Sacolas Plásticas: O Lixo em Circulação
Por José Robério de Sousa Almeida | 31/10/2008 | AmbientalMayara Régia Alves de Almeida1
1 - Técnica em Meio Ambiente pela Faculdade de Tecnologia Centec – FATEC.
1 - Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará - UECE/ Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos - FAFIDAM. Avenida Dom Aureliano Matos, 2058, Limoeiro do Norte – CE.
E-mail: mayararegiasjj@hotmail.com
INTRODUÇÃO:
Os resíduos sólidos apresentam grande diversidade e complexidade. As suas características físicas, químicas e biológicas variam de acordo com a sua fonte ou atividade geradora. Fatores econômicos, sociais, geográficos, educacionais, culturais, tecnológicos e legais afetam o processo de geração de resíduos sólidos tanto em relação à quantidade quanto à sua composição qualitativa. Uma vez gerado o resíduo, a forma como é manejado, tratado e destinado pode alterar suas características de maneira, que em certos casos, os riscos à saúde e ao ambiente são potencializados. (JÚNIOR, 2006).
A sacola plástica é um objeto utilizado no cotidiano para transportar pequenas e grandes quantidades de mercadorias. São também uma das formas mais comuns de acondicionamento do lixo domestico e, através da sua decoração com os símbolos das marcas, constituem uma forma barata de publicidade para as lojas que as distribuem. Dada a sua extrema leveza, quando não bem acondicionadas, têm a tendência de voar e espalhar-se pelo meio ambiente, causando grande poluição. (WIKIPÉDIA, 2008).
O plástico vem tomando conta do planeta desde 1862, quando foi inventado pelo inglês Alexander Parkes, reduzindo os custos dos comerciantes e incrementando a sanha consumista da civilização moderna. Tornando o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções com o derrame indiscriminado de plástico na natureza.
O Brasil é tido como o paraíso dos sacos plásticos, pois todos os supermercados, farmácias e o comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. E isso já foi incorporado na rotina do consumidor, como se o destino de cada produto comprado fosse um saco plástico. (TRIGUEIRO, 2007).
O plástico é considerado um material de fabricação de produtos de alta resistência, durabilidade e de baixo custo. A preferência pelo plástico também é dada à praticidade de conservação do produto, que muitas vezes até pode ser de finalidade descartável. Porém com o descarte do plástico no ambiente, este se torna nocivo devido a sua demora decomposição, as diversas formas de poluição por ele geradas e problemas ambientais. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2008).
A palavra plástico tem origem no grego plástikos, que significa moldáveis, uma característica essencial destes materiais. É a denominação de uma numerosa e prolífica de materias sintéticos formados por grandes moléculas, são materiais amolecíveis por calor ou solventes e, neste estado, facilmente moldáveis. Estão classificados em duas categorias: os termoplásticos, que sob pressão e calor, passam por uma transformação física, não sofrem mutação em sua estrutura química, e se tornam reversíveis, isto é, podem ser reaproveitados em novas moldagens; e termoestáveis ou termofixos, quando sofrem uma transformação química sob efeito de calor e pressão, tornam-se irreversíveis, não podem ser reaprveitados. As sacolas plásticas estão na primeira categoria, a dos termoplásticos. (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2008).
Feitos de resina sintética origianadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Segundo a linhagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. Nas sacolas de supermercados a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno linear, polietileno de alta densidade ou de prolipropileno, polímeros de plásticos não biodegradáveis, com espessura variável entre 18 a 30 micrometros. (TRIGUEIRO, 2007).
Cerca de 70% dos sacos plásticos, latas, garrafas e pneus são depositados no fundo do mar. O restante navega pela superfície ou fica preso nos grandes giros oceânicos. Esses lixões são devastadores para a vida marinha. Golfinhos, focas e tartarugas ficam presos em redes de pesca e morrem sufocados. Peixes e pássaros engolem pedaços de plásticos e metal e também perdem a vida. Estima-se que o lixo acumulado nos mares seja o responsável direto pela morte de 1 milhão de aves e mamíferos marinhos por ano. Quase todo esse lixo chega aos oceanos levados pelas águas dos rios ou é arrastado pela maré de praias emporcalhadas. São despejados 675 toneladas de resíduos sólidos por hora no mar – e 70% desse total é constituído de objetos feitos de plásticos. (SCHELP, 2008).
