SE A EX-MINISTRA MARINA SILVA E O PV TIVESSEM SIDO ESPERTOS?

Por T. F. Wilson | 06/10/2010 | Política

Se a ex-ministra Marina Silva e o PV tivessem sido espertos, deveriam ter exigido, daqueles a quem poderiam apoiar no segundo turno, fazer parte do novo governo, porém, compondo de uma forma diferente, pleiteando ministérios, cujas ações, de maneira direta ou indireta, provocam impactos no meio ambiente.

No segundo turno das eleições presidenciais de 2010, no Brasil, Marina e o PV deveriam ter proposto fazer parte do novo governo assumindo aqueles ministérios cujas ações se refletem no meio ambiente. Marina e o Partido Verde deveriam ter pleiteado o Ministério de Minas e Energia e o Ministério dos Transportes e, também (caso ainda continuem a existir) o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Integração Nacional e o Ministério das Cidades (ou qual for o nome que venham a ter). Deveriam ter pleiteado fazer parte do novo governo, dirigindo aqueles ministérios ? não importa os seus nomes ? cujas suas ações têm impactos sobre o conjunto do território e, consequentemente, sobre o meio ambiente.

O PV nem deveria se preocupar com o Ministério do Meio Ambiente, pois mesmo depois da saída de Marina do cargo de Ministra do Meio Ambiente, o Ministério continua nas mãos delas, devido à "escola" que lá se criou durante sua gestão. Hoje, mesmo sem a presença física de Marina, o Ministério do Meio Ambiente continua ambientalmente forte (independentemente de o meio ambiente ser o seu foco, e o cuidado com o meio ambiente, a sua missão).

Mesmo tendo assumido uma posição de neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, em outubro de 2010, Marina Silva e o Partido Verde deveriam ter aproveitado os "ventos favoráveis" que sopraram em direção à causa ambiental, para sustentar e impulsionar a "onda verde". Afinal, ter o apoio de vinte por cento do eleitorado brasileiro, como Marina mostrou e demonstrou ter, significa que o meio ambiente encontrou eco junto a uma parcela significativa da população brasileira. O PV teria elementos para, pelo menos, influenciar nas decisões a respeito das correntes que iriam assumir aqueles ministérios cujas ações se refletem diretamente sobre o território e sobre o meio ambiente. O PV e Marina poderiam argumentar junto a quem vencesse o pleito no segundo turno, mesmo tendo assumido uma posição de neutralidade:

? Não ajudamos, mas também, não atrapalhamos?

E, alguém com sensibilidade suficiente para ocupar o Palácio do Planalto, certamente seria sensível à representação de vinte por cento dos eleitores brasileiros. Pois se alguém saiu vitorioso nas eleições presidenciais do Brasil em 2010, esse alguém foi o meio ambiente, juntamente com todos aqueles que militam pela causa ambiental.

Marina Silva e o PV deveriam buscar assumir o controle dos setores que causam impactos sobre o meio ambiente, comprometendo a sustentabilidade e colocando em risco o futuro das gerações vindouras. É o caso das atividades de exploração mineral, das atividades de estruturação da rede viária e daquelas atividades que têm reflexos imediatos sobre o território e, em seguida, se fazem sentir sobre o meio ambiente. Esse seria o caso das ações as levadas a cabo pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, com seus planos territoriais e pelo Ministério da Integração Nacional, com seus projetos de "revitalização" de bacias hidrográficas e suas políticas regionais.

No caso do Ministério das Cidades, devemos sempre lembrar que a expansão urbana leva, inevitavelmente, à competição por territórios, com o denominado "espaço construído" lutando pelas áreas naturais, até então preservadas, ou contra áreas de produção agropecuária, competição essa que, a médio e longo prazo, terá conseqüências para o meio ambiente.

Além disso, o PV deveria também ter aproveitado, ainda mais, a "onda verde" a seu favor. Tão logo os seus deputados eleitos assumissem os seus mandatos na Câmara dos Deputados, deveriam propor a criação de uma "Comissão Parlamentar de Políticas Territoriais" no Congresso Nacional.

Ou seja, o Partido Verde deveria propor a criação de uma nova Comissão Permanente na Câmara dos Deputados, com o objetivo de tratar os assuntos ligados às questões territoriais de modo legítimo, democrático e participativo. Trata-se de uma proposta desafiadora, que implicaria, inclusive, na modificação da composição atual das Comissões Permanentes da Câmara dos Deputados, através do desmembramento da atual Comissão Permanente da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional e de suas atribuições. E quem seria mais qualificado para isso, do que o Partido Verde?

Se quisermos que o meio ambiente seja preservado e respeitado, devemos aceitar o fato de que somente a Sociedade, organizada e representada, é detentora da legitimidade que permitirá uma reconfiguração territorial exitosa, que levará em conta as limitações do meio ambiente. E isso só poderá ser feito pela via política. E, neste caso, não só o PV, mas todos Partidos Políticos deverão ser os primeiros a serem conscientizados, motivados e mobilizados para as questões ligadas ao território, em plena conformidade com as orientações ideológicas de cada um, e seus respectivos posicionamentos no cenário político, para que o meio ambiente tenha a atenção necessária que merece.

E Marina Silva, o PV e vinte por cento do eleitorado brasileiro saíram como os afiançadores do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável e da causa ambiental perante a Sociedade. Apenas, ainda, não se deram conta disso. Ainda estão se acostumando com a nova realidade, mostrada pelas urnas em outubro de 2010, no Brasil. Tudo será uma questão de tempo, para que todos se dêem conta de que, naquele mês e naquele ano, não foi o Brasil que mudou, mas sim foi a consciência que mudou. E, quando esta muda, irreversivelmente todo o resto muda (inclusive, o Brasil?). O que o Partido Verde tem a fazer é começar a tomar consciência de que a causa que ele defende mudou: ela cresceu. E, consequentemente, ele crescerá também. Parece, apenas, que Marina e o PV ainda não se deram conta disso, mas tudo é uma questão de tempo, para a "ficha cair".

OBS.: essa proposta de criação de uma Comissão Parlamentar Permanente de Políticas Territoriais na Câmara dos Deputados já foi esboçada em um artigo que publicamos, intitulado:

"A ?Politização? da Consciência Territorial: a Mobilização Política em Prol do Território"

o qual pode ser lido em:

www.artigonal.com

www.artigosonline.com.br