SAÚDE MENTAL E QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM MASTECTOMIA RADICAL.

Por Iara Dalila Tavares Duarte Medeiros | 29/11/2016 | Saúde

Resumo

Este estudo teve como objetivo investigar as repercussões psicológicas associadas ao adoecer em mulheres com câncer de mama que já foram submetidas à mastectomia radical. Estudo qualitativo, com base fenomenológica, desenvolvido na oncologia de um hospital público na cidade de Goiânia. Essa pesquisa evidencia que o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama afetam a condição emocional da mulher. Foi aplicada uma entrevista individual semi-estruturada a 10 pacientes, com idades compreendidas entre 35 e 62 anos. O estudo demonstrou que, após a mastectomia, as mulheres apresentaram algumas limitações dificuldades em lidar com situações que envolviam a exposição do próprio corpo.

I – INTRODUÇÃO 

“... Não é fácil lidar cientificamente com sentimentos...”- Freud, 1930 O câncer é uma doença crônica degenerativa, isto é, sua evolução é lenta e gradual, o que favorece a prevenção e o tratamento precoce. Dentre vários tipos de câncer, podemos destacar o câncer de mama, que é o resultado de multiplicações desordenadas de determinadas células que se reproduzem em grande velocidade, desencadeando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas que podem vir a afetar os tecidos vizinhos e provocar metástases, sendo a neoplasia que mais atinge o sexo feminino e é a maior causa de mortes por esse tipo de doença (PIATO, 2006).

O câncer de mama representa um grave problema de saúde pública em todo o mundo, pela sua alta incidência, morbidade, mortalidade e pelo seu elevado custo no tratamento. Ele é o segundo tipo de câncer mais comum no mundo, sendo que as estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento (WANDERLEY, 1997).

Segundo o INCA (2006), o câncer de mama foi responsável por cerca de 20% dos óbitos por câncer entre as mulheres e de uma grande preocupação para saúde pública do Brasil, de acordo com a incidência de câncer no Brasil em 2006, o câncer de mama foi o segundo mais incidente, com 48.930 casos, sendo uma enfermidade que abrange grande parte da população, muitas vezes causam preocupantes mutilações físicas, que por sua vez acarretam traumas emocionais e sociais.

Esse tipo de câncer é muito temido pelas mulheres pelos efeitos psicológicos e que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem feminina, pois a partir do momento em que a mulher descobre que tem um nódulo na mama, dá-se o início a um processo interno de dúvidas e incertezas que podem ou não ser “amenizadas” através de exame físico e exames radiológicos (FERNANDES, 1997).

A doença oncológica da mama é uma realidade existente no cotidiano das nossas práticas e atividades diárias deixando marcas profundas na mulher, família e rede social. Frequentemente associa-se a esta doença, à dor e morte e com tal é encarada pelo grande número de mulheres por um acontecimento de vida que se localiza num determinado espaço-temporal gerador de angústia e sofrimento (MENDES, 1994). 

O surgimento de uma doença como o câncer é um evento traumático na vida de qualquer pessoa, seja pelo estigma que a doença carrega de morte, dor e solidão, seja pelos tratamentos, na maioria das vezes, agressivos, ou mesmo pelas limitações da medicina em uma área onde ainda há muito a ser descoberto. A interrupção de planos futuros, as mudanças físicas e psíquicas, do papel social e do estilo de vida, bem como as preocupações financeiras e legais são assuntos importantes para o paciente de câncer. É um fato que estimula uma complexa rede de condições que se alternam a cada fase da doença, modificando a dinâmica de vida do paciente, desde sua rotina diária até sua estrutura familiar e conjugal, de onde se pode afirmar que o câncer se assemelha a um furacão invadindo uma calma cidade: tudo é devastado, sendo necessária uma reestruturação em todos os seus setores (DUARTE, 2001).

Quando há a confirmação de que aquele achado é um tumor maligno, a mulher passará por várias fases de conflito interno, e avaliar a paciente diagnosticada e submetida a tratamento por câncer de mama é questão importante e, muitas vezes, tarefa a cargo do oncologista, do cirurgião, da enfermeira ou dos demais membros da equipe multidisciplinar, pois as oscilações começam, desde a negação da doença onde a paciente e os familiares procuram diversos profissionais na esperança de que algum deles lhe dê um diagnóstico contrário aos achados, até a fase final onde há aceitação da existência do tumor (BIFFI, 2003).

