e a pretensão de Obama de permitir no próximo ano um aumento nas tropas no Iraque. Até estas propostas contabiliza-se em 26 o conjunto de vidas ceifadas que mais eram vítimas dos terroristas nos campos de batalha desde 2014, início das operações estadounidenses que dispunham de força tecnológica em matéria de bens e métodos. O valor do alvo e o quanto as vantagens das ofensivas compensarem as baixas culposas são critérios que impõem ambíguas justificativas aos ataques quando comparadas por Obama ao sucesso por ele apontado na operação que há cinco anos matou Bim Laden e parentes fugindo ao dever de se julgar a principal vítima requerido para que fosse real a justiça feita ao mundo com o encontro deste criminoso. Completa os presentes do líder desta grande potência ao futuro guia o custo (mais que material) de suposto revigoramento da presença militar estadounidense no Iraque utilizando-se de soldados com poucos recursos defensivos. 

Os Estados Unidos, na óptica da análise feita por seu secretário de Defesa Ashton Carter, dão pistas de agora compreenderem as incongruências entre a "ingenuidade e ideias" nacionais limitadoras e as particularidades econômicas, sociais e políticas pelo mundo graças às quais o empenho anti-EI estaria tendo pouca expressão. O pensável abandono do suprimento de uma organização representante de uma minoria ao perceber sua relação com grupo similar, mas promotor de luta pela comum causa por meios arbitrários, ainda não faz tanto eco frente a passados episódios em que tomou parte de crises em muitas nações apoiando movimentos políticos e militares que inflavam as desordens, ainda mais quando tomavam o lugar dos rivais na gerência das comunidades.