SAPARE AUDE
Por Rafael Maurício Mello | 31/03/2020 | FilosofiaSegundo Immanuel Kant o lema do Iluminismo é “Sapare Aude” que quer dizer “ouse saber” ou numa tradução mais livre pode ser encontrada como “tenha a coragem de usar seu próprio entendimento”.
O uso de seu intelecto e seu entendimento é a forma de construir uma nova estrutura social. O apóstolo Paulo que, anterior ao filósofo Kant, escreveu para a Igreja de Corinto, “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Convoca-nos a procurar saber e ousar romper com os preceitos vigentes, na procura de uma que seja boa, perfeita e agradável.
Procurar a vontade de Deus é a busca por uma renovação da mente da consciência. Historicamente somo vitimas de nossos monstros interiores que invade a consciência e constrói o agir e o fazer do homem. A prova de que por muitas vezes nos enganamos é que na primeira crise verdadeira que o atual governo está passando o Presidente que deveria ser o líder da nação se mostra histérico, inconstante e dono da verdade, causando um caos mental e um pânico social em toda a população.
Na psicoterapia de vertente cognitiva comportamental retrata que um pensamento gera um sentimento que dá origem a um comportamento, seja benéfica ou maléfica a condição humana, como vemos no decorrer da História Humana.
A geração X que é a geração que predomina e de certa forma conduz o mundo hoje chega com dezenas de mazelas e doenças psicossomáticas, devido ao acumulo de informação e de transformação e a velocidade que as mesmas são disseminadas principalmente via redes sociais.
Essa geração tem a herança de seus pais que são os chamados Baby Boom que tiveram que reconstruir o mundo após segunda guerra mundial, tendo que produzir revoluções e lutar por direitos, dignidade da pessoa humana, melhorias de vida e etc... As mulheres que outrora eram responsáveis pela criação de seus filhos e os afazeres domésticos, com o fim da guerra e o óbito de seus maridos tiveram que ir para o mercado de trabalho para sustentar a si e seus filhos, tendo assim que terceirizar a criação de seus filhos, para outras pessoas, para o estado e principalmente a escola.
Noutro lado da balança estão os filhos que são a geração milênicos ou conhecidos também a geração da internet. Da informação nas palmas das mãos.
Jacques Derrida um dos maiores filósofos e linguistas do século xx num diálogo com a historiadora e psicanalista Elizabeth Roudenesco acentuam que “A vida, no fundo, o ser-em-vida, isso talvez se defina por essa tensão da herança, por essa reinterpretação do dado do dom, até mesmo a filiação. Essa reafirmação, que ao mesmo tempo continua e interrompe no mínimo se assemelha a uma eleição, a uma seleção, a uma decisão”.
Há decisões que somos impostos a tomar todos os dias, que interferem na vida coletiva e social. “A emoção feliz não tem durabilidade nem profundidade se estiver encapsulada pelo individualismo, egoísmo e egocentrismo. Quem vive nesse casulo é digno de compaixão, pois asfixia sua liberdade, seu relacionamento e sua saúde emocional”, adverte o psiquiatra e escritor Augusto Cury.
Quando buscamos transferir nossas angústias e anestesiar nossas dores seja com álcool, drogas, dinheiro ou poder, acabamos afundando cada vez mais em nosso egoísmo, pois banalizamos os sentimentos, as emoções e as atitudes dos outras para nos mostrar que estamos no caminho errado, culminando em um asfixiar do lócus de fala de quem verdadeiramente nos ama e nos quer bem e feliz.
A luta que travamos com nosso interior é uma batalha eterna, os problemas, as dores, as tristezas e angústias são oriundos de ser humano. O teólogo Leonardo Boff em seu livro “O destino do Homem e do Mundo” lança luz aos dilemas humanos, quando nos admoesta:
“A completa hominização do homem supõe sua divinização. Isto significa: o homem para torna-se verdadeiramente ele mesmo deve poder realizar a capacidade máxima inscrita em sua natureza de ser-um com Deus, sem divisão sem mutação e sem confusão. Ora em Jesus de Nazaré o cristianismo viu essa possibilidade realizada. Por isso, foi pela comunidade de fé outrora e hoje amado como sendo Deus encarnado, o Deus conosco e o Ecce Homo”.
