RETRATO (EXTRA)

RETRATO (EXTRA)

   

      

         Sou dionisíaca. Dos meus pulmões sai o ar da vida, o sopro pleno da energia vital. Faço parte de algo sobrenatural. Sonho sonhos, falo revelações que me são reveladas. Vivo na plenitude da minha própria vida, da minha progressiva vitalidade. Sou indivíduo de mim mesma.

         Sou dionisíaca, pairo no ar e ouço. Escuto notas canoras e danço, sou embalada pelo vento que me leva. Meu espírito entra na sonoridade e se dilui nela. Já não sou eu, ou melhor, agora sim sou eu.

         Sou apolínea. Vejo a plenitude da vida por etapas, por medidas, por formas. Tudo é explicado, observado. Passo sutilmente a mão sobre os contornos dos acontecimentos. Posso criar sobre o que existe e posso criar sobre o caos para que exista.

         Minha mente espiritual tem o domínio da minha mente racional. Tenho liberdade total para a inspiração nascente que está sempre e harmoniosamente renovada junto ao fulgor da natureza.

         Na verdade, sou o direito e o avesso, sou o barulho e o silêncio, a ilusão e o real.