Rua do Oriente! “Se a Rua do Oriente Falasse.
Por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos | 11/11/2020 | FrasesRua do Oriente!
“Se a Rua do Oriente Falasse
“Se a Rua do Oriente Falasse.
- Ela me diria:
Vi-te crescer como um intinerante Rouxinol!
E te avistei cantando, a voar pelos ares de minha vila.
- Logo Retruquei!
Foi daí onde nasci,
Cresci alimentado por broas
Com as deliciosas Bolachas fogosas e Marai-maluca
Na Bodega do Sr. Roseno.
As palmas feitas na fornalha do Chico Palmeira.
A chegadinha do andarilho ao som do triângulo,
Sentindo o adocicado da puxa vendida nas calçadas
Encobertas com o melaço do açúcar.
Amenizando o calor da Rua do Oriente!
Deliciei-me com o dim-dim caseiro nas tardes de verão,
A tapioca com coco ralado num prato e bandeja de alguidar.
O refresco de peroba na geladeira do seu Chico Cabeça-torta.
Na bacia, o tijolinho de coco do Raimundo boca-mole
Tudo isso comprado com alguns trocados de vinténs.
Lembro-me de todas as peripécias pregadas por mim.
Já faz algum Tempo!
Milho verde e cozido ao redor da Pracinha Maria Tomásia.
No Carrinho, a venda do algodão doce rodando feito pião.
O bate-bola com Tadeu, e Rouxinho no Clube Country Clube.
O Futebol-de-salão na casa do Sr. Manés com Gilson e Fernando.
A brincadeira na chuva fazendo a barragem,
No chão pisado jogando o bila-bojo com (bola-de-gude).
O cortar de cabelo com o Sr. João Paiva e Sr.Chico Bento.
Pela manhã tomando leite mungido do Seu Lero.
Pegando sanháçu e papa-arroz num bozó na cerca da Cachorra Magra.
As limpezas nas residências feitas por Chico-Capricho.
No inverno, o retelhar das casas tirando goteiras por Seu Zé-Bode.
O fumo para minha avó comprado na bodega do Sr. Gerardo Malandro.
Tudo isso comprado com algumas moedinhas de cruzeiro.
Ao cair da tarde contando “Trinta e Um” no poste
Tirando o Cai no Poço com as filhas do Seu Magela
E as paqueras da outra rua.
No meio-fio da calçada do seu Toim Capoteiro
Correndo e brincando de pega-pega na Rua do Celeiro
Derrubando castanhola defronte
A residência do Sr. Neutônio e degustando com sal.
Admirado pela perfeição da rede de pescar feita na garagem
De portão azul do Sr. Zé do Carmo.
As bombas rasga-lata e traques do Sr. Osmar da Pernambucana.
As bijuterias enterradas na calçada o Seu Zacarias Sena
O fogaréu das fogueiras de Santo Antônio, São João São Pedro.
Nas casas da Rua do Oriente!
As cocadas da Maria Lulu,
Das ervas e plantas medicinais no quintal de Dona Úrsula
Com a Cidreira, Malva, capim-santo, romã, mastruz e boldo.
Os curiosos na Ponte Grande olhando as cheias do Rio Acaraú.
O sentar nas cadeira de balança batendo papo com os amigos e compadres.
Nas calçadas da Rua do Oriente!
Presenciei o vai e vem das lavandeiras
Com suas trouxas de roupas na cabeça
No rosto a alegria de mais um dia de luta.
O grito de goool do Fortaleza
Transmitido pelo rádio de pilha de Sr. Antônio Leão.
O barulho do chocalho e o cheiro do leite
Das vacas paridas do Neusion Vasconcelos,
Vindo a tardinha lá da Corte-Oito, da Vargem-Grande e Marrecas.
Vi a entrega do leite nas portas das casas
Levado por jumentos com quatro latões,
Dependurado na cangalha com canecos d'água abastecendo jarras e potes das casas.
Me encontrei na minha rua empinando pipa (papagaio)
Feito por mim o grude, com papel celofane e palito de coqueiro,
Tiradas na surdina do quintal da casa do Sr. Benedito Frota.
A venda de carvão na lata de querosene,
Para alimentar o fogareiro com a panela de feijão com mocotó.
Acompanhei a travessia da Procissão de Ramos,
Percorrendo a Rua do Oriente com a multidão cantando
As novenas de São Francisco nas residências
E o terço das irmãs do Atibones Ximenes tirado nas casas
Com a Imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Ah! Minha rua. Rua de Origem! Rua do Oriente!
Da outrora Sobral na reminiscência da Fazenda Caiçara
De Vila formosa tornou-se uma opulenta Metrópole
Do gado com a charqueada.
O sertanejo ao passar na rua com seu gadinho
Para escapar da seca, levando-o para Serra da Meruoca.
E dos vazanteiros carregando nas costas o seu sustento,
Um surrão de feijão atraído pelo Acaraú.
Minha rua! Rua Bela! Rua do Oriente! Meu Passado! Meu Presente!
TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO
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Wilamy Vasconcelos é professor, poeta, historiador, memorialista. Cronista e escritor. Em 2020 publicou o Livro Luzia-Homem em cordel e Prosa. Uma homenagem dos 170 anos (1850-2020) ao filho e escritor sobralense Domingos Olympio, autor do romance Luzia-Homem. Membro da Academia de Letras do Município do Ceará. Publicou o livro Einstein e Sobral – A cidade Luz em 2019, em alusão ao Centenário da Relatividade (1919-2019). É Autor do livro os “Estados Unidos de Sobral publicado em 2018. Lançou um livro poético “Tempo de Sol” e Sonhos do Amanhã na Primeira FliNau no Náutico Atlético cearense em Fortaleza. Uma de suas paixões é escrever literatura de Cordel. Na Literatura Popular escreveu o “Barão de Sobral”. O “Candidato e o Eleitor” . Na crônica lançou o “Diário de um Professor” e na Poesia é autor do Poema “Doce Loucura” e a “Poesia é um Saco”. Colaborador de artigos jurídicos e artigos de opinião na web.