SACUDINDO A TERRA

Por sebastião maciel costa | 29/09/2023 | Educação

                                                           SACUDINDO A TERRA

        Existe uma velha fábula que conta sobre um cavalo que caiu num poço. Pela dificuldade em retirar o cavalo de lá, por ser muito, apertado e o cavalo ser muito pesado, o fazendeiro acabou optando por sacrificar seu animal e decidiu que ele seria enterrado ali mesmo, no poço. Determinou então, que todos os funcionários da fazenda trouxessem sacos de terra e os fossem despejando dentro do poço, sobre o cavalo. Ninguém, de imediato, imaginava que à medida que a terra era despejada, o cavalo se sacudiria e o poço iria ficando cada vez mais raso, até que foi possível resgatar o cavalo, são e salvo, vivo e apenas sujo de terra. O cavalo não tinha consciência de que estando apenas se sacudindo estaria construindo uma estratégia de sobrevivência; os trabalhadores, no afã de cumprir as determinações recebidas focavam apenas no jogar as pás de terra; o patrão dera as ordens acreditando ser o último recurso.

        Vivemos algo parecido. A família, muitas vezes, sem saídas para enfrentar os ensinamentos das ruas e das redes sociais que são muito mais atraentes que as lições de vida que precisam ser ensinadas e aprendidas, encontra-se em uma encruzilhada. Essa luta diária se torna desigual, a criança vê “a galera” aprontando sem limites e sem reflexões. Os pais quando a enfrentam podem aproximá-la ou afastá-la; resgatar ou perdê-la. Tendo a escola como o espaço onde o seu filho irá cristalizar vivências, sistematizar conhecimentos, entrega aos professores a missão de seguir nos ensinamentos, nas lições, nos limites, nas normas que regerão o futuro de quem responderá pelo mundo do porvir.

        É por assim dizer que a escola é o caminho e a vontade deve vier com a criança.  Voltando ao cavalo da lenda, lutando pela vida, ele obteve como resposta, a sobrevivência. Os trabalhadores, como os professores, fazem s seu trabalho buscando a excelência no ensinar, no formar, no orientar, no estimular aos estudos, a levantar questões sociais que precisam ser trabalhadas com responsabilidade. A escola como o buraco onde o cavalo caiu não tem como selecionar o seu futuro aluno, ela acolhe a tantos quantos ali chegam para que o trabalho seja realizado. Nasce uma necessária parceira família-escola com o mesmo olhar, o mesmo foco, os mesmos objetivos: qualidade de vida e educação com excelência. Esse é o caminho, fora dele os resultados serão previsíveis, pois como saldo dos difíceis anos da última pandemia, quando as crianças precisaram ficar em casa e os pais precisavam trabalhar, os hábitos foram alterados, os limites foram modificados, as lições foram interpretadas com o auxílio dos celulares e o resultado de tudo isso, nem sempre é muito salutar.

        As dificuldades aumentam, os conflitos se manifestam, o trabalho aumenta e, cada vez enobrecedora se torna a missão do ensinar, do  aprender, do criar parcerias entre quem ensina e quem aprende como resposta ao grande desafio das próximas gerações.     O mercado, tentando sair do fundo do poço, faz todos se sacrificarem e tentarem se moldar às novas condições. Assim como aconteceu com o fazendeiro, existem soluções que, mesmo não aparentes de imediato, podem nos tirar do fundo do poço. Para isso é preciso ao menos pensar, planejar e criar movimentos. Movimentos geram energia ao redor! Parar de respirar não é a solução, definitivamente.

        Quando se coloca no foco das discussões o melhor meio de formar pessoas, a família após realizar o seu trabalho de educar para, conduzir o seu filho educado para aprender a ser. É pois na escola, espaço destinado á escolarização de conteúdos que serão preparados os adultos conscientes, profissionais competentes, agentes seguros de si e do seu papel, para uma sociedade mais justa. Os cavalos têm condições de sair do fundo do poço, mas precisam pelo menos ter a vontade. A escola não joga a terra, ajuda a sacudir as famílias que, aliando-se à escola conhece o seu trabalho, seus planos, suas propostas, suas lições, seus ensinamentos, para juntos se  descubra como sacudir a terra que a tecnologia, a inteligência artificial, os inflencers digitais, as drogas, o desemprego e as carências insistem em confundir a criança na escolha de caminhos que nos conduzam a  todos ao grande objetivo de vencer e fazer jus à grandeza da espécie humana.