Em Daca, capital do Bangladestesh, a sacola plástica provocou catástrofe. O rio que banha a capital ganhou por diversas vezes barragens artificiais de sacos plásticos. Os entupimentos de esgotos foram responsáveis por cheias devastadoras em 1988 e 1998. Essa situação exigiu tomada de medidas drásticas. Éexpressamente proibido, por lei, a manufatura, compra e posse de sacos de polietileno e são aplicadas pesadas multas e até penas de prisão para reincidentes. (BRASIL, 2007).
Em oposição à poluição das sacolas plásticas vem sendo a algum tempo introduzidos a sacola oxi-biodegradável, uma tecnologia que deixa o ciclo de vida médio de uma sacola em 18 meses. O produto adicionado à composição do plástico é capaz de quebrar suas moléculas (que são muito grande) em partes menores facilitando a ação dos microrganismos.A degradação é química e biológica. A oxibiodegradação de um plástico é um processo em dois estágios: o plástico é convertido pela reação com o oxigênio (combustão) em fragmentos moleculares que são passíveis de serem umedecidos por água, e essas moléculas oxidadas são biodegradadas (convertidas em dióxido de carbono, água e biomassa por microorganismos). (PINTO, 2007).
A utilização da sacola oxi-biodegradável abriu uma polêmica entre especialistas. Segundo Esmeraldo (presidente do Instituto do PVC e do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos-Plastivida) o problema continua, pois os fragmentos desse plástico "ambientalmente correto" terminam carregados para rios, marés e lençois freáticos e as consequências são imprevisíveis. Já Bosio (diretor comercial da RES Brasil) defende que tudo que é biodegradável não deixa resíduos na natureza e afirma que o produto existe desde 1970 e é usado em 53 países. Ele diz que o plástico não é apenas fragmentado, mas consumido por microrganismos depois que o aditivo reduz seu peso molecular, e, por conseguinte, é biodegradável. Este processo continua até que o material tenha sido biodegradado e sobre apenas CO2, água, húmus e elementos residuais. (PINTO, 2007)
O presente trabalho teve por objetivo a realização de um levantamento de dados por um questionário analisando o perfil das pessoas que usam sacolas plásticas no dia-dia e a consciência dessas pessoas em relação ao problema ambiental no uso dessas sacolas, com a proposição de possíveis soluções para este problema.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia aplicada para a análise do perfil das pessoas que usam sacolas plásticas foi através de uma pesquisa de campo com a aplicação de um questionário a pessoas diversas. Foram entrevistadas 20 pessoas, em consultas aleatórias, no município de São João do Jaguaribe – CE, entre os dias 25 e 29 de agosto de 2008.
Para a realização da pesquisa de campo foi elaborado um questionário, abordando os temas: uso e reuso da sacola plástica, problemas no uso da sacola plástica, ciclo de vida das sacolas plásticas, intervenção estatal na utilização das sacolas plásticas.
Junto com a abordagem dos temas citados, fez-se a identificação do perfil dos entrevistados facilitando a tabulação dos dados e uma correlação entre os resultados. A abordagem foi feita sem apelo ambiental para que o entrevistado respondesse de acordo com seu cotidiano e seus conhecimentos. A questão ambiental foi introduzida para analisarmos a consciência ambiental do entrevistado e sua devida incrementação ao meio em que vive.
Juntamente com o questionário foram feito um levantamento bibliográfico sobre a problemática das sacolas plásticas, os problemas já ocorridos, tempo de vida no meio ambiente e possíveis soluções para o devido problema.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O questionário foi elaborado com o maior número de perguntas possíveis, com o perfil do entrevistado e sua opinião em relação à sacola plástica e o meio ambiente. Das pessoas entrevistadas 30% eram do sexo masculino e 70% do sexo feminino (gráfico I). No perfil do entrevistado perguntou-se sobre idade, estado civil, escolaridade, profissão, religião e número de filhos e observou-se que as características mais significativas foram escolaridade e faixa etária.
Dentro da faixa etária dos entrevistados observou-se que 15% está entre 1 a 20 anos, 65% está dentro da faixa de 21 a 40 anos, 15% entre 41 e 60 anos e 5% está acima de 60 anos como é visto no gráfico II.
Porcentagem de pessoas de acordo com o sexo: Homens=30%; Mulheres=70% |
Porcentagem de pessoas de acordo com a faixa etária: [0 a 20]=15%; [21 a 40]=65%; [41 a 60]=15%; [61 acima]=5%. |
De acordo com a escolaridade 25% dos entrevistados tem apenas o ensino fundamental, 25% o ensino médio e 50% têm ensino superior (gráfico III).
