SATISFAÇÃO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES...

Por Givaldo Carlos Candrinho | 15/11/2016 | Psicologia

SATISFAÇÃO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES: CASO DA ESCOLA PRIMÁRIA COMPLETA 21 DE ABRIL, VILA MUNICIPAL DE MASSINGA

RESUMO

O presente estudo avalia o grau de satisfação profissional dos professores da Escola Primária Completa (EPC) -21 de Abril, localizada na Vila Municipal de Massinga. O estudo apresenta-se numa abordagem quantitativa e descritiva, com recurso ao Questionário de Satisfação Docente (QSD), como técnica e instrumento de colecta de dados, aplicado a quarenta (40) professores correspondentes a 95% do universo, com idades compreendidas entre 25 a 52 anos. Destes, 19 são do sexo masculino e 21 do sexo feminino. Os resultados revelam que a satisfação profissional dos professores em estudo é influenciada por uma dinâmica interactiva de quatro (4) factores, nomeadamente, a Natureza do próprio Trabalho (NT), a Relação com os Colegas (RC), Recompensas Pessoais (RP) e Condições Matérias de Trabalho (CMT), com principal realce as condições de trabalho e relação com os colegas, com um nível de concordância total de 48.7% da amostra.

Introdução

Em Moçambique, só após a independência (1975), a população escolar aumentou significativamente com o incremento dos níveis de escolaridade obrigatória, através de um novo modo de pensar a escola, de uma reforma apostada na educação para todos. A partir dessa altura, os professores passaram a ser privilegiados, pois quanto maior importância se atribui à educação no desenvolvimento nacional e regional (Austral), maior prioridade se atribuí a esses e à sua situação profissional.

A motivação dos professores para escolher a profissão e optar pela profissionalização é vista em função dos contextos políticos e administrativos de cada sociedade. No contexto moçambicano, com um sistema educativo extremamente centralizado, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) exerce uma forte influência sobre os professores e o ensino, assim como sobre as condições que definem (encorajando ou desencorajando) a profissionalização.

Com base neste contexto propusemo-nos levar a cabo a presente pesquisa para valiar a satisfação profissional dos professores da Escola Primária Completa (EPC) 21 de Abril, na Vila Municipal de Massinga.

O profissional da actividade docente, desempenha uma função que a sociedade reconhece como útil, tendo que dominar um conjunto de saberes teóricos e práticos bem como competências e capacidades específicas, possuindo alguma margem de autonomia e correspondente responsabilização, praticando a sua actividade num contexto de desenvolvimento profissional realizando permanentemente uma análise reflexiva das suas práticas de forma a poder ajustar e actualizar em função das exigências que lhe são apresentadas (ROLDÃO, 1998).

Nesta perspectiva, SECO (2000:35), refere que os professores têm sentido pressões de diversas formas, por um lado, pela expansão do seu papel, assumindo desta forma novos problemas e competências para os resolver, e por outro, as inovações sucessivas que decorrem de um aceleradíssimo processo de mudança que criam uma sobrecarga neles.

Perante este cenário, esta “classe” tem manifestado crescentes sinais de mal-estar, traduzidos, por exemplo, nas altas taxas de absentismo, no excessivo número de baixas por doença, na síndrome de bournot, na falta de envolvimento profissional e na intenção de abandono da profissão. (Ibid., p.36)

Assiste-se a uma crise na profissão e à desvalorização da mesma, perda de prestígio por parte dos professores, estando actualmente bastante degradada a imagem destes profissionais, o que é visível ao nível do reconhecimento social, do próprio salário e outras regalias. Como forma de responder cabal e objectivamente as finalidades do presente estudo, questionamos como ponto de partida: quais são os níveis de satisfação profissional dos professores da EPC-21 de Abril, na Vila Municipal de Massinga?

Este estudo centra-se no professor e esperamos contribuir para um maior conhecimento sobre as variáveis que influenciam positiva e/ou negativamente na sua satisfação profissional. As investigações em torno desta problemática são ainda relativamente escassas e recentes no nosso contexto, apesar do estudo feito por BULAQUE, DONACIANO & ALMEIDA (2009), relacionado com a “Satisfação Profissional Docente: Adaptação e Validação da Escala com Professores Primários do Distrito do Dondo”.

O seu principal objectivo é avaliar a satisfação profissional dos professores da escola em alusão; para além de identificar os factores que influenciam tal satisfação; descrever a satisfação profissional dos professores bem como comparara-la tendo em conta as variáveis idade e sexo; anos de serviço e grau académico.

Satisfação profissional e no trabalho docente

Satisfação profissional é tida como um estado emocional agradável ou positivo, que resulta de algum trabalho ou experiências no trabalho (BORGES & DANIEL, 2009:103). Para RODRIGUES (1995), reflecte essencialmente a forma positiva com que cada pessoa avalia e gosta do seu trabalho. De acordo com POCINHO & FRAGOEIRO (2012:89), a satisfação docente é definida como um sentimento e forma de estar positivos dos docentes perante a profissão, originados por factores contextuais e/ou pessoais e exteriorizados pela dedicação, defesa e mesmo felicidade face à mesma.

PEDRO (2011:25), apresenta, como um estado geral positivo e emocionalmente aferido através das desejadas recompensas auferidas pelo trabalho em ambiente escolar.

A satisfação no trabalho, como constatamos dos vários estudos existentes em Portugal, tais como os de, Neuza, 2001; Alves et al, 2010; Rodrigues et al, 2014 e; Ferreira et al, 2012; depende de múltiplas dimensões, tanto intrínsecas como extrínsecas. Em Moçambique, as alterações no ensino primário, ocorridas nas últimas décadas originaram um clima de turbulência, tornando a educação e o papel do professor mais complexo e uma diminuição nos níveis de satisfação do professor.

Investigações realizadas por FERREIRA et al (2012), indicam que um dos melhores indicadores da satisfação profissional dos professores do ensino primário é o status que vão ocupando, sendo que quanto mais evoluem na carreira, maior satisfação obtêm. Segundo autores ligados à área educacional, a satisfação do professor é um factor de influência fulcral para o desempenho do aluno.

RUIVO et al (2008:13) salientam que condições em que as colocações têm ocorrido provocam alguma insatisfação face à profissão. Muitos professores têm estado sujeitos a mobilidade anual por força dos concursos, obrigando-os, tantas vezes, a grandes deslocações, com o consequente desgaste físico e psicológico. Aos professores são requeridos papéis diversificados, tarefas para as quais não foram devidamente preparados nem vocacionados.

Ao professor, como sujeito reflexivo, é requerido um permanente viver em dúvida, um ajustamento contínuo que lhe permita lidar com a incerteza, com a mudança permanente, à procura da identidade e realização profissionais. Neste contexto de instabilidade e dúvida, como pode o professor antecipar projectos de vida? Qual será o estado de espírito dos professores, qual a sua satisfação perante a profissão? 

Factores que influenciam a satisfação profissional

Tal como o conceito de satisfação, a determinação dos factores que a influenciam, não é consensual entre os autores, apresentando-se bastante abrangente e complexa. Dentre várias concepções, o nosso estudo segue alguns pressupostos de LOCK (1976), que defende a valorização e reconhecimento do trabalho realizado, as relações interpessoais criadas em ambiente de trabalho, a satisfação com os benefícios, a satisfação com as condições de trabalho, o estilo de hierarquia adoptado e as suas capacidades técnicas, a satisfação com a organização, a sua forma estrutural, as políticas vigentes, entre outros factores contribuem positivamente para a satisfação profissional.

Teorias da satisfação

Foi mais com base na Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow e Teoria dos Dois Factores de Herzberg que o estudo se assenta.

Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow

 

Segundo POCINHO & FRAGOIRO (2012), na teoria de Maslow, as necessidades dos seres humanos obedecem a uma hierarquia. Isto significa que no momento em que o indivíduo realiza uma necessidade, surge outra, exigindo sempre que as pessoas busquem meios para satisfazê-la. Esta, propõe que quando é satisfeita uma necessidade, deixa de ser motivacional, ou seja, para que possa progredir na pirâmide a necessidade anterior já deve ter sido satisfeita, e a necessidade que lhe sucede passa a assumir um papel motivador.

As necessidades superiores referentes à actividade docente são “a participação na tomada das decisões, a diversidade de tarefas permitindo o uso de diferentes competências, a expressão da criatividade, a oportunidade para aprender e a autonomia profissional, enquanto as necessidades de ordem mais baixa são o melhor salário e outros benefícios, a segurança profissional e as boas relações com os colegas (MWAMWENDA, 2004:231).

Teoria dos Dois Factores de Herzberg

De acordo com (POCINHO & FRAGOIRO:2012). Na sua teoria, Herzberg, defende que qualquer factor pode ser fonte de satisfação e de insatisfação profissional em simultâneo, sustentando a existência de diferenças entre a satisfação e a insatisfação e que as pessoas possuem dois grandes grupos. Para o comportamento humano no trabalho é orientado por dois grupos de factores a saber, os factores higiénicos e os factores motivacionais. Os primeiros referem-se as condições que rodeiam a pessoa enquanto trabalha englobando as condições físicas e ambientais de trabalho, o salário, os benefícios sociais, as políticas da empresa, o tipo de supervisão recebido, o clima de relações entre a direcção e os empregados etc.

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