Resenha sobre o filme ''Obrigado por fumar''

Por Jonatan Fortes Silva | 28/10/2010 | Sociedade

por
Jonatan Fortes
Acadêmico de Gestão de Marketing - Ulbra

"Obrigado por fumar" é um filme que retrata com maestria a política americana, dando ênfase à liberdade de uma prática legal no país: o lobby 1 ? que certamente seria politicamente incorreto no Brasil, onde esse termo soa pejorativo, sendo ligado diretamente às ações realizadas por políticos com o intuito de favorecer aos seus próprios interesses.
O protagonista do filme, Nick Naylor é responsável por propagar os interesses das empresas tabagistas, bem como o de defender estudos que NÃO comprovam os males do uso contínuo do tabaco na saúde das pessoas.
Contra Nick, diversas entidades argumentam em programas de TV e jornais, o que é seriamente catalisado pelo influente senador Ortolan Finistirre, que além de se opor à indústria, sugere a identificação dos cigarros com o rótulo "Veneno".
Cada diálogo no filme é temperado por diversas atitudes que põem a ética à prova, desde mentiras simples até o fato de uma jornalista ter um romance com o protagonista atrás de informações privilegiadas.
O filme tem o importante propósito de fazer o expectador pensar seriamente sobre a ética - o que certamente atingiu seus objetivos, haja vista que a todo momento este se depara com cenas mostrando a verdade sobre diversas ações diárias de pessoas importantes na sociedade americana.
Em uma cena que se tornou clássica no filme, onde três lobistas se encontram semanalmente em uma reunião recheada de humor-negro e competições por qual indústria é mais maléfica à sociedade, aparece o texto em segundo plano que diz:

"Take pride in America. We have the Best government. Money can buy."

, uma frase de Mark Twain2, que é conhecido por pensamentos do tipo:

"Em questões de Estado, cuide das formalidades e pode esquecer as moralidades".

Questões éticas são discutidas no filme em diversos aspectos e pode-se perceber que o motivo principal das ações são o de "pagar a hipoteca". De certa forma é compreensível, do ponto de vista de quem precisa realmente trabalhar para sobreviver. A discussão não é tão somente a de que defender os interesses de quem tem culpa é ético ou não, mas sim, o de que realizar o seu trabalho com efetividade e ganhar bem para isso é ético. Fato.
Dessa forma, é possível concluir que existem trabalhos que têm de ser realizados por alguém. O que se deve analisar é até onde podemos ir com nossas crenças pessoais para defender essa ou aquela teoria, tendo estabelecidos acordos de recompensa para isso. Uma vez ultrapassados os nossos limites, a nossa essência e os nossos valores, foi-se embora a ética.
Fica então a frase tentando explicar a função de um lobista nos EUA, usando o termo "flexibilidade moral" que, em minha opinião, resume a idéia do filme e pode até estar ligada aos pensamentos de Mark Twain 2:

"Imagine que você vire um advogado e tem que defender um assassino de crianças. A lei diz que todos têm direito a um julgamento justo. Você o defenderia?"


1. Pessoa ou grupo que, nas ante-salas do Congresso, tentam influenciar os representantes do povo no sentido de fazê-los votar segundo os próprios interesses ou de grupos que representam.

2. Mais frases de Mark Twain em http://migre.me/1KjRq