Saia do pensamento mágico

Por Anissis Moura Ramos | 29/08/2017 | Psicologia

Primeiramente, penso que é importante definir o que é pensamento mágico, porque apesar de estar presente na vida de muitas pessoas, continua sendo desconhecido.

Utiliza-se a expressão pensamento mágico quando nos reportamos a certos pensamentos que nos levam a realização de desejos, bem como, a prevenção de eventos desagradáveis. Este é um pensamento muito recorrente na infância, entretanto, encontramos em muitos adultos e isso denota falta de maturidade ou algum prejuízo psicológico.

 Este “relicário de mentalidade primitiva”, mesmo que de forma latente, ainda está muito presente na psique de todo humano, pois é a forma que encontramos de escapar das ansiedades e conflitos, das frustrações e dos desconfortos causados pelo mundo externo e interno. Acreditamos que esse ato de pensar poderá controlar, modificar, explicar a realidade, além de oferecer uma relação casual entre dois eventos isolados.

Freud dedicou todo um capítulo em Totem e Tabu à origem e a importância do pensamento mágico no desenvolvimento da história libidinal da humanidade, mostrando como grande forma dela se faz presente na vida moderna, podendo ser identificada por meio da superstição, através da nossa fala, crença e filosofias.

No mundo de hoje o pensamento mágico está em alta, podendo facilmente ser identificado em algumas situações, como por exemplo, a pessoa vive uma crise financeira e acredita que se jogar semanalmente na loteria conseguirá resolver seu problema, ao invés de buscar uma solução real. Junto ao pensamento mágico está a negação e a projeção, dois mecanismos de defesa muito utilizados atualmente. A responsabilidade da real situação da pessoa sempre é do outro e as pessoas negam sua realidade, por vergonha ou medo da crítica. Por meio da negação, tentam convencer o outro de que o que pensa é totalmente errado, conseguindo, por vezes, gerar incerteza se a pessoa não tiver certeza do que está dizendo. Vemos, também, a presença do pensamento mágico nas questões profissionais, nas relações interpessoais e por aí vai.

Essa maneira de funcionar provoca um desgaste e sofrimento psíquico, porque se estabelece um conflito entre o real e o imaginário. A pessoa tenta passar a ideia de que tudo funciona em perfeita harmonia em sua vida, quando, na realidade, muitas vezes, sua vida está um caos. Porém, acreditam que de uma hora para outra tudo se resolverá, como se uma fada madrinha viesse com sua varinha de códon e desse a solução para os seus problemas.

Sendo assim, assumir a realidade, por pior que ela seja, ainda é a melhor solução. Aprender com os erros, enfrentar os obstáculos e buscar soluções reais para as situações conflituosas que enfrentamos é a melhor saída que temos para vencer os pensamentos mágicos. Caso contrário, continuaremos nutrindo-os e cada vez mais enrolando nossa vida.