A proposta imposta aqui por Boff é de que para sermos verdadeiros humanos necessitamos ter um relacionamento visceral com Deus, termos uma integra verdadeira para com o criador. As interperes da vida não podem ter força para destruir essa relação Eu-Tu para com Deus.
O próprio Jesus Cristo em um discurso duro e severo descrito pelo o apóstolo João adverte: [“...] em verdade, em verdade voz digo: se comerdes a carne do filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. Cristo não estava falando de um canibalismo e sim alertando a povo de que tivesse parte com Ele, somente Ele poderia conduzi-los a verdadeira vida, somente Jesus pode dar a direção pois Ele é o caminho, a verdade e vida.
O maná que fora distribuído no deserto não impediu que todos morressem no mesmo deserto. Entretanto Jesus estava lhes oferecendo a vida eterna e toda a condição de serem, coerdeiros das benesses do mundo.
A proposta maior ainda vem subliminarmente, pois crendo em suas palavras e bebendo do seu sangue e comendo de sua carne, todos se tornariam humano-divinos, seres viventes e celestiais tendo assim a experiência de viver a paz que excede todo o entendimento. E nada os separariam do amor incondicional de Deus, por sua criação.
“Que diremos, pois à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou a angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas essas coisas, porém somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas de presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm. 8:31-39).
Essa declaração de Paulo traz um misto de extrema felicidade e ao mesmo tempo nos confronta e nos faz por a mão na consciência e passar a rever nossas atitudes distorcidas e nocivas. Tudo que buscamos neste plano terrestre é resumido em satisfação, seja profissional ou pessoal a tal da “eudaimonia” dos gregos.
A despeito de termos alcançado essa felicidade ou não a existência vai além de tudo isso para os que creem em Deus e no seu amor incondicional pela humanidade. Se retornarmos aos preceitos, ou melhor, a divisa do Iluminismo verá que a força motriz da humanidade é a coragem de ser e de estar, em comunhão com Deus, as pessoas e consigo mesmo.
O sociólogo Anthony Giddens, falando acerca da importância do estudo da sociologia ele diz: “A sedução da sociologia provém de ela nos fazer ver sob uma luz o mundo da vida cotidiana no qual todos vivemos”.
O estudo da sociologia é visceral para entendermos nossos devaneios, interpeles medos e fobias, enquanto a psicologia trata do individuo isoladamente e preocupada com a somatização desses sentimentos na vida do individuo a sociologia e a própria teologia buscam resposta para o comportamento humano, oriundo de seus relacionamentos sociais e de seu relacionamento com o transcendente, com o divino, procurando entender o ser em sua integralidade.
Viver não é fácil, mas não pode se tornar um muro intransponível para se alcançar uma estabilidade e uma harmonia com a sociedade. Celito Méier diz:
“A ação humana deve consistir no uso da razão para a correta administração das coisas que se referem à vida terrena”.
Essa correta administração coaduna com que os Iluministas preconizavam acercar da coragem de ser, de ousar ser, quem quer sê, e vem de encontro com a tese de Boff de que só nos tornamos seres humanos de verdade quando entramos em uma simbiose com o Pai.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em tempo de emergência sanitária a qual está passando o mundo, muitas duvidas são lançadas ao vento, surge também muitas profecias que pode os aterrorizar, porém o verdadeiro cristão precisa saber que está em Deus ser parte dEle, nos da a segurança de que, mesmo em meio às dificuldades oriundas da vida e outras tensões causadas pelo ser humano, no caso do Brasil pelo próprio presidente, existe um Deus que não poupou e nem vai poupar esforços para suprir toda e qualquer necessidade de seu povo.
Estamos num tempo de reconectarmos com a cruz, ou seja, olharmos para o alto que de onde vem o socorro, e para o próximo de onde vira a solidariedade, o alento, e a segurança de ser gente como gente tem que ser.
Estamos em um tempo de alerta de combate mais não de desespero e nem de histeria social. Portanto, termino esse texto com as palavras de Cristo, que diz: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia seu mal”. (Mt. 6:33) A palavra de ordem para esse tempo é prudência e total confiança em Deus e na (ciência).