Resolução De Conflitos No Brincar Infantil
Por Marcos Teodorico Pinheiro de Almeida | 12/07/2008 | EducaçãoRESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO BRINCAR INFANTIL
(Por Marcos Teodorico Pinheiro de Almeida)[1]
Conflito é a oposição ou desacordo entre pessoas em relação com um mesmo assunto ou tema. Resolver os conflitos nos ajuda a crescer, evoluir e madurecer como pessoas. A resolução de conflitos através do brincar é um método indutivo de aprendizagem baseado na busca e descobrimento, por parte das crianças, dando respostas e soluções as questões planejadas em torno do problema. A resolução de problemas pode ser planejada em contextos de atuação individual, porém, como assinalam diversos autores, mas também pode ser planejada em um contexto de ação coletiva, oferecendo ótimas oportunidades e possibilidades.
A paz não é a ausência de conflitos, é a capacidade de resolvê-los sem prejudicar ao outro ou a si mesmo. Uma criança madura para o conflito é uma criança madura para a PAZ. (Adaptado por Almeida, 2007)
Para resolver conflitos necessitamos:
1) Não ficar nervoso
2) Pensar no que aconteceu
Quando conseguimos resolver os conflitos:
a) Sentirmo-nos bem;
b) Passamos a ter uma boa convivência com nossos colegas;
c) Temos a certeza que as soluções foram justas para todos.
O que devemos fazer em uma situação de conflito?
Em primeiro lugar não devemos:
a) Evitar;
b) Competir;
c) Ceder.
Em segundo lugar:
1) Devemos cooperar
2) Devemos negociar.
Em um conflito não é importante:
- Ser agressivo: a agressão é negativa, não só para quem a recebe é também para seu autor.
- Competir: impor nosso ponto de vista sem escutar o(s) outro(s)
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Em um conflito devemos ter em conta duas estratégias simples:
- Devemos dialogar para chegar a um acordo.
- O acordo tem que favorecer ambas as partes.
Para conseguir estas metas anteriores são necessários dois aspectos de intervenção no conflito:
1. Negociar: processo de discussão para chegar a um acordo aceitável para todos. O coletivo tem que estar satisfeitos.
2. Mediar: Um terceiro elemento que ajuda as partes chegarem a um acordo.
Acreditamos que quando um grupo tem o mesmo objetivo, ou um problema comum para resolver, se reúne forças em dimensões incríveis para produzir soluções. A participação do grupo na resolução de problemas é a única condição que leva aos âmbitos social, emocional e cognitivo a interação com grande intensidade e equilíbrio. Este processo de interação, para conseguir uma solução para beneficio de todo um grupo, implica no equilíbrio nos seguintes componentes:
1. Oportunidade de que todos os alunos podem sugerir soluções;
2. Oportunidade de provar a solução de qualquer um;
3. A negociação e modificação de soluções;
4. O esforço do grupo com respeito à solução aceita;
5. A tolerância do grupo com respeito à solução não aceita,
6. Um clima de inclusão.
A resolução de problemas em grupos cooperativos nos leva a importantes conseqüências educativas, tais como:
1. Produção de novas idéias;
2. Estimular cognitivamente as suas capacidades para resolver problemas e buscar soluções. Neste sentido, abre caminhos para o pensamento divergente e criativo;
3. A tarefa se converte em um processo coletivo de indagações onde as potencialidades cognitiva, motriz, social passam a ser uma só;
4. A transferência da decisão ao grupo durante os conflitos cria oportunidades para compartilhar idéias e confrontá-las com as demais. Deste modo, as conquistas são resultados do diálogo, da negociação e vivência dentro do grupo;
5. A satisfação do êxito é compartilhada coletivamente.
O brincar tem algumas características cognitivas que contribuem para aprendizagem e conseqüentemente na construção do conhecimento. Ao brincar a criança elabora esquemas que estabelece uma atividade conjunta e compartilhada onde demanda delas uma ação lúdica em três possibilidades:
1. Na colaboração
2. Na cooperação
3. A coordenação de ações lúdicas compartilhadas
Estas possibilidades devem ser utilizadas na busca de soluções em situações problemas ou na resolução de conflitos estabelecidas no brincar infantil. Algumas estratégias para uma boa negociação de conflitos na hora de brincar:
- Recolher a informação - a informação deve ser:
1. Objetiva.
2. Sistematizada.
3. Selecionado.
4. Classificada
5. Analisadas detalhadamente
- Definir o problema - se definimos o problema podemos conhecer e levar em conta as necessidades dos demais.
- Buscar alternativas - devemos estimular as pessoas implicadas no conflito a buscar e propor idéias ou alternativas.
