SAÚDE DE MERCADO

Por Vanessa Stollar | 21/10/2009 | Crônicas

Hoje tive mais uma prova da desumanização do mundo. Ou é isso, ou muda-se totalmente o sentido da palavra humano para “ser vivo guiado por interesses financeiros, totalmente incapaz de pensar no bem estar de outro ser vivo, a não ser que isso favoreça seus próprios interesses financeiros”.

Bom, essa conclusão começa com um terrível mal estar que eu senti logo pela manhã. Fui até o Centro Médico de minha cidade. Afortunadamente, ou não, neste caso, eu conto com um plano de saúde, mas cheguei até o hospital sem a carteirinha de tal.

Pego uma senha, espero o bip me chamar. A secretária me diz que não posso ser atendida sem a carteirinha do convênio. Eu penso: meu deus, com toda a tecnologia, cadastros, meios do século XXI e apesar de já ter ido a este hospital dezenas de vezes  ela não consegue verificar por outros documentos que eu tenho um convênio. OK, minha mãe trabalha lá perto e como eu sou sua dependente no convênio iria pegar a sua carteirinha (o que já aconteceu antes).

Minha mãe chega com seu documento do convênio. Tento novamente ser atendida.

 - Mesmo assim senhora, você terá que ir até seu convênio e pegar uma autorização.

- Espera, deixe me ver se eu entendi, eu vou falar para minha saúde esperar um pouco porque eu preciso pegar uma autorização. Você não poderia ligar para o convênio e confirmar meu registro?

- Não.

- Então você vai me negar atendimento porque eu não tenho uma carteirinha?

- Não estou negando atendimento você pode pagar uma consulta particular.

A que ponto chega a desumanização de uma pessoa que vê outra precisando de ajuda e não pode fazer o menor esforço para ajudar ? Isso porque eu ainda tenho que pagar um serviço que deveria ser oferecido com qualidade pois já pagamos por eles nos nossos impostos.

Não comparo essa situação ao sofrimento de se esperar atendimento em uma santa casa, o auge da desumanização também está ai. Só quero enfatizar o grau de desprezo e “mercantilização” das pessoas, a saúde, a educação, a vida está a venda, quem der o maior lance leva.

Fui atendida depois de muita insistência e ameaças, com um simples telefonema dado ao convênio, o que poderia ser feito desde a hora em que eu cheguei.

Moral da história, se for morrer, lembre-se de estar com todos os documentos a mão.