Saída

Por Rui Castro | 14/10/2010 | Literatura

Sentado numa estação de comboios, sonolento, ressacado e exausto da noite louca que tive.Passam por mim acelarados, embriagados, drogados e tímidos passageiros, uns em direcção a casa outros directos para os seus empregos.São 8:00 da manha, regresso duma sáida maluca com direito a tudo, alcóol, mulheres, musica, todos aqueles vícios que toda uma vida boémia exige.As finanças ficaram reduzidas a cêntimos, tanto foi o desbarato provocado pelos preços inflacionados das bebidas e dos petiscos comidos ao fim da noite para mascarar a fome.Tenho o dinheiro contado para pagar uma viagem de volta a casa, no habitual para-arranca do comboio, obrigado que é a parar em todos os apeadeiros, onde se dão trocas de passageiros com motivações, destinos e estados de humor bastante distintos.Já soam as 10:00 da manha no meu telemovel,estrategicamente posto a despertar para esta hora, em dias normais de trabalho.Com os olhos pesados e o corpo a pedir uma estadia longa e tranquila na minha cama.Quando dou por mim já deitado no conforto do meu quarto, depois de uma travessia no deserto até ao doce lar, todas aquelas faces, aqueles aromas de perfume, aqueles sorrisos giram a minha volta como uma roleta russa viciada onde o prazer, luxo e ócio fossem a força motriz que a faz girar.Acordo pacíficamente, no relógio do meu Samsung já passa bem das 16:00, sinto os meus músculos duma flacidez elevada e a mente com uma velocidade processadora ainda a deixar muito a desejar, apronto uma espécie de almoço para conceder as vitaminas e proteínas necessárias para a resposta positiva do corpo humano tanto de forma fisiologica como de forma motora.Após a 1º refeição do dia e de um banho quente e refastelante, sinto-me apto para enfrentar a luz do dia no seu auge, esse cara a cara tem a companhia dos meus óculos de sol, fiéis protetores dos glóbulos oculares, aquando de situações agressivas como é o caso.Dirigo-me ao café habitual, onde se encontra todo o povo como uma tribo em torno de um solo sagrado, a conversa flui em torno da madrugada protagonizada por aqueles ávidos jovens.A simbiose entre nós é perfeita, todos os assuntos interligam-se como por magia, elevado nivél de conexão espiritual.Apesar de todo o cansaço físico e mental que advém de uma grande noitada, as relações de amizade que se fabricam a partir daí e os laços de sangue por situações delicadas criados fazem-me acreditar que vale a pena.Tudo é merecido quando no fim o brilho dos olhos é mais cintilante do que toda e qualquer dor corporal.Se todos nós temos uma rotina aborrecida?Sim temos.Mas cabe-nos a nós saber quebra-la no momento certo e com o pessoal certo.