A mastectomia é um tipo de cirurgia realizado para fazer a retirada do seio afetado pelo câncer. Preconceito, discriminação e efeitos psicológicos são algumas das barreiras enfrentadas pelas mulheres mastectomizadas e essa retirada da mama está, via de regra, acompanhada de conseqüências traumatizantes nas experiências de vida de uma mulher, visto o desencadeamento de uma série de distúrbios que ocorrem. Essas dificuldades e desajustes sociais terminam por desencadear sentimentos negativos, desde o choque emocional causado pelo diagnóstico: o medo da cirurgia; a incerteza do prognóstico e de uma recorrência deste câncer; os efeitos da radio e da quimioterapia; o medo da dor e o pavor de encarar a morte nas circunstâncias que, em geral, acontece (FERREIRA, 1999).

Quando chega a extirpação da mama, surgem alguns transtornos para essas mulheres, uma vez, que a mama é considerada como a beleza, sedução, sexualidade, nutrição, conseqüentemente vai afetar a auto-estima, o relacionamento consigo, com os outros e com o mundo, daí a grande importância de aprofundarmos neste conhecimento, levantando os seguintes questionamentos: Qual o significado do câncer de mama para a mulher portadora deste diagnóstico? Qual o nível de aceitação da conduta terapêutica de mastectomia total? Como a mulher que passou pela mastectomia total reage psicologicamente consigo, com os outros e com o mundo?

O motivo da escolha deste tema se faz por dois motivos: O primeiro pelo fato de ter convivido com uma mulher mastectomizada, pela qual tenho grande carinho e admiração, e o segundo por trabalhar como bolsista em uma unidade de saúde onde presta o atendimento a mulheres mastectomizadas, surgindo a idéia de investigar e entender o lado emocional de mulheres submetidas à mastectomia e  a qualidade de vida vivenciada por essas mulheres, interligando os fatores a respeito do câncer de mama e seus reflexos que sofrem com essa enfermidade. 

II – MATERIAS E MÉTODOS 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, dentro de uma abordagem fenomenológica.

A metodologia também inclui a criatividade do pesquisador, a partir deste entendimento, o pesquisador de posse de elemento próprio do campo de investigação, tem o poder de criar seu próprio caminho e, narrarem os seus percursos, poderão evidenciar o método com aquilo que se construiu ao caminhar (GONÇALVES, 2001).

O Método qualitativo permite a utilização de várias técnicas, buscando a compreensão e identificação de determinado fenômeno em sua totalidade (MINAYO, 1998).

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, como nível de realidade que não pode ser qualificado. Trabalha com universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atividade. (DESLANDES. 1994).

Segundo Petreli (2001), fenomenologia é a ciência que se aplica no estudo dos fenômenos, dos objetos, dos eventos e acontecimentos em si mesmos, e não o ponto de vista de causas inferidas: especificamente, a teoria de que o comportamento é determinado pelo modo como o individuo percebe a realidade em qualquer momento dado, e não pela realidade tal como pode ser descrita em termos físicos e objetivos.  A abordagem fenomenológica tende a descrever os objetivos considerando, em “em si - mesmo”, na sua essência descritiva da realidade, de seus objetivos e fatos, como significativos de algo que abstrai e transcende a pura materialidade significante.

Campo de Estudo

A pesquisa de campo foi desenvolvida em um Hospital público na cidade de Goiânia, no ambulatório de oncologia. 

Caracterização dos Sujeitos

A população do estudo foi constituída por 10 mulheres submetidas à mastectomia radical no ano de 2007.

 Aspectos Éticos da Pesquisa

Para o desenvolvimento da investigação foram cumpridas as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa, envolvendo seres humanos, conforme a resolução Nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL. MS, 1996). Assim, o estudo foi submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clinicas em Goiânia-Go com protocolo n° 109/2007, sendo aprovado em setembro de 2007.

A participação dos sujeitos se deu após a abordagem individual e esclarecimentos quanto aos objetivos do estudo, e em que consistia a participação objetiva das mesmas, garantindo sigilo, preservação e a identidade das participantes, os nomes reais foram substituídos por nomes de flores.

  Procedimentos e Técnicas da Coleta de Dados

Inicialmente, foi realizado um estudo-piloto, para que o instrumento utilizado e o procedimento de coleta de dados fossem testados e avaliados junto à população-alvo da presente investigação e, a partir disso, definida a forma definitiva de aplicação.

A coleta de dados foi iniciada após as exigências regimentais de trâmites da pesquisa no Comitê de Ética, no período de setembro a outubro de 2007, através de um roteiro de entrevista semi-estruturada, que na primeira parte apresentava questões relacionadas à caracterização sócio-demográfica dos sujeitos.

Foi entregue, no momento da entrevista, o termo de consentimento livre e esclarecido, para leitura e anuência formal do aceite, o qual descreve a proposta do estudo, bem como dá ciência sobre a participação livre e voluntária dos sujeitos. O documento foi impresso em duas vias, permanecendo uma conosco e a outra com o sujeito.

A entrevista foi gravada e feita uma transcrição da gravação na íntegra, em um local de privacidade, respeitando os princípios éticos baseados na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

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