SABERES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR

Por Micheli da Silva Campos | 29/08/2017 | Educação

Resumo

Neste artigo relataremos o desenvolvimento do Projeto  realizado com os alunos da Escola Estadual Iara Maria Minotto Gomes no Município de Juara/MT. O referido trabalho faz parte do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID). O nosso projeto esta vinculado ao departamento de Pedagogia, cujo objetivo é atender os alunos com dificuldades na alfabetização. O trabalho teve duração de um ano, o que contribuiu para a nossa formação acadêmica. Os resultados deste estudo apontam  que as dificuldades podem ser superadas quando as ações e proposições pedagógicas assumem uma perspectiva de alfabetização e letramento despertando no educando o gosto pela leitura e a compreensão de sua função sociocomunicativa.

 Palavras Chave: Práticas de Leitura; Alfabetização, Letramento.

INTRODUÇÃO

Neste texto, inicialmente conceituamos o que vem a ser o projeto PIBID, que no município de Juara, esta sendo realizado pelos acadêmicos do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Mato Grosso na Escola Estadual Iara Maria Minotto Gomes.

Nosso objetivo é trabalhar com projetos de iniciativa ao PIBID que nos auxilia para que possamos ir ao encontro dos alunos auxiliando com planejamento específico para cada dificuldade apresentada pelos mesmos seja na leitura, na escrita. E assim fazendo uma ponte com a professora regente para que o aluno desenvolva as habilidades e competências.

Somos um grupo de 15 bolsistas em processo de formação inicial que estamos tendo a oportunidade de vivenciar a relação teoria e prática efetivamente numa escola de Ensino Fundamental.

No nosso artigo, discutiremos inicialmente o que é o PIBID e como atua nas Universidades, quais seus objetivos e metas. Num segundo momento, faremos uma discussão entre alfabetização e letramento, conceitos estes que dão sustentação a nossa prática na escola. Em seguida, apresentamos os resultados alcançados com o referido trabalho.

 

1. PIBID (Programa Institucional de bolsas de iniciação a Docência)

O PIBID é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica.

O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino.

Os projetos devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde o início da sua formação acadêmica para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas sob orientação de um docente da licenciatura e de um professor da escola.

 

Objetivos do Programa

 

  • Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica;
  • Contribuir para a valorização do magistério;
  • Elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação básica;
  • Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem;
  • Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como com formadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério;
  • Contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura.

Como funciona?

 

  • Instituições de Educação Superior interessadas em participar do PIBID devem apresentar à Capes seus projetos de iniciação à docência conforme os editais de seleção publicados. Podem se candidatar IES públicas, comunitárias, confessionais e filantrópicas sem fins lucrativos que oferecem cursos de licenciatura.
  • As instituições aprovadas pela Capes recebem cotas de bolsas e recursos de custeio e capital para o desenvolvimento das atividades do projeto. Os bolsistas do PIBID são escolhidos por meio de seleções promovidas por cada IES.

 

2. DISCUTINDO  ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Emília Ferreiro nasceu na Argentina em 1936. Doutorou-se na Universidade de Genebra, sob orientação do biólogo Jean Piaget, cujo trabalho de epistemologia genética (uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança) ela continuou, estudando um campo que o mestre não havia explorado: A escrita.

A partir de 1974, Emília desenvolveu na Universidade de Buenos Aires uma série de experimentos com crianças que deu origem às conclusões apresentadas em Psicogênese da Língua Escrita, assinado em parceria com a pedagoga espanhola Ana Teberosky e publicado em 1979.

 Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 30 anos do que o da psicolinguista argentina Emília Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

 

Soares como uma das pesquisadoras destaca que em todas as áreas do conhecimento o educando aprende práticas de leitura e de escrita. Em cada área a leitura e escrita têm suas peculiaridades que o professor que nela atua é que conhece e domina. Sendo assim, letrar configura-se em função e obrigação de todos os professores. Porém, cabe ao professor da área de Língua Portuguesa maior responsabilidade em relação ao letramento. Ou seja, enquanto o letramento é um instrumento de aprendizagem para os professores de outras áreas, para o professor de Língua Portuguesa ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo mesmo de seu ensino.

De acordo com Soares (2001), o termo letramento é uma palavra recém-chegada ao vocábulo da educação e das Ciências Lingüísticas. Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas do reconhecimento de um fenômeno que, por não ter até então significado social, permanecia submerso. É somente na segunda metade dos anos 80 que a palavra letramento surge no discurso dos especialistas dessa área com maior intensidade.

 

O explicar sobre o surgimento da palavra letramento, Soares (2001, p. 16) enfatiza: “[...] novas palavras são criadas ou a velhas palavras dá-se um novo sentido quando emergem novos fatos, novas ideias, novas maneiras de compreender os fenômenos”. A autora explica que a denominação letramento é uma versão em português, da palavra inglesa literacy, que vem do latim littera (letra), cujo sufixo – cy, denota qualidade, condição, estado, fato de ser. Assim, literacy é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Segundo esse conceito, está implícito que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.

 

Soares (2003, p.24), nos leva a refletir sobre o fato de não ser comum o uso da palavra alfabetismo, “[...] estado ou qualidade de alfabetizado”, enquanto seu contrário, analfabetismo, “[...] estado ou condição de analfabeto”, é termo familiar e de universal compreensão.

Assim, analfabeta é aquela pessoa que não sabe ler nem escrever, é a parte marginalizada da sociedade e, portanto não tem acesso aos bens culturais das sociedades letradas. Por sua vez, alfabetizado é o termo utilizado para descrever aquele individuo que aprendeu a técnica da leitura e da escrita. Sendo que, para designar o estado ou condição de quem responde adequadamente às intensas demandas sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita propõe-se o termo letramento (SOARES, 2003).

De acordo com Soares (2000), o problema do analfabetismo no Brasil, vem desde os tempos da colonização portuguesa, fato relativamente superado nas últimas décadas, fruto das exigências do desenvolvimento social. Isto porque as sociedades do mundo inteiro tornaram-se grafocêntricas (sociedade centrada na escrita) não só na cultura do papel, mas também na cultura da tela, propiciadas pelas recentes tecnologias de comunicação eletrônica (o computador, a rede, a Internet). Sendo assim, em sociedades letradas ser alfabetizado é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às práticas sociais do letramento.

 

RESULTADOS  DO PROJETO

 

Aqui apresentamos os resultados obtidos através do projeto desenvolvido com os alunos da Escola Estadual Iara Maria Minotto Gomes no Município de Juara/MT. O projeto teve início em agosto de 2012 e terá o seu término em agosto de 2013.

 Sabemos da importância da leitura e da escrita na vida de nossas crianças. No início das atividades identificamos que as crianças não reconheciam o próprio nome. As leituras que faziam estavam no plano da linguagem não-verbal, através de símbolos e signos.

Ao iniciarmos o desenvolvimento do Projeto na Escola, fizemos um diagnóstico para identificarmos qual era a fase de alfabetização em que as crianças estavam para posteriormente pensarmos as atividades apropriadas para cada caso.

Todo criança apresenta um ritmo único no processo de evolução. Cada pessoa tem uma história particular e única, formada por sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural. Esse fato ocorre tanto no ambiente familiar quanto no escolar.

 Da mesma forma que uma criança engatinha, fala, anda etc. precocemente ou tardiamente em relação uma das outras, no processo de aprendizagem ocorre o mesmo com o aluno.

Ao se tratar de educação não existe receita pronta. Mas isto não significa que não existem caminhos que possam ser seguidos, de maneira que venha a contribuir para atuar em situações, em especial com o ritmo de aprendizado de cada indivíduo, independente da faixa etária É fundamental ao professor o respeito ao ritmo de aprendizagem de cada aluno, sendo extremamente necessário buscar estratégias que venham melhorar o desempenho daqueles que apresentam evolução mais lenta.

Para FERREIRO (1989, p.24):

O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças. Quando tentam compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido. Além do mais, a fim de registrarem a informação, elas a transformam. Este é o significado profundo da noção de assimilação que Piaget coloca no âmago de sua teoria. (1986, p.24)

 

Valorizamos a leitura de mundo que essas crianças já tinham, e começamos a construir instrumentos que pudessem contribuir com a aprendizagem delas; no decorrer do semestre que já trabalhamos na escola, construímos livros com estórias enfatizando a importância da construção dos valores, trabalhamos com jogos educativos, como o alfabeto móvel, atividades de coordenação motora, atividades de recorte e identificação de palavras, distribuímos fichas com gravuras e a forma escrita correspondente, para a criança ler e relacionar ao desenho. 

As crianças antes mesmo de ir para a escola já têm uma leitura de mundo. Ou seja, elas fazem uma leitura de objetos, identificam rótulos, logotipos e começam a dar sentido às coisas que as cercam. Segundo Freire (2005.p.12) “primeiro fazemos a leitura de mundo, do pequeno mundo que nos move, depois fazemos a leitura da palavra” Em relação ao ato de educar Paulo Freire afirma que:

 

       Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo, ou seja, o ato de educar, de se ensinar a ler, precisa se constituir em um pacto entre o educador e o aluno. (FREIRE,1987, p12).

 

De uma forma geral, trabalhamos com a ludicidade no processo ensino-aprendizagem, onde as crianças aprendem brincando. No final do semestre de 2012, realizamos a Gincana da Alfabetização, onde todas as crianças do turno matutino e vespertino atendidas pelo projeto puderam participar. Na gincana, tivemos jogos que ajudavam a desenvolver o raciocínio lógico, como o boliche dos números; o túnel das letras, a pescaria do alfabeto, entre outros. Durante o desenvolvimento da Gincana, pudemos perceber que as crianças haviam aprendido o que trabalhamos durante o semestre, pois, conseguiam desenvolver as atividades com facilidade e motivação. A aprendizagem aconteceu de forma muito prazerosa, uma vez que, enquanto brincavam aprendiam. Os  resultados foram parciais, uma vez que, nosso projeto encontra-se em pleno desenvolvimento. Nesse sentido, estamos aprendendo metodologias diferenciadas de alfabetização, como o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação no processo de alfabetização. Entendemos que o trabalho docente constrói-se e transforma-se no cotidiano da vida escolar.  

 

Trabalhamos com os alunos com diversas leituras  onde os mesmos se divertiam com as ilustrações e figuras contidas nos livros de histórias fazendo assim com que o  letramento seja um instrumento de aprendizagem para os professores de outras áreas, para o professor de Língua Portuguesa ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo mesmo de seu ensino.

Nesse sentido, Kleiman (2006) assevera que o desenvolvimento da língua oral e o desenvolvimento da língua escrita se suportam e se influenciam mutuamente. Nos meios letrados, onde a escrita faz parte da vida cotidiana da família, ao mesmo tempo em que a criança aprende a falar ela começa a aprender as funções e os usos sociais da escrita. Desse modo, essa criança poderá se tornar leitora e produtora de textos. Essa mesma autora ainda afirma que as crianças oriundas dos ambientes familiares onde o letramento se encontra presente resultam em maior sucesso no desenvolvimento inicial da leitura, e consequentemente maior sucesso nas primeiras séries escolares.

Neste sentido, Kleiman assevera que:

 As deficiências do sistema educacional na formação de sujeitos plenamente letrados não decorrem apenas de o professor não ser um representante da cultura letrada, nem das falhas num currículo que não instrumentaliza o professor para o ensino. As falhas, acredito, são pressupostos que subjazem ao modelo de letramento escolar (KLEIMAN, 2006, p. 47).

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O objetivo deste artigo foi demostrar o trabalho desenvolvido através da aplicação do Projeto vinculado ao PIBID e a Universidade que  procurou auxiliar os alunos da Escola Minotto Gomes do Município de Juara/ MT ; a suas dificuldades no processo de alfabetização e letramento.

O processo de alfabetização deve se desenvolver em um contexto de letramento com o desenvolvimento de habilidades e competências no uso da leitura e da escrita. Compreendendo as práticas sociais que envolvem a língua escrita. A ação pedagógica deve voltar-se para atitudes de caráter prático em relação a esse aprendizado; entendendo que a alfabetização e letramento, devem ter tratamento metodológico diferentes visando com isso alcançar o sucesso no ensino e aprendizagem da língua escrita, falada e contextualizada.

Concluímos o Projeto com a sensação de ter realizado um bom trabalho com os alunos, pois mesmo que os resultados foram parciais. Pode-se concluir que as dificuldades de leitura apresentada pelos alunos podem ser superadas quando as ações e proposições pedagógicas assumem uma perspectiva de alfabetização e letramento despertando no educando o gosto pela leitura e a compreensão de sua função sociocomunicativa.

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler - em três artigos que se completam. 29 ed. São Paulo: Cortez, 1994.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. Ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.

 

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização/Emília Ferreiro: tradução Horacio Gonzalez (et.al.) – São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1985.

 

FERREIRO, Emília. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed., 3.reimp, - Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

 

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.25. Jan./abr.2004.

 

http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid

 

KLEIMAN, Ângela B. Os Significados do Letramento. 9ª Reimpressão. Campinas – SP: Mercado de Letras Edições e Livraria LTDA, 2006.