Resenha sobre Valente de Brenda Chapman

Por tatiana de Souza Fernandini | 23/03/2016 | Resumos

Resenha do Conto Valente

Valente é um conto escrito por Brenda Chapman. Trata-se da princesa Merida. Ela gosta de disparar flecha. Em seu aniversario, Rei Fergus, seu pai, a presenteia com arco e flecha. Ele sempre a incentivou. Por outro lado sua mãe, a  Rainha Elinor  insiste em dizer que Merida deve se portar como uma dama. Para a Rainha, uma princesa deve mostrar conhecimento sobre o seu reino, levantar cedo, ter compaixão, ser eficiente. Para ela, uma princesa deve buscar a perfeição. Todos esses atributos que a Rainha considera virtude são ameaçados pelas atitudes da princesa. Isso torna o conto moderno. Merida não é perfeita, dócil, frágil. Ela não se porta como uma princesa. Anda sempre descabelada, dá gargalhada, enche a boca para se alimentar.

E ela mesma é a mediadora da história, a narradora. A história se passa na Escócia, mas não se sabe o período, dando a atemporalidade do conto. Ela vê uma luz mágica que a mãe diz que leva ao seu destino. As duas acreditam em magia, mas o pai, não. Para ele uma flecha, sim, leva ao seu destino. Pode-se dizer que essa luz seja elemento do maravilhoso inerente ao conto de fada. E então, a voz da narradora mediando o que há de mítico na história diz: “Dizem que o nosso destino está ligado a nossa terra. Que ela é parte de nós assim como nós somos dela. Outros dizem que o destino é costurado como um tecido onde a cena de um se interliga a de muitos outros. É a única coisa que buscamos ou que lutamos para mudar Alguns nunca encontram o destino, mas outros são levados a ele.” Eis, então, um elemento do simbolismo tão presente nos contos de fadas antigos e neste, que é moderno. O simbolismo é representado pela metáfora do destino, que é o tecido.

 Ela vê uma cena perturbadora: seu pai se defendendo de um grande urso. Ele o chama de monstro, dando uma conotação negativa à espécie. Como se este fosse o mau. Esse monstro tinha o corpo marcado por guerreiros derrotados,  cicatrizes na cara e cego de um olho. Na defesa, sua lança foi quebrada e sua perna foi cortada e engolida pelo  “monstro”. Este nunca mais foi visto. O Rei desejava vingança. Outro elemento importante do conto – o maniqueísmo. O mal representado pelo urso e o bem representado pelo pai que defende sua família.

O destino de Mérida era substituir o lugar da mãe. Algo que a princesa não queria. O Rei sempre a apoiou. Disse uma vez que princesa ou não aprender a lutar é essencial. Ela desejava mudar seu destino. Merida ficou muito contrariada em saber que os clãs iriam apresentar seus futuros pretendentes  para competir nos jogos pela sua mão. No intuito de dar uma lição a filha, a Rainha conta uma lenda: “Outrora havia um reino antigo, seu nome foi há muito esquecido, governado por um rei sábio e justo que era deveras amado . Quando ele envelheceu dividiu o reino entre seus quatro filhos, que deveriam ser os pilares sobre os quais a terra repousaria em paz. Mas o mais velho dos príncipes queria governar a terra sozinho. Ele seguiu seu próprio caminho e o reino se desfez em guerra, caos e ruínas.” Esta lenda entra com uma função metalingüística: um conto antigo explicando o outro mais atual. Além disso, serve como exemplaridade, outro elemento do conto. É como se a mãe carregasse a alegoria dos contos de fadas antigos e a filha, os contos modernos com valores atribuídos a imagem feminina moderna que luta, que é forte, que é valente.

Os candidatos a disputa pela mão de Merida também não tem atributo esperados para um príncipe. Muito menos ao posto de Rei. Nenhum mostrava beleza e valentia. Eram até desajeitados. Num conto de fadas antigo estes aspectos jamais existiriam, mas no moderno, sim. Enfim, o mais desajeitado, ganha a disputa acertando por acaso o alvo com uma flecha. Mas Merida não aceitou e reivindica a sua própria mão, o seu próprio destino. Um destino bem diferente do esperado por um conto de fadas. Ela busca ajuda de uma bruxa – um feitiço que mudasse sua mãe, seu destino. O que acontece é que sua mãe é transformada num urso. Com isso sua mãe pode vivenciar e refletir sobre valores dos quais não tinha consciência: o essencial no ser humano pode ser o mais virtuoso que a aparência e as boas maneiras que sempre exigia de sua filha. Este pode ser considerado um conflito do qual não se pode escapar. Em busca de uma solução para reverter o feitiço, vão a busca da bruxa. Eis mais um elemento do maravilhoso. Nessa busca, aquela luz aparece novamente e levam as duas até as ruínas provocadas por aquela lenda e lá descobrem que aquele príncipe também mudou o seu destino a havia se transformado naquele urso do qual o Rei queria se vingar.

O desfecho do conto resume-se a um happy end. Para tanto a bruxa, dá uma solução: “remende a união por orgulho separada”. Novamente uma metáfora para o destino simbolizado pelo tecido. E é que justamente fazem. A Rainha voltou ao normal, mas aparentemente mudou e por dentro também assim como sua filha. Além disso, convenceram a todos que cada um deve escolher o seu destino. E com chave de ouro, a narradora fecha o conto – “O destino vem de dentro de nós, você só precisa ser valente o bastante para vê-lo.”