- Imaginar conseqüências – imaginar o que aconteceria se este conflito não for resolvido
- Tomar uma decisão - recordar o conflito, as alternativas e suas conseqüências. Encontrar uma solução aceitável.
- Criar uma mudança - criar uma norma a partir do conflito. Aprender com o conflito.
Algumas pautas reflexivas e de condutas para os educadores infantis abordar os conflitos em situações lúdicas:
1. Descrever o conflito.
2. Explicar a historia: origem, evolução e situação atual.
3. Descrever o contexto em que acontece.
4. Apresentar as partes que se encontram em conflito.
5. Analisar o que originou.
6. Orientar positivamente o conflito.
7. Buscar propostas para solucionar de forma justa.
8. Avaliar as alternativas imaginando as conseqüências.
9. Tomar uma decisão.
10. Aplicar a solução adotada.
11. Avaliar os resultados: curto, médio e longo prazo.
O educador infantil deve estar atendo a duas situações:
- O que fazer - quando a criança quer chamar a atenção:
- Reconhecer a individualidade de cada criança
- Atender a cada criança como alguém especial
- Valorizar o que ela faz e o que tem de melhor
- Invitando a que expresse suas necessidades
- O que fazer - quando a criança tem a necessidade de ter amigos:
- Ensinar a reconhecer os sentimentos dos demais.
- Aprender a não culpar ninguém a menos que tenha visto a cena.
- Fomentando sua seguridade e auto-estima.
- Perguntar que necessitam para jogar em paz.
- Não se preocupar se o que faz, gosta ou não, os nossos colegas.
A prática em resolver conflitos nos cria confiança e habilidade. Com a prática e a confiança, as crianças podem enfrentar os conflitos em duas perspectivas:
1. Aprendem a resolver conflitos de forma cooperativa em uma situação lúdica, e educam-se em os valores para a convivência sustentável.
2. Serem crianças capazes de cumprir com seus deveres e exercer seus direitos como cidadãos de uma sociedade aberta e plural.
A importância do pacto na resolução de conflitos no brincar:
- O pacto é um recurso para prevenir e solucionar problemas.
- Pactar supõe que reconhecemos os problemas e opiniões do outro e buscamos uma solução que satisfaça a ambas as partes.
- Quando o pacto se rompe, podemos revisar o pacto, estabelecer novos pactos etc.
O educador infantil deve ter em conta e bastante cuidado nos seguintes temas:
- O castigo tem sentido se corresponde com a falta cometida e melhora a convivência geral;
- É importante racionalizar as normas com as crianças e que as assumam conscientemente, comprometendo-se a cumpri-las;
- A criança deve assumir conseqüências concretas relacionadas com a falta cometida, sempre proporcional e flexível.
Com melhorar a convivência lúdica infantil em um espaço estruturado para brincar:
1. As soluções de muitos problemas podem ser evitadas modificando a organização dos espaços e dos materiais lúdicos ou melhorar a prevenção.
2. Ter como principio básico de regulação do conflito, que o direito de brincar é para todos e todas e que o lúdico é de uso universal.
3. É importante estabelecer uma estratégia geral para solucionar o conflito, criar algumas regras, hábitos de convivência com funcionamentos claros e simples.
4. Quando alguém rompe ou quebra as normas (regras) buscamos uma solução positiva ao problema.
Acreditamos que soluções cooperativas em situações de conflitos no brincar pode ser uma estratégia educativa, criativa e libertadora. Em nosso ponto de vista solucionar conflitos de forma cooperativa é um recurso que favorece e estimula o desenvolvimento das capacidades pessoais e humanas dos atores envolvidos. Quando falamos em cooperação estamos nos referindo aos métodos de aprendizagem de cooperação através dos jogos cooperativos que permitam aos participantes potencializar as seguintes características:
- Satisfação dos Participantes
- Autoconceito Positivo
- Atribuição Interna
- Comunicação
- Criatividade
- Competência Motriz
- Aceitação dos Companheiros
- Convivência Intercultural
Nós educadores podemos Intervir no brincar infantil nos seguintes âmbitos:
- Afirmação pessoal e de auto-estima;
- Cultivo da confiança mutua;
- Desenvolvimento das capacidades comunicativas para compartilhar sentimentos, informação e experiências;
- Construção de um grupo que apóie a seus membros;
- Adoção de uma atitude positiva diante da vida e dos feitos cotidianos.
