REVELAR-SE COM PAIXAO
Por João Charlet Pereira Júnior | 13/10/2016 | SociedadeAs mais ousadas invenções, descobertas e avanços científicos fizeram com que nosso planeta progredisse muito mais aceleradamente nestes dois últimos séculos do que em todos os outros juntos. Alcançamos a Lua; levamos sondas até Marte; diminuímos as distâncias; vencemos a velocidade do som; atingimos elevados índices de progresso e de conforto nas formas de comunicação e geração de informações. Mesmo com notórios avanços, continuamos mergulhados na selva da incompreensão mútua.
Viver tornou-se uma tarefa de difícil adaptação ao meio físico, social, familiar e político. Nada pode suprir a Sabedoria da Natureza. Quanto mais o homem altera as condições ambientais, na maioria das vezes degradando-as, tanto mais frágil torna-se sua capacidade de ajustamento e integração.
O conhecimento humano está sendo desafiado pelos micro-organismos, numa batalha que aumenta a cada novo ciclo de “evolução” desses seres. A Medicina, ciência abraçada por uns e simulada por outros, não está no mercado como uma profissão qualquer e incansavelmente cumpre sua missão na luta contra as ameaças à saúde e à vida, mesmo que, por vezes não resultando num retorno financeiro satisfatório, mas presenteando seus profissionais com o que há de mais puro na alma: a gratidão.
Eu te louvo e admiro, Medicina. Mais ainda quando és praticada dentro da filosofia humana; quando és sensibilizada pelo princípio carismático de uma profissão; quando seus atores evitam as velas acesas em torno de seus figurantes. És linda quando encontras soluções para os efeitos deletérios dos parasitas patogênicos. Queria dizer mais, porém não sou médico para entender por que alguns de seus colegas esquecem seu juramento e que seus pacientes são patrimônio de Deus.
Oh, Medicina, outros te querem bem somente. Eu não. Quando estais vestida de Oftalmologia e passas em frente aos meus olhos, não é a iluminura do branco que me penetra os sentidos, é a própria Ciência; num diadema de ansiedade para que eu enxergue o mistério da visão; para que eu veja a terra revolta pelos arados e acolchoada em flor; para que eu veja a selva grávida de fartura e magia.
Quando estais vestida de Neurologia, eu sinto em todos os meus sentidos as informações sensoriais dos bilhões de neurônios, com as sinapses permitindo tatear teus panos macios com o comportamento racional humano de emoção acima da razão.
Quando estais vestida de Otorrino, ouço e compreendo as esperanças que anuncias; aspiro o cheiro selvagem que trazes das longas caminhadas dos ventos; tenho na boca o gosto das madrugadas que despontam; enfim, tenho por ti a ânsia de um noivado e te possuo num abraço absoluto e infinito.
Quando passas trajada de Obstetra, sinto o perfume forte de maternidade e carícia completando o trabalho da Natureza.
Eu sintetizo em ti, Medicina, todas as minhas alegrias e ambições. Comovido, eu te saúdo em nome daquele ator que também a amou e já se foi – Dr. Luis Charlett Pereira.
Eu te louvo, Medicina pequena de ciência, grande para uns, e Medicina grande de ciência, pequena para outros, para que não sofras como muitos indigentes em hospitais, e seus atores passando de um lado para outro sem expressar remorso, sem perceber que aquele moribundo pode ser a representação de Deus a dizer: estou doente e não me amenizas a dor.
Então, quando perceberes meu rosto pálido, sem sintonia, a minha boca que tanto lhe defendeu e não balbucia mais, um coração trancado por tanto bater à sua procura, os ouvidos que não lhe escutam mais, os olhos, que tanto lhe testemunharam, já duros e sem brilho, aí então deixe este corpo baixar ao seio da terra sim generosa e farta, para que a poeira sangrenta de minha carne se misture com a poeira da terra, tornando-se pó, e renasça mais tarde um defensor mais forte que eu, para revelar-se com paixão por ti, minha querida Medicina.
Salve o dia 18 de outubro, que é seu dia, médicos varonis! Deus transferiu a vocês alta escala de talentos ao doar aquele Amor-Divindade de suprema dignidade até os limites possíveis para salvar o que Ele criou.
Parabéns!
Dados do autor:
João Charlett Pereira
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