Porcentagem de pessoas de acordo com a faixa etária: E. Superior= 25%; E. Médio=50%; E. Fundamental=25% |
De acordo com o gráfico IV, 45% dos entrevistados diz que a oferta da sacola plástica não é o diferencial na escolha do supermercado e que não mudaria se o mesmo deixasse de oferecer a sacola, enquanto que 55% diz que é essencial e indispensável o uso da sacola plástica.
Dos entrevistados 70% não estaria disposto a levar ao supermercado uma outra alternativa para carregar suas mercadorias no lugar da sacola plástica, enquanto que apenas 30% estaria disposto a levar seu próprio meio transporte como é mostrado no gráfico V.
Porcentagem de pessoas que mudariam de supermercado se este não oferecessem sacola plástica: SIM: 55%; NÃO: 45% |
Porcentagem de pessoas que estaria disposto a usar uma outra alternativa para carregar suas mercadorias: SIM: 30%; NÃO: 70% |
Verificou-se que 90% dos entrevistados reutilizam as sacolas plásticas recebidas nos supermercados. Entre as formas mais usadas são acondicionamento de lixo, transporte de outros materiais e mercadorias. Os outros 10% diz não reutilizar a sacolinha, jogando-as diretamente no lixo, mostrado no gráfico VI.
Do total de entrevistados 95% tem consciência que o uso abusivo de sacolas plásticas podem acarretar algum problema ambiental e 5% acha que não causa nenhum problema ambiental, representado no gráfico VII. Dos que acham que a sacola pode causar algum dano ambiental perguntou-se o tipo de problema e observou as seguintes respostas: aumento na quantidade de lixo, problema com a fertilização do solo, obstrução de esgotos, poluição, emissão de gás quando queimadas, morte de animais quando ingeridas.
Porcentagem de pessoas que reutiliza as sacolas plásticas: SIM: 90%; NÃO: 10% |
Porcentagem de pessoas que acham que as sacolas podem acarretar algum problema: SIM: 95%; NÃO: 5% |
Foi perguntado ao entrevistado se ele daria preferência a um supermercado que não utilizasse sacola plástica por razões ambientais e observou-se que 60% disse que daria preferência se tivesse a opção, contra 40%, como é mostrado no gráfico VIII.
Quanto à participação estatal, 70% mostraram-se de acordo com a intervenção do estado em proibir o uso de sacolas plásticas por causa dos impactos ambientais e os custos envolvidos para recuperação de danos e 30% foram contra a intervenção estatal (gráfico IX).
Porcentagem de pessoas que dariam preferência a um supermercado que não utilizasse sacolas plásticas: SIM: 60%; NÃO: 40% |
Pessoas que seriam a favor da intervenção do estado: SIM: 70%; NÃO: 30% |
Em análise detalhista, observa-se que a maior parte dos entrevistados era do sexo feminino, tendo em vista que as mulheres é quem mais vai ao supermercado, utilizando dessa forma com maior frequencia a sacolinha. E na faixa etária, o maior número de entrevistados encontra-se na faixa de 21 a 40 anos como discriminado nos gráficos I e II, respectivamente.
De acordo com a escolaridade a maior parte dos entrevistados (75%) tem ensino médio e superior, onde podia se esperar uma maior conscientização e preocupação com o meio ambiente. No entanto, 55% dos entrevistados mudariam de supermercado se este não oferecesse sacola plástica, jugando o uso da sacola imprescindível no dia-a-dia, observa-se que dentro destes 55% estão pessoas com ensino fundamental e alguns com ensino médio e dentro de uma faixa etária de 21 a 40 anos. Analisando os dados e através da vivência durante as entrevistas percebe-se uma grande marca do traço cultural e o consumismo exacerbado por parte dos consumidores entrevistados, principalmente na faixa etária de 20 a 60 anos e com grau de escolaridade menor. Nos mais instruidos percebe-se que não fazem questão do uso da sacola e estão abertos a novas alternativas menos prejudiciais ao meio ambiente.
No decorrer das entrevistas foi observada a falta de conhecimento dos entrevistados em relação a problemas ambientais e de algumas alternativas como a coleta seletiva e separação de lixo reciclável. Percebe-se ainda, que uma parcela considerável da população, inclusive os de ensino superior, desconhece os problemas ambientais gerados pela sacola plástica.
