Resenha Sobre A Pesquisa Em Comunicação Na América Latina
Por Tania Regina Martins Machado | 27/09/2008 | ResumosChrista Berger
Este artigo de BERGUER (2001) faz parte do livro Teoria da Comunicação. Conceitos, escolas e tendências, organizado por HOHLFELDT, Antonio, FRANÇA, Vera e MARTINHO, Luiz C. (orgs) impresso pela Editora Vozes.
Logo ao iniciar o artigo, a autora esclarece que mais do que questões científicas, são as demandas políticas e sociais que impulsionam a produção de conhecimento em comunicação na América Latina. Portanto, tais estudos estão diretamente ligados ao contexto da época.
Neste artigo, BERGER (2001, p. 241) se propõe a contar a recente história da pesquisa em comunicação da América Latina, e para isso, identifica os centros de estudo, as publicações e os autores que iniciaram este campo de pesquisa.
Os primeiros estudos sobre o jornalismo vinculado à discussão sobre a liberdade de imprensa e legislação datam da década de 30 (BELTRÁN, 1981 apud BERGER, 2001, p. 242). Em 1959 a Unesco, a OEA e o Equador criam o Ciespal, que oferece cursos de aperfeiçoamento para a comunicação em massa, quando se desenvolveu o modelo difusionista, instrumental, adotado para a comunicação ruralda América Latina. Em 1973, na Costa Rica, no primeiro seminário organizado por pesquisadores, o Ciespal foi avaliado e redirecionado, passa a se preocupar com a comunicação popular e pela pesquisa participante.
Na década de 60 os investidores norte-americanos se utilizam da televisão para marcar presença na Indústria Cultural. Em 1973, é criado o ININCO, que objetiva a pesquisa da comunicação social ou de massas, mas que aprofunda a dependência ao não questionar as novas tecnologias. Allende cria no Chile, em 1970, o CEREN – que pesquisa o domínio das multinacionais na comunicação –, mas que é dissolvido com o golpe militar. Alguns de seus membros criam o ILET, no México, que se transformou se transformou em principal difusora de alternativas para a democratização destes meios.
Segundo a autora, as revistas da época serviram como suporte das idéias destes pesquisadores. Destas, duas expressam a preocupação com a comunicação, com o papel dos intelectuais nos processos de transformação e marcam, claramente, a sua posição, a Comunicación y Cultura (n. 1, julho de 1973), ligada ao CEREN e a Lenguajes (n. 1, abril de 1974), da Associação Argentina de Semiótica.
O Ciespal publicou a Chasquí, que surgiu com o papel de discutir os currículos de comunicação para as escolas do local, além de divulgação de experiências nacionais e populares de comunicação. Já o ILET publicou por treze anos os Cuadernos del ILET, que alimentavam o debate sobre a comunicação, revelando o seu caráter militante.
Surgiram outras revistas, como Diálogos de la Comunicación, da Felafacs, Comunicación y Sociedad, da universidade de Guadalajara e Culturas Contemporâneas, da universidade de Colima. No Brasil, a Cátedra Unesco criou uma revista digital em 1999, a Pensamento Comunicacional Latino-Americano, vinculada à Universidade Metodista de São Bernardo.
Os fundadores da abordagem crítica da comunicação são apontados por Gómes Palacios em 1992 (apud Fuentes Navarro, 1992). