SE ERRAR, APRENDO; SE ACERTAR, ENSINO

Por sebastião maciel costa | 21/07/2023 | Educação

Se errar, aprendo; se acertar, ensino.

       Um grande fazendeiro, de um certo país distante, sofrendo de uma doença mortal, estava deitado sobre algumas almofadas em um sofá da sua abastada sede  da casa grande. Ali, se  desfrutava de momentos de grande fartura entre os seus parentes e amigos, principalmente aqueles que, de modo calculadamente interesseiros procuravam agradar àquele senhor de engenho. Evidente que médicos da região já tinham sido consultados e trazidos a sua presença sem muito sucesso. O quadro só se agravava. Um velho trabalhador de uma fazenda vizinha foi informado do quadro agravado e, como tinha uma vasta experiência com ervas e chás para os seus conhecidos, comentou que já tinha cruzado com o rico fazendeiro em alguns eventos  na sede da vila próxima e que não via nele sinais de um homem mau, não sentia por ele nenhuma admiração, mas qualquer ser humano merece ser socorrido em suas necessidades.. Ele pouco poderia fazer imaginando que vários médicos de renome já o haviam atendido, sem bons resultados. Era o final da linha, para aquele homem a quem nada falta, a quem nada basta.  Era, de fato, um castigo, já que para o rico fazendeiro, a lógica seria “aos pobres tudo falta e aos ricos nada basta”.

       Mesmo assim, conversando com um ouro ancião não tão bom com as “rezas” ele ousou sugerir: só o que vai curar esse doente será ele colocar sob suas costas a camisa de um homem verdadeiramente feliz. Mesmo nos tempos de comunicações mais rudimentares, essa prosa do velho “benzedor” chegou aos ouvidos dos filhos do fazendeiro eu enviou mensageiros buscando em toda a região, um homem feliz. Mas cada pessoa por eles interrogada nada expressava senão tristeza e preocupações. Esgotando-se todas as esperanças, os mensageiros encontram um pastor que ria e cantava enquanto observava seu rebanho. Seria aquele pobre homem, um homem feliz, pelo simples fato de estar a sorrir? E se aproximaram do homem e perguntaram se ele era feliz. Sua resposta foi simples: Não posso imaginar alguém mais feliz que eu, disse o pastor rindo-se. Então, vamos salvar um amigo que precisa de sua ajuda, na verdade, ele precisa de uma camisa sua. Eu não tenho nenhuma camisa!.

       Desolados, voltaram e contaram ao fazendeiro a malfadada busca. Como alguém que não tem sequer, uma camisa, pode ser feliz? Refletia o fazendeiro. Eu tenho tudo o que preciso, e quero mais. Quem pode ser feliz se ter nada? Afinal de que precisamos para ser feliz? Terei que distribuir todo o que tenho para fazer os outros felizes? Preciso encontrar como fazer para que as pessoas sejam felizes. E pelo impacto desse questionamento e pela firmeza dos seus propósitos sinceros o velho fazendeiro considerado um quadro terminal animou-se, movimentou-se, tentou levantar, pediu ajuda, pediu água e tomou, respirou fundo, passou a mão na testa e começou a fazer planos de que ações poderiam ser oportunas para o seu propósito: fazer alguém feliz.

       tempos tão obtusos na preservação e transmissão de valores para as novas gerações até por conta de tanta novidade é reflexivo: como ser feliz hoje? Talvez por conta do  esvaziamento de atitudes enobrecedoras que vêm entrando em choque com os modismos, ideologias, por serem esses mais fugazes e criados em ambientes favoráveis ao “não sabia o que fazer, fui lá e fiz”, urge que reflitamos sobre o que é ser feliz diante de tantos desafios.

       Retomando o foco dos problemas enfrentados hoje, por famílias, escolas, igrejas e tantas outras instâncias que compõem a ideia formativa de valores para assegurar êxito no futuro, um rol de atitudes e comportamento pode ir a ser estabelecido a fim de garantir melhores horizontes para que sejam formados homens e mulheres dignos da espécie fazendo jus à responsabilidade que nos foi dada desde o início da criação de que o ser humano reinará sobre todas as espécies, não de forma dominadora, mas acima de tudo, como protagonista de uma história de perpetuação singular da espécie. Imaginemos a seguinte situação:

       Desde a mais tenra infância, trabalhemos com os nossos filhos a necessidade de se valorizar o que se tem. Se se dispõe de conforto, saibamos usufruir de maneira racional, valorizando em cada detalhe, destacando que aquele item considerado conforto, é um privilégio de alguns, que nem todos o têm, e que é possível viver sem ele e, para tanto, saibam usar, pois se vier a faltar, não é o fim do mundo, é a realidade. Nesse viés, traduzir os meios como tal conforto foi obtido traz em si, o valor que ele tem e o valor que deve ser atribuído ao mesmo, bem como o reconhecimento respeitoso de quem o proveu. Seja, por herança, por força do trabalho e da seriedade com que os pais conduzem a vida para dar sempre o melhor para os seus filhos. Necessário se faz que os meios de obtenção dos recursos para tal conforto  tenho lícito e coerente com as reais condições socioeconômica da família. Uma tarefa difícil Não. Mas exige coerência e exemplos que permeiem todas as etapas que serão canalizadas para a pretendida formação.

       Não se pretende destacar ou valorizar condições financeiras como requisito de felicidade, mas mostrar aos filhos, durante a sua formação, como se pode viver bem com o que tem, sem esbanjar porque pode fazer falta amanhã, ou aos outros. Esse exercício se aplica perfeitamente ao conforto obtido por meio de recursos naturais como a água, por exemplo: quanto custa ter água pura e tratada nas torneiras de casa? Nem todos a têm. A alimentação, a moradia, a roupa, o transporte, a escola, a saúde... tudo demanda custos, esforços, tenacidade, honra, dedicação e compromisso.

       Um outro recorte que nos convida a nortear novos rumos para os nossos pequenos vem com o cuidado dobrado que precisa ser empreendido em favor de uma educação capaz de, de fato, fortalecer as relações familiares, como pilares de um futuro seguro. Essa sugestão blinda os pais a, jamais discutirem na presença dos filhos ou tentem passar a limpo questões que demandem conflitos. Quando uma criança assiste a quaisquer discussões, sejam elas de origem pessoal, social ou estrutural, suas emoções tendem a embaralhar-se, na concepção que sua maturidade permite. Sabemos que o melhor ambiente para se “monitorar” esses discursos, por assim dizer, é cuidando para que os filhos não acreditem que ambiente familiar seja tão distante dos ambientes em que eles vivem grande parte do tempo: na escola, na rua, no lazer, nos populares espaços das redes sociais.

        Aí nasce um novo desafio: encontrar argumentos que propiciem uma discussão segura quanto aos problemas que o mundo apresenta e a forma que a família os encara em busca de soluções. Isso porque, a criança é, por extensão, obrigada a conviver com as mais variadas formas que seus amigos e colegas foram educados. A qualidade dessa educação faz com que o seu filho questione os seus métodos. Não por os acharem errados, mas por não serem tão liberais quanto aos que o padrão ideal impõe. Como as crianças de hoje veem um não de pais que primam pela ordem e pela justiça, quando comparada com aquela de pais que por serem ausentes, pecam e distorcem quaisquer escalas de valores?

       Seria excessivo cobrar de uma criança, cujos pais não dispõem de condições financeiras capazes de oferecer uma boa alimentação, uma boa escola, um bom plano de saúde, uma primorosa educação baseada em valores pautados na honra, na verdade, no compromisso com o outro. Mas é o mínimo que se pode impor àqueles providos de bens materiais em que nada lhe falta, mas nada lhe basta. Lados de moedas distintas que permeiam a composição de uma sociedade onde ao pobre tudo é negado e ao abastado, a quem tudo é permitido.

        Não se trata de um discurso derrotista, pessimista ou desmotivador, mas sim, uma proposta de reflexão para todos aqueles que têm ou terão sob sua responsabilidade, a formação disciplinar, a educação social e plena que vislumbra em todos os aspectos, a importância da intelectualidade construída sobre um ser pleno que, por se saber seguro, passa a se sentir importante, tornando-se responsável pelos seus atos e desdobramentos de suas ações através dos tempos e das gerações.

* Sebastião Maciel Costa