Romantismo no Brasil: história resumida e análise de poema.

Por MONIQUE GOMES GABAS DOS SANTOS | 26/09/2017 | Literatura

Monique Gomes Gabas dos Santos

Romantismo no Brasil: história resumida e análise de poema.

Resumo
          Neste artigo,vermos um pouco sobre o Romantismo no Brasil, estudando um dos autores brasileiros, Gonçalves Dias e faremos uma análise literária em um dos poemas desse autor, “Canção do Exílio”.

Romantismo no Brasil
          O Romantismo no Brasil foi marcado por grandes transformações políticas, na primeira metade do século XIX, quando a família real mudou-se para o Rio de Janeiro e o Brasil foi elevado à categoria de Reino.
          A implantação do Romantismo no Brasil está ligada ao projeto de construção nacional que se descreveu antes. Os autores que se encarregaram de renovação dos padrões literários fizeram-no como quem cumpria uma missão civilizadora, contribuindo para dotar um novo país de uma expressão original e legítima dos sentimentos nacionais.
          O Romantismo teve uma duração de aproximadamente meio século, evoluindo por três gerações de poetas. Gonçalves Dias foi o primeiro grande poeta do Romantismo brasileiro. Estudaremos abaixo, um de seus poemas famosos e a seguir, faremos uma análise literária.
         

Poema: Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Canção do Exílio

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossas vidas mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar-sozinho, à noite-

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o sabiá.

 

Gonçalves Dias

 

Comentário sobre o autor

          A Canção do Exílio foi o primeiro grande momento da inspiração do poeta Gonçalves Dias. Ainda que não tivesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome gravado para sempre no coração e na memória a sua gente. De fato, é um dos poemas mais conhecidos popularmente no Brasil.
          Gonçalves Dias, nasceu no Maranhão, era filho de um comerciante português e de uma cafuza (mestiça de índia com negro). Essa origem mestiça foi causa da grande frustração de sua vida: a família da jovem Ana Amélia não aceitou seu pedido de casamento e, aparentemente, o poeta nunca se recuperou dessa recusa. Seus principais poemas amorosos têm origem nesse episódio.
          Estudou em Coimbra, onde produziu os poemas de seu primeiro livro, publicado em 1846. O sucesso foi imediato, e Gonçalves Dias gozou em vida a fama de maior porta brasileiro.
          A tuberculose levou-o mais uma vez à Europa, em busca de cura. Desenganado, voltou ao Brasil, em 1864, mas morreu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, já na costa do Maranhão.    

 

Análise do poema                 

           Canção do Exílio foi publicada em 1846, na obra “Primeiros Cantos”, de Gonçalves Dias. É uma poesia romântica, onde há fortes traços de nacionalismo através de simbologias. Os poetas tentavam criar um símbolo nacional e descobrir o que era o Brasil sem a influência da européia.  

Vamos analisar cada estrofe:

  1. Minha terra tem palmeiras,
    Onde canta o Sabiá;
    As aves, que aqui gorjeiam,
    Não gorjeiam como lá.

          O autor, já faz uma simbologia logo no início. Ele usa o “sabiá” para representar a fauna brasileira e “palmeiras” representando a flora. Em seguida, o autor faz uma comparação entre as faunas, de forma generalizada, pois não especifica uma ave, como fez com sabiá. Ele diz apenas “aves”, mostrando que o que tem no Brasil não será encontrado em lugar algum. O poema,dá entender que o eu lírico não está no Brasil, mas declara a lembrança que tem de sua terra, com os termos “lá” e “aqui”.

 

1.Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

 Na segunda estrofe, o eu lírico continua fazendo comparações, colocando sua pátria acima de outra.

 

2. Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá

          Neste trecho, consegue-se entender que o poema surge de um pensamento que o eu lírico teve quando estava com saudade do Brasil.

 

3.Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

           Primores “significa superior, perfeita, ou seja, no lugar em questão apresenta imperfeições ao contrario do Brasil; deixa clara a superioridade do Brasil em relação às outras.

 

4.Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

          Aqui, o eu lírico pede a Deus para que não o deixe morrer antes de voltar para sua terra e desfrutar dos primores. Porém, observamos na história do autor, algo bem parecido. Ele havia saído do Brasil, procurando cura para doença em que estava acometido e morreu no navio, não conseguindo chegar ao Brasil. Podemos concluir, sem afirmar com extrema certeza, que o autor, não conseguiu realizar o sonho de voltar para sua terra tão amada.

Análise estrutural do poema

           A Canção do Exílio é um poema romântico, composto por cinco estrofes e vinte e quatro versos. Os versos são heptassílabos, ou seja, formados por sete sílabas poéticas. A estrutura das estrofes é: as três primeiras são quartetos e as últimas duas, sextetos. O poema apresenta expressões qualificativas, em uma comparação entre “lá” e cá. “Lá” refere-se ao Brasil e “cá” a Portugal.

          É possível encontrar no poema, rimas, anáforas, aliteração e anonimação, como veremos abaixo:

Rimas são repetições de uma sequência de sons a partir da vogal da última sílaba tónica do verso:  “Sabiá” / “lá” – alternada toante; “flores / “amores” – consoante.

Anáfora é uma figura de linguagem na língua portuguesa, que consiste na repetição consciente de determinada palavra com o intuito de reforçar seu sentido: “Sem que eu volte lá” / “Sem que desfrute” / Sem qu’inda aviste”.

Aliteração é uma figura de linguagem da língua portuguesa,que caracteriza a repetição consecutiva de sons consonantais idênticos ou parecidos, principalmente em versos ou frases: “primores” / “palmeiras”.

Anonimação é emprego de palavras derivadas do mesmo radical, numa mesma frase, ou em frases próximas. Pode ser um tipo de pleonasmo.: “Nosso céu” / “Nossas Várzeas”; “Nossos Bosques” / “Nossa vida”.

          Toda essa estrutura é de grande importância para a cadência do poema, ou seja, a sucessão regular dos sons.

         Também é importante, a reiteração que há no poema: “As aves que aqui gorjeiam” / ”Não gorjeiam como lá”; Nossos bosques têm mais vida” / ”Nossa vida mais amores”. E algumas repetições: “Minha terra tem palmeiras”, “Onde canta o sabiá”, que formam o ritmo do poema.

          Podemos observar, figuras de linguagem no poema, como: “Minha terra tem palmeiras”, onde ocorre uma metáfora, ou ainda, “ As aves aqui gorjeiam”, antítese, “ Nosso céu tem mais estrelas”, metonímia, “ Que tais não encontro eu cá” e “ Mais prazer encontro eu lá , comparação e por fim, “ Nosso céu tem...”, “ Nossas várzeas te...”, “ Nossos bosques tem...”, “ Nossa vida...”, anáfora.