        Aos pais, cabe a missão de continuar cuidando e contribuindo para o crescimento do seu filho. Com os conflitos  internos e externos ocorrem em todas as etapas de vida da criança e do adolescente, o diálogo é o grande caminho. Não o diálogo pelo diálogo, mas o diálogo com a compreensão do objeto em discussão. Um diálogo para obter os melhores resultados precisa registrar que os envolvidos tenham compreendido perfeitamente o que foi dito, o que foi apresentado, o que foi ensinado sob pena de esse “diálogo” tornar-se inóquo. Quando o professor apenas dita a lição para o seu aluno mas esse não compreendeu do jeito que lhe foi possível, de pouco adianta. E, para que se cumpra o ensinamento é preciso que haja o entendimento.

         Um outro item desse rol de possibilidades está a questão da inteligência: artifical ou emocional?. Os pais deste século precisam mais do que nunca, estudar, se aualizar, buscar entender o universo das linguagens  que povoam o universo dos seus filhos. A inteligência emocional é definida   como a capacidade de uma pessoa  gerenciar seus sentimentos, de modo que eles sejam expressos de maneira apropriada e eficaz. Onde o controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo. Já a Inteligência Artificial enquanto um campo da ciência cujo propósito é estudar, desenvolver e empregar máquinas para realizarem atividades humanas de maneira autônoma não vem para anular a emocional, mas cria um campo de discussão que precisa ficar muito bem definido entre o que a criança aprende e sabe sobre e a forma como os pais conhecem e lidam com tudo isso. Mas para maior estabilidade nas relações pessoais, familiarese sociais, aos pais cabbe estimular, discutir, desenvolver a inteligência emocional para que seus filhos possam viver de forma segura,  para enfrentar os desafios da vida.

        Ao alcançar a compreensão de alguns pontos que os cerca  a criança e o adolescente passam a tomar ou pelo menos querer,  tomar decisões por conta própria. Precocemente esses novos seres querem mostrar que são hábeis e que vendo alguns amigos agirem de forma livre, por assim terem sido criados, precisam imitá-los, até para não serem mal vistos na turma. Aí nasce o perigo: pais contestam um determinado comportamento mas o filho reage que todo mundo faz. O pai responde que não é pai de todo mundo. Quem já não passou por isso? Esse é o momento de os pais determinarem quem manda em casa, quem precisa ser ouvido, quem precisa ouvir, quem precisa ser ditar e quem precisa compreender para obedecer. 

         Ainda que seu filho seja uma pessoa madura para a idade ele, os pais continuam sendo os líderes da casa. Por isso, mostrar que a criança pode e deve dar opiniões, mas que a decisão final é dos pais ou responsáveis. Aí é que entra a necessária habilidade dos adultos: buscar não agir com autoritarismo, que é quando impomos uma vontade nossa sobre o outro, pois isso afasta os filhos. Contudo é preciso mostrar de quem é a autoridade com responsabilidade.  Isso quer dizer que há hierarquias na família e as mesmas devem ser respeitadas para o próprio crescimento saudável dos filhos. Crianças, adolescentes e jovens que ainda não possuem limites e regras em casa terão dificuldades para se relacionar na sociedade. Muitas vezes, as famílias falham tentando acertar, criam, dentro  de suas possibilidades, referências invertidas ou inadequadas de liderança,   gerando prejuízos ao desenvolvimento dos filhos em todos os sentidos. E, à escola pouco resta para desfazer esses equívocos. Enquanto isso, perde-se tempo e oportunidade de uma aprendizagem saudável, prazerosa e com excelência para todos.

  • Sebastião Maciel Costa
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