Ressonâncias de um passado.
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 29/09/2012 | PoesiasRessonâncias de um passado.
Apenas um costume.
Um estilo de vida.
Natural.
Secreto.
Habituei-me.
O habito.
Naturalmente.
Transformou em cultura.
Não tive outra saída.
Faltou-me reassunção.
Como se fosse rebanho.
Reboco reativo.
Tardiamente.
Recidiva ao tempo.
O mundo teria que ser dessa forma.
Polimorfo.
Acostumei-me.
Um dia era Fernando.
Outro um imitador.
Não tinha perspectiva.
Um mundo inexcedível.
O sol brilhava.
A terra girava.
O fenômeno da noite.
O movimento das estrelas.
Tantos universos paralelos.
Onde ficavam as essências.
Imaginárias.
Platônicas.
Quem era a minha pessoa.
Nunca pude saber desse fato.
A exuberância.
A minha especulação.
Metafísica.
Até sabia da origem.
De onde tudo iniciou.
Mas para onde vou.
É uma incógnita.
Refiro a metafísica.
Pelo menos parcialmente.
A inexorabilidade do destino.
Metaforicamente.
Diria um segredo.
Mas sei a lógica do medo.
O pavor da misericórdia.
A imaginação dos deuses.
A escuridão da noite.
Mudei-me.
Naturalmente.
Na forma em que sou.
Sem saber das diferenças.
Esse mundo ingrato.
Mesmo sendo bom.
Tudo é errado.
Até o mesmo caminho da fluência.
Mas o medo indelével.
De saber a verdade.
O que é a verdade.
Apenas o não ser.
A inexistência.
O mundo é essa lógica.
Imperceptível.
A vida a ausência de tudo.
Ate mesmo da sua realização.
Estou aqui
Porque tive que estar.
Mas estou fluindo.
Estou indo.
Tenho que ir.
Não existe outro caminho.
A única coisa que sei.
É que não sou.
O resto é ilusão.
Um velho poeta.
Metafórico.
Perdido imensamente em uma trilha.
A única razoável para a reflexão.
Antes de ir.
Estou despedindo da natureza.
Das pedras.
Das arvores.
Dos velhos riachos de minas gerais.
Da cidade de Itapagipe.
É que a vida é uma partida permanente.
O tempo uma ilusão da existência.
Deixamos de ser.
Assim que originou a primeira partícula.
De átomo, feita de gelo.
E que perdeu indefinidamente no universo.
Somos ainda resquício dessa partícula.
Quanto a mim.
Sou o que sou.
Mas o que sou.
É a mesma coisa.
Do seu ser.
Talvez a diferença.
Que tenho sido.
Muitos outros.
A maioria deles.
Já morreu.
Engraçado um deles.
Restou em mim.
Ainda estou aqui.
Luto para ser eu mesmo.
Mas isso é impossível.
Tanto idiossincrasia.
Solitariamente.
Ainda tenho que dizer.
Possivelmente.
Virão outros.
Exatamente por esse motivo.
Nem mesmo nome.
Posso ter.
Apenas rosto e a linguagem.
O mundo é a repetição.
De ideologias.
Sem sentido.
Algumas completamente loucas.
Entretanto tidas como normais.
Uma delas.
Imaginar Deus.
A outra que o homem tem uma alma.
O homem não tem nada.
É um invólucro comum.
Sem diferença de um cabrito.
É inútil insistir.
Como se fôssemos especiais.
Não existe nada de especial no universo.
A não ser tão somente ele.
Ele é lindo.
Ruim é o que está nele.
Que forma ele.
Composto de gente imbecil.
Mas eles não se sentem idiotas.
Porque o idiota não se percebe.
É igual a um boi pastando o campo.
Já tive a oportunidade.
De sentar em um trilho.
Ficar uma tarde e uma parte da noite.
Olhando intensamente para a natureza.
Sentido cada movimento.
Como tudo isso é lindo.
E como tudo nasceu sozinho.
Do nada.
Sem uma fonte criadora.
Afirmo aqui nesse poema.
Com absoluta certeza.
Garanto essa verdade.
Deus não existe.
Não existe céu e nem inferno.
Não existe nenhuma forma condenatória.
Você é totalmente livre.
Pode fazer o que for bom para você.
Desde que não faça mal a outros.
Viva a sua vida.
A única vida que você tem para viver.
Após esgotar a sua vida.
Você será apenas um fluido de pó.
Sem nenhum vício a não ser o químico.
Antes você deixara de ser.
E vai deixando sem perceber.
Perdendo a si próprio.
Igual a uma estrela quando queima.
Seu hidrogênio.
E transforma num buraco negro.
Esperando a natureza toda.
Transformar no mesmo buraco.
E nós também transformaremos.
Durante milhões e milhões de anos.
Esperamos novas concentrações.
De energias.
Para surgir outras implosões.
Na espera de novos mundos.
Quem sabe um deles.
Possa ter vida.
Exatamente como a nossa.
O homo desenvolvendo a linguagem.
Deixando de ser apenas um primata.
Mais isso levará muito tempo.
Então aproveite a vida agora.
Esqueçam-se dos deuses.
Livram-se dos políticos.
Dos juízes e da polícia.
Também dos síndicos de prédio.
Dos comerciantes.
Possivelmente também.
Dos pastores.
Das ideologias.
Sejam em vossos interiores.
Livres.
Para vocês mesmos.
Façam tudo o que devam fazer.
Até a vida esgotar se.
Serás depois eternamente.
Um resquício de pó químico.
Perdido no vácuo.
Sem lei de gravidade.
Girando para todas as direções.
Grudados em outras partículas.
Esperando o acúmulo de energias.
Na esperançado universo renascer.
Mas você mesmo nunca mais poderá ser.
A não ser essa partícula perdidamente.
Grudada em tudo.
Então viva a única vida que teve a sorte de ter.
E não culpe ninguém a não serem os políticos.
Edjar Dias de Vasconcelos.