O professor pode criar alguns critérios metodológicos baseado em um enfoque sócio-afetivo: partindo da idéia de que o ensino supõe algo mais do que a transmissão de informação. Tem que ter um componente afetivo e experiencial. Assim as atividades das aulas, os conflitos e situações se convertem em experiências que se analisam e sempre que possível generalizam-se em situações da vida cotidiana dos envolvidos no processo. Critérios como ser: flexível, criativo, ativo, indutivo, participativo, integrador, motivador e lúdico. Além dos critérios sugeridos anteriormente o professor pode utilizar diferentes técnicas metodológicas de trabalho como: 1) Instrução direta; 2) Reprodução de modelos; 3) Gincanas de tarefas; 4) Formação de grupos em níveis; 5) Ensino cooperativo, e 6) Descoberta guiada ou induzida.
Reflexão final
Acredito que a escola pode ser um espaço qualificado para aplicar propostas educativas e de aprendizagens para a tolerância, e tenho a esperança, que o brincar pode ser um instrumento mediador para a formação moral, política, crítica e social das crianças. Podemos na educação infantil ter uma intervenção educativa para a tolerância e para resolução de conflitos por vias não violentas. Este momento educativo é propício para abordar e compartilhar as seguintes dimensões educativas propostas pela UNESCO, que são:
- Tolerância: Reconhecimento do direito dos demais a existir e a viver.
- Sociabilidade: Consciência positiva da presença dos demais em nossa esfera social.
- Respeito pelas diferenças: Reconhecimento dos aspectos positivos da diversidade.
- Compreensão da singularidade: Valoração da diversidade humana nas suas diferentes manifestações.
- Complementaridade como princípio da aceitação das diferenças: Capacidade de integrar as diferenças com o fim de enriquecer e fortalecer a sociedade.
- Reciprocidade como base da cooperação: Capacidade de conceber e promover o logro de objetivos comuns mutuamente vantajosos para grupos diversos.
- Cultura de paz: Reconhecimento da interdependência e dos valores universais; compromisso de perseguir ordenamentos positivos da diversidade em um mundo interdependente. (UNESCO-França, 1994)
Formar pessoas capazes de cumprir com seus deveres e exercer seus direitos como
cidadãos de uma sociedade aberta e plural é uma tarefa educativa muito difícil
na atualidade, mas não é impossível. Devemos rapidamente instrumentalizar,
oferecer e compartilhar com as nossas crianças conteúdos educativos que possam
permitir que elas resolvam os conflitos de forma pacifica e por vias não
violentas.
A la sociedad y a la escuela no le vendría nada mal recuperar la ilusión y la utopía. Collell, J., Escudé, C. (2003).
Um grande abraço Lúdico e cooperativamente amigo. E lembre-se não se deixa de brincar porque é velho, é velho porque paramos de brincar.
O autor
Sugestões bibliográficas
Almeida, M.T.P. Ludotecas cubanas: um espaço de inclusão através do brincar. In: 1ª Congresso Internacional em Estudos da Criança. Comunicação, 2, 3 e 4 de fevereiro. Braga-Portugal: Universidade de Minho-IEC, 2008. ISBN: 978-972-8952-08-2 (publicação digital)
Almeida, M.T.P. La educación física y la organización de situaciones lúdicas en centros escolares. Estudio para la mejora de la adquisición de competencias cívicas y de inclusión social. In: 1ª Congresso Internacional em Estudos da Criança. Comunição, 2, 3 e 4 de fevereiro. Braga-Portugal: Universidade de Minho-IEC, 2008.
Almeida, M.T.P. El jugar cooperativo: un camino rumo a la paz y la transdisciplinariedad. In:Coord. De la Torre, S. Oliver, C., Tejada, J., Bonil, J. Congrés Internacional d'Innovació Docent: Transdisciplinarietat I Ecoformació. Comunicación, marzo. Barcelona-España: Edición ICE UB. 2007.
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Almeida, M.T.P. Macro juego cooperativo. V Congreso Internacional de actividades físicas cooperativas, 30 de xuño al 3 de xullo de 2006, Concello de Alfareros. 1ª ed. Valladolid: España. La Peonza Publicaciones, 2006, pp. 1-33.
Carpena, Anna. Educación socioemocional en la etapa de primaria. España-Barcelona: Octaedro Editorial, 2003.
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Enero / abril 1998, http://www.xtec.es/~cciscart/annexos/revis.htm
(página consultada em 27/02/2008)
UNESCO. La tolerancia, umbral de la paz Guía didáctica de educación para la paz, los derechos humanos y la democracia. Paris- Francia: Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura,, 1994.(versión preliminar)
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[1] Professor da Universidade Federal do Ceará-UFC na Faculdade de Educação-FACED no Curso de Educação Física. Atualmente estudante de Doutorado na Universidade de Barcelona-UB.