Resgatando a nossa cultura gaúcha através de danças e pajadas na escola

Por Carina Bresolin Quadri | 23/11/2018 | Educação

RESGATANDO  A  CULTURA  GAÚCHA  NA  ESCOLA  ATRAVÉS  DE  PAJADAS  E  DANÇAS TRADICIONAIS GAÚCHAS.

                     A nossa cultura gaúcha, danças, poesias, pajadas, costumes e tradições geralmente não são trabalhados nas escolas da forma como deveria ser, ou seja,somente próximo aos festejos farroupilhas os professoresrealizam atividadessuperficiais referentes ao gaúcho. Segundo (Paixão Côrtes)“O tradicionalismoé um estado de alma e de espírito. É uma forma de rever as coisas do passado na preocupação de retirar elementos fundamentais que possam ser utilizados para consolidar o indivíduo na sociedade atual. Tradição não é voltar ao passado, mas cultuar o passado.” Que papel desempenha a escola na transmissão na nossa cultura gaúcha? FAGUNDES (1994), MAFIIOLETTI( 2008,2012), defendem a importância da dança não apenas como difusão cultural, mas como prática essencial para o desenvolvimento escolar e socialização dos alunos, principalmente na adolescência, etapa em que os educandos estão distanciando-se dos nossos costumes e tradições.

Pensando nisso neste ano de 2018, como amante das tradições gaúchas e dançarina há mais de 24 anos, trabalhei com alunos de 6º ano e 9º a nossa cultura gaúcha, em duas escolas do Município de São Marcos, E.M.E. F Antonio Pessini e E.M.E. F Francisco Doncatto através das danças, pajadas e muita pesquisa, na tentativa de fazer um resgate da nossa cultura e trazê-la para escola, cultuando as nossas tradições e fazendo com que os adolescentes sintam-se bem ao usarem uma pilcha, ou expressarem-se de forma gauchesca com as pajadas.  Esta temática é bastante significativa para mim, por ter acompanhado o trabalho de meus pais como tradicionalistas nas escolas públicas, sempre tentando resgatar nossos costumes e tradições através de apresentações e oficinas e também pelo fato de eu ter sido praticamente criada em meio aos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), rodeios e festividades ligadas ao meio tradicionalista.

Apesar do Tradicionalismo se manifestar principalmente dentro dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). Muller et all. 2006 apud Kramer; Leite, 1998; Lessa (1954) destacam que ele é um movimento cultural que também deve se manifestar em outros espaços e instituições de nossa sociedade como, por exemplo, nas escolas. Brum (2009) salienta a importância da dança tradicionalista, destacando que elaoportuniza um momento de culto às tradições, inclusive para não tradicionalistas que assistem as encenações.

Apesar de constituir-se em um importante componente da cultural, na maior parte das escolas do Rio Grande do Sul o Tradicionalismo ainda é lembrado apenas na semana do gaúcho (MULLER et all 2006), Como citei anteriormente.

        Este trabalho de resgate a nossa cultura gaúcha, iniciou-se em março de 2018 com pesquisas sobre o que são pajadas. E esta foi uma pergunta unanime entre os educandos. Então pesquisando juntos descobrimos que a pajada faz parte da cultura do sul-americano e também o que significa: Pajada ou Payada é uma forma de poesia improvisada vigente na Argentina, no Uruguai, no sul do Brasil e no Chile(onde se chama Paya). É uma forma de repente em estrofes de 10 versos, de redondilha maior e rima ABBAACCDDC, com o acompanhamento de violão. Através desta pesquisa, os alunos iniciaram a produção de suas próprias pajadas. Incialmente individuais, em duplas, e por último em grupos. Quando os grupos foram formados os alunos começaram a produzir um livro, que deveria conter danças tradicionais dos Centros de Tradições Gaúchas, juntamente com sua origem (de onde surgiu), sua coreografia e as pajadas propriamente ditas. As pesquisas também contaram com vídeos de pajadores conhecidos como: “Pedro Junior da Fontourae Jadir Oliveira.”, para que os alunos visualizassem e se sentissem mais próximos ao trabalho proposto.