Dos entrevistados uma parcela considerável diz que o uso abusivo de sacolas plásticas pode acarretar algum problema ambiental, mas boa parte destes desconhece os problemas. Na grande maioria, quase que 100%, não tinham a minima noção de quanto tempo durava uma sacola plástica para se degradar no meio ambiente.
Das pessoas que disseram não dar preferência por supermercado que não utilizasse sacola plástica por razões ambientais vimos que boa parte tem ensino superior ou ensino médio, podendo concluir que até as pessoas mais instruídas ainda se encontram leigas para a questão ambiental e pouco preocupadas com o meio ambiente.
Em relação à intervenção estatal observou-se que grande parte é a favor da proibição do uso das sacolas, mas desses que foram a favor, alguns disseram não dar preferência a supermercados que não utilizasse a sacolinha por razões ambientais, constatando assim que essas pessoas fazem uma grande confusão de idéias em relação a meio ambiente e preservação do mesmo. Dos que disseram ser contra, vemos pessoas com ensino superior, mas na grande maioria são pessoas de ensino médio e fundamental, com idade entre 18 e 44 anos. Essas pessoas nos supreende, pois são pessoas de uma faixa etária bem jovial e que tem, geralmente, bastante flexibilidade em assuntos polêmicos.
CONCLUSÃO
Os resultados encontrados nos permitem concluir que uma parcela considerável da população desconhece os problemas ambientais gerados pela sacola plástica, onde podemos atribuir a diversos fatores como a precariedade no sistema de informações sobre os produtos que circulam, uma cultura anti-ambientalista decorrentes das pessoas que sabem os problemas, mas não dão importância, e entre estas pessoas estão as que têm curso superior. Podemos relacionar a preferência pela sacola plástica e o pouco valor dado às consequências ambientais, há um inconsequente consumo imediatista por parte do consumidor.
Diante desses dados obtidos e com um olhar criterioso para uma solução, consideremos que seja impossível uma mudança imediata em relação ao uso abusivo das sacolas, a não ser, uma intervenção estatal proibindo o uso das mesmas, juntamente com uma educação visando uma modificação na cultura já tão incorporada do uso inconseqüente de tudo, onde o que vale é a praticidade.
A melhor alternativa seria realmente o não uso dessas sacolas, pois de um jeito ou de outro elas irão prejudicar o meio em que vivemos principalmente nos lugares onde o acondicionamento de lixo é precário. A substituição desse material por algo menos agressor ao meio, o uso alternativo de outras formas de transporte de materias seria sim a escolha mais inteligente.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Witer.Sacolas de plásticos e o marketing de varejo [online]. 20 de fevereiro de 2007. Disponível em: http://www.chamame.ws/m2/2007/02/sacolas-de-plsticos-e-o-marketing-de.html . Acesso em: 12/08/08.
FABRO, Adriano Todorovic; LINDEMANN, Christian; VIEIRA, Saon Crispim. Utilização de sacolas plásticas em supermercados [online]. Revista Ciências do Ambiente, fevereiro de 2007. Disponível em: http://sistemas.ib.unicamp.br/be310/include/getdoc.php?id=228&article=75&mode=pdf.- 15/08/08.
JÚNIOR, A. B. de Castilho. Gerenciamento de resíduos sólidos urbanos com ênfase na proteção de corpos d'água: prevenção, geração e tratamento de lixiviados de aterros sanitários. Rio de Janeiro-RJ: ABES, 2006.
PINTO, Mônica. Polêmica no problema das sacolas plásticas. [online] Ambiente Brasil, outubro de 2007. Disponível em: http://jumgyn.blogspot.com/2007/10/polmica-no-problema-das-sacolas.html. Acesso em: 16/08/08.
PORTAL SÃO FRANCISCO. História do plástico. Disponível em: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/historia-do-plastico.php. Acesso em: 16/08/08.
SCHELP, Diogo. Ambiente: o lixão dos mares. Revista Veja. Edição 2071, ano 41, nº 30, 154 p. Ed. Abril, 2008.
TRIGUEIRO, André. A farra dos sacos plásticos [online]. 24 de maio de 2007. Disponível em: http://ashera0008.multiply.com/journal/item/14. Acesso: 12.08.08.
WIKIPÉDIA. Saco de plástico. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Saco_de_pl%C3%A1stico. Acesso em 12/08/08.