S.O.S Porto seguro

Por Reinaldo Müller (Reizinho) | 03/11/2010 | Sociedade

Era uma vez....

Nos idos anos de 90 a 95 Porto Seguro vivia no melhor dos mundos quando as operadoras que ali atuavam, compravam os leitos dos hotéis de outubro a março, pagavam adiantado e a um bom preço.

Era a época da fartura, pouca oferta e muita procura...

Esta corrida desenfreada levou os hoteleiros a tomarem empréstimos junto à rede bancária para aumentarem a oferta do número de leitos necessários para fazer face a esta grande demanda.

Os anos se passaram e atraídos pelo grande filão outros investidores para ali foram, aumentando, desordenadamente, o número de empreendimentos hoteleiros sem que houvesse em contrapartida um trabalho sistemático de Promoção de Porto Seguro como atrativo turístico para suprir a enorme oferta de leitos que passaram a existir.

Entrementes, os juros acordados com as instituições financeiras foram aumentando, exponencialmente, enquanto os valores das diárias foram sendo reduzidos a números assustadores em decorrência direta da conjuntura instalada.

As operadoras que ali atuavam, tais como; Viagens Costa, CIBRATUR, ATI, Capital, Pan Word, e por fim a Soletur, foram falindo uma a uma devido à recessão do país, trazendo prejuízos homéricos para a hotelaria e a própria cidade em si, visto que a região tem a sua atividade econômica refletida, unicamente, pela ocupação hoteleira.

Dado o grande número de leitos, baixa ocupação, e preços sucateados pela concorrência, tornou-se impraticável honrar o pagamento dos empréstimos assumidos remetendo para a atualidade uma gigantesca dívida acarretando o arrolamento em juízo do patrimônio dos empreendedores construído às custas de muitos anos de trabalho e poupança.

Os anos se seguiram e os empreendimentos hoteleiros continuaram a serem feitos sem que nenhuma ação governamental oficial viesse a ser tomada para disciplinar e regulamentar esta especulação descontrolada.

Atualmente, a receita de grande parte da rede hoteleira local mal consegue cobrir as despesas operacionais, comprometendo, inclusive, o desempenho organizacional das empresas agravado mais, ainda, pela necessidade de se fazer manutenções periódicas dos equipamentos desgastados pelo uso, ao longo do tempo.

Hoje, o fluxo turístico de Porto Seguro está reduzido para no máximo 90 dias anuais, a saber: Reveillon, Janeiro, Carnaval, Semana Santa, final de abril e "Semana do Saco Cheio".

Este curto período de ocupação obriga vários hotéis de porte a ficarem fechados por até três meses, tendo em vista que é melhor suspender as atividades nestes tempos críticos do que trabalhar com acentuado prejuízo.

Cabe registrar, que muitos empresários no ano de 2003 e 2004 tiveram até que vender propriedades particulares para pagarem fornecedores e dívidas bancárias.

Atualmente, existem duas operadoras remanescentes atuantes em Porto Seguro, caso da PNX que possui aeronaves próprias e somente ocupa sua própria rede hoteleira e da CVC que freta aeronaves da TAM e GOL, possui rede de hotéis próprios na cidade e além de ocupá-los também, ocupa leitos de outros hotéis. Hoje, Porto Seguro é monopólio da companhia de turismo CVC.

As outras unidades hoteleiras que não estão engajadas neste esquema ficam à mercê da própria sorte canibalizando suas diárias para conseguirem sobreviver.

Um dos maiores problemas de Porto Seguro é a ausência de um planejamento anual de mídia oficial (autoridades municipais) lembrando que atrativos turísticos tem ali em profusão: lindas praias, águas mornas e cristalinas (ainda não poluídas), sítios ecológicos e outras tantas maravilhas naturais.

Os maiores interessados no resgate da saúde hoteleira são as instituições bancárias que financiaram os empreendimentos e hoje estão vendo a insolvência da maior parte dos contratos.

Espera-se ações integradas entre Governo, Bancos e o empresariado local que possam promover a captação progressiva e sistemática de turistas nas esferas nacional e internacional, proporcionando sustentação financeira para pagar os empréstimos contratados, realinhar todas as tarifas defasadas, recompor custos, recuperar os empreendimentos, atualizar os equipamentos e, também, sanar as obrigações fiscais contraídas junto aos órgãos competentes.

Acredita-se, que investimentos direcionados para o segmento de turismo de negócios e eventos podem alavancar grande número de visitantes para a região, resultando num aporte financeiro considerável.

É fundamental a retomada de Porto Seguro como destino turístico privilegiado, à altura do que lhe fora predestinado desde os tempos primórdios quando vencendo as intempéries dos mares ali chegaram os primeiros ilustres hóspedes em 22 de abril de 1500.

Reinaldo Müller
Consultor de Marketing
e-mail: reinaldomuller@hotmail.com