          Dando continuidade as atividades, os alunos em grupos, iniciaram a produção de um livro sobre a nossa cultura, danças e costumes. Para a produção deste livro foram feitas pesquisas em livros do acervo da biblioteca da E.M.E. F Francisco Doncatto e também do meu acervo particular, em que inclui várias obras sobre danças, coreografia, costumes e tradições do nosso povo gaúcho.

         Conforme os trabalhos de pesquisa foram sendo concluídos, os educandos juntamente com a professora, foram tomando gosto pelas atividades. O livro foi tomando forma e os alunos cada vez mais entusiasmados.

              Neste trabalho de resgate, pesquisa e difusão dos nossos costumes e tradições na escola, foram trabalhados também os conteúdos de 6º e 9º ano embutido a toda pesquisa, sem os alunos perceberem.

           Nos Centros de TradiçõesGaúchas são praticadas as chamadas danças tradicionais, as quais os alunos além de pesquisarem, também assistiram apresentações de danças, para se sentirem motivados a aprender. Assim iniciaram-se os ensaios das danças propriamente ditas. As danças escolhidas pelos alunos foram “Maçanico e Tirana do Ombro”, ambas pesquisadas e assistidas por eles em momentosde muita atenção e concentração durante as aulas de Língua Portuguesa, disciplina ministrada por mim em ambas as escolas, onde o projeto foi desenvolvido.

A tradição gaúcha se faz presente em nosso município através de rodeios de CTG, bailes gaúchos, grupos de danças tradicionais, comidas típicas, entre outros. Sendo assim, este projeto ficou mais pertinente e ampliou o interesse dos alunos a aprender e ensaiar mais. Dando continuidade nos ensaios foi pensado também nos trajes típicos, os quais também foram pesquisados pelos educandos durante as atividades de aula. Pesquisados os trajes tanto do peão, quanto da prenda,os ensaios continuaram, assim como a produção dos livros.

            Ao término deste projeto foi realizada uma manhã de autógrafos, em que os alunos organizaram-se com seus livros e mensagens, as quais foram distribuídas aos demais alunos da escola, que visitaram as salas do 6º e 9º ano. Ao fim de cada visita das turmas, os alunos apresentaram as danças ensaiadas.

           Desta forma os alunos aprenderam, sentiram-se incentivados e motivados a aprender mais sobre os nossos costumes, danças e tradições.

          A participação da família é fundamental para que o educando se desenvolvam e não sintam vergonha de tomar usar um traje gaúcho ou falar sobre nossas tradições, sendo assim a culminância deste projeto foi na Festa da família das escolas , em que os alunos puderam mostrar  para seus familiares todos trabalho desenvolvido durante o ano.

        Contudo este projeto além de incentivar os alunos a saber  mais sobre nossa cultura, fez com que eles se dedicassem aos conteúdos de aula acoplados as atividades de resgate a nossa cultura, costumes e tradições.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.A.D. Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagogia Universitária, 1986. 99p.

MULLER, Cristiane, VARGAS, Jamily C., GUTERRES, Clóvis R. J. Educação e Tradicionalismo: Um espaço para a cultura gaúcha. In: JORNADA NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 12., 2006, Santa Maria. Anais Jornada e Educação 2006, Santa Maria, out. 2006. Disponível em: http://www.unifra.br/eventos/jornadaeducacao2006/2006/pdf/artigos/historia/EDUCA %C3%87%C3%83O%20E%20TRADICIONALISMO. pdf Acessado em 01 de novembro de 2012

BRUM, Ceres Karam; “Educar para ser gaúcho” Breves apontamentos sobre as relações entre o Movimento Tradicionalista Gaúcho e a escola – (Trabalho apresentado na 26ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 1º e 4 de junho de 2008, Porto Seguro, Bahia, Brasil)

CORTES,JC Paixão. Falando em Tradição e Folclore Gaúcho. Porto Alegre:Grafosul,1981.

FAGUNDES, Antonio Augusto. Cursode Tradicionalismo Gaúcho. Porto Alegre, Martins livreiro, 1994.

MAFFILETTI, L.A A Dimensão Lúdicada Música  Infância.In:  XIV Encontro  Nacional de Didática e Prática de Ensino 2008-2012. Porto Alegre, RS ED/PUCRS.

Artigo completo: