ROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XVIII: “BOICOTES”  (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 17/03/2018 | História

 

Data: 22.09.98, 13:00 horas, outra ligação para Jorge:

  • Oí, é o Jorge Felipe. Telefonei várias vezes para o teu celular, tocou, tocou, mas não atendesse.
  • Olha eu acho que desliguei.
  • O quê? Não!
  • Ah é, realmente eu deixei na minha sacola e fui almoçar, tens razão.
  • Pois o negócio lá da Tereza mixou.
  • É, parece que sim.
  • Não, mixou mesmo, falei com ela.
  • Sim. Eu também falei com o Júlio ontem à noite.
  • Conseguiste falar?
  • Sim, foi por volta das vinte e três horas.
  • E daí, o que ele disse, não vai dar para vir mesmo?
  • É verdade, diz ele que tem um resultado da pesquisa lá que coloca ele em primeiro lugar na região do vale.

(...)

  • Mas Jorge, independentemente disso, eu vou fazer a festa com o pessoal da Penitenciária. (Felipe)
  • Tudo bem, mas sem a presença do Júlio fica ruim, eu não tenho como fazer, o meu pessoal quer conversar com o candidato.
  • Sim, eu até entendo, mas tu vê, o Júlio disse que faltam treze dias para as eleições e tem sido exigido ao máximo a presença dele na região. Segundo a pesquisa ele é candidato para dezessete mil votos.
  • Isso na região?
  • Não, dentro de Rio do Sul. O Heitor aparece em quinto lugar. Eu disse para ele que a gente não quer o mal de ninguém, mas que com essa votação seria difícil ele chegar lá, pois isso representaria cerca de seis a sete mil votos e mais o que ele pegar na Polícia Civil, e tu vê, na época em que Heitor se elegeu pela última vez chegou a fazer quase trinta mil votos, só que ele era um dos homens mais fortes do governo Amin, além de ter toda a Secretaria de Segurança na mão,  imagina agora que ele vai ter que repetir quase que aquela votação, acho muito difícil.
  • É, o Heitor é homem de uns doze mil votos.
  • Falei também daquela situação do Redondo, sobre o Detran, o Júlio disse que tudo é conversa e que não tem nada decidido.
  • Realmente, nem é o momento para se tratar disso agora.
  • É, pensei até em falar para ele sobre aquela tua situação para cargo de Adjunto,  mas me recolhi, achando que não era o momento, o importante é o nosso “Plano”,  essa é a nossa meta maior e o Júlio sabe disso, dele depende o seu futuro, o governo na área de segurança, ele é o padrinho político, não tem retorno.
  • Não. Não é o momento.
  • Outra coisa, hoje a noite tem o nosso jantar?
  • Sim, estaremos lá, inclusive vamos discutir essa questão da festa do Júlio.
  • É Jorge, seria bom se você, o Krieger e o Garcez estivessem lá, ainda mais que o Júlio não vai estar.
  • Essa situação tem que ficar bem clara para o pessoal, de que o Júlio não poderá ir.
  • Certo.
  • Para a reunião de hoje vamos convidar o Wilmar?
  • Não. Não vamos mais fazer isso, na  semana passada tu conversaste com ele e depois eu também, marcamos a reunião até para mais tarde para facilitar a sua vinda e ele preferiu o futebol a estar conosco.
  • Jorge, mas não é bem assim, a gente tem que ser um pouco tolerante.
  • Não, deixa. Já o Cláudio é diferente.
  • É Jorge nós temos que investir em gente nova, como o Krieger.
  • Ele é notável.
  • Pois é, como nós, possui história, no caso dele há o currículo que impõe respeito, nesse sentido é que acho que tem que ser preparado para o futuro, aliás, para qualquer cargo, seja Delegado-Geral ou Procurador, temos que investir nesses novos. Outra coisa é o “Plano”, acho que nós vamos acabar tendo que peitar isso, como fizemos com as LCs 55/92 e 98/93, a fim de evitar muitas discussões.
  • Pois é, tens razão, mesmo correndo o risco de um Sell da vida depois dizer que a lei não presta.
  • Ele fala isso porque não foram eles que fizeram. Além do mais existe aquele ditado do Antonio Carlos Magalhães: “Dos amigos a gente deve falar bem no mínimo uma vez por dia, dos inimigos a gente deve falar mal no mínimo duas vezes por dia”. Então, é essa a tática.
  • É isso aí mesmo...
  • O Garcez, apesar de ter aqueles problemas já melhorou muito, é outra pessoa, e é principalmente daqueles do primeiro momento, por isso deve ser também muito valorizado, mas é isso aí, a gente se vê à noite.
  • Sim, tu falares com o Garcez que eu falo com o Krieger. Eu estava pensando em convidar aquele menino, o Quilante, para participar do nosso jantar, o que tu achas?
  • Acho que não Jorge, ele é muito bom, mas é do grupo do Redondo e isso pode gerar algum atrito, deixa assim, vamos evitar qualquer ponto de discórdia. De mais a mais o grupo do Redondo pode interpretar isso como  “cooptação”, já viste como é.
  • Concordo. Eu só fiz essa pergunta para ver se tu fechavas comigo.
  • Hummm, certo. Até à noite Jorge.

17:00 Horas:

  • Alô, Mário?
  • Fala Felipe.
  • Tudo bem, como que foi o encontro?
  • Tudo bem, eu estou aqui com o Dr. Lorival na Secretaria, mas precisava falar contigo.
  • Certo.
  • Não, eu precisava mesmo, sem falta.
  • Tá certo, eu ligo daqui uns vinte minutos.
  • Tá certo.

17:55 Horas:

  • Alô, e daí...?
  • Tudo certo?
  • Como é que está o nosso dinheiro...?

Na verdade o Delegado Jorge Xavier já havia telefonado por volta de 16:30 horas, pedindo para que eu fizesse contato com Mário Martins para saber sobre os salários relativos ao teto salarial (lembrei que o Jorge Xavier estava em dificuldades financeiras) e estava evitando falar com Mário Martins desde o episódio da reprovação do “Cesinha”  na prova oral do concurso para Delegados, considerando que participou da banca da prova oral com os Delegados Ademar Resende e Poeta. Por essa razão especial é que Jorge Xavier pediu que eu fizesse essa ponte e também porque era parte interessada para tirar dúvidas salariais. No encontro do Hotel Castelmar Jorge Xavier ouviu o Delegado Braga e os demais comentarem que no encontro dos Delegados do final de semana Mário Martins (o Presidente da ADPESC) iria tratar desse assunto salarial na semana seguinte. Nesta conversa com Mário Martins deixei a conversa fluir naturalmente:

  • Eu estou tratando da situação dos vinte Delegados que ficaram de fora da isonomia, eles não eram sócios e a ação deles nem foi julgada ainda. Eu estou usado o Trilha como bode expiatório, na verdade a gente nem deveria estar defendendo o interesse deles.  (Mário Martins)
  • Realmente, mas o negócio é unir a classe, escuta e o encontro lá como foi?
  • Foi bom, apesar de que quarenta e um do interior desistiram na última hora, mas isso foi por causa do temporal, o pessoal da Capital poderia ter ido em maior número.
  • Mário é verdade que o pessoal comissionado foi impedido de ir?
  • Sim. É verdade.
  • E isso partiu de quem, foi da Secretária?
  • Sim. Foi ela que impediu o pessoal de ir, mas veja bem Felipe ela quis empurrar goela baixo a ida do Paulo Afonso (Governador) na Assembleia, não dá né! Também eu tinha que agir assim até para resguardar o Paulo Afonso, imagina se um velhão daqueles lá resolve dizer uma besteira para ele, como é que nós vamos consertar depois isso?
  • Sim, sim, nesse sentido acho que agiste bem, não se pode misturar duas coisas tão diversas, política com um encontro de classe, ainda mais nessa época. Mas ontem o “Pedrão” (Delegado Pedro B. Bardio) saiu com essa história lá no Castelmar e eu quis tirar a limpo. Outra coisa é o nosso atrasado relativo ao teto, estais sabendo de alguma coisa, sai essa diferença ainda nesse governo?
  • Não saí. Não adiante que não sai mais nesse governo. Para tu teres uma ideia eu estava ontem falando com o Vice-Governador e mais o Cleto da Secretaria de Administração e vi aquelas pensionistas dos treze e quatorze mil reais brigando por atrasados e não tem dinheiro. Agora que parece que eles vão acertar alguma coisa.
  • Pelo menos a gente fica sabendo a real, ontem também falei com o Júlio.
  • Mas tu soubeste da última, o Heitor saiu com uma aí que o Thomé teria recebido dez mil reais de mim para ser entregue em Rio do Sul para o Seu Joãozinho, sogro do Júlio para ser investido na campanha.
  • É mesmo, mas o Heitor não faria uma coisa dessas, talvez o Pedrão ou o Sell, não sei.
  • Não, isso é coisa do Heitor, é ele que maquina essas coisas, o Pedrão e o Sell vão no embalo e fazem a divulgação.
  • É difícil de acreditar Mário.
  • Não Felipe, é ele mesmo, outra coisa, a Hebe está eleita.
  • Eu sei, ela vai fazer uma boa votação no norte do Estado e o nosso pessoal como é que está?
  • Olha Felipe, só tem dois que estão bem: O Heitor e o Júlio.
  • Ou será que não é o Júlio e o Heitor?
  • É isso aí!
  • Quanto a Hebe eu até entendo a tua posição de estar apoiando ela, é importante manter essa porta aberta, até porque a Associação precisa fazer oposição e na Assembleia ela pode ajudar muito, existe aquela máxima: Há governo, eu sou contra.  Acho que a ADPESC tem que se guiar por aí, sem extremismos é claro,  mas deve fazer oposição, mais é isso aí.
  • Pois é Felipe eu preciso falar mais contigo.
  • Mas há alguma coisa em especial?
  • Não, mas  é até para relaxar, relaxar mesmo e saber das coisas.
  • Tudo bem, quando precisar faz contato que a gente conversa, estamos aí, um abraço.
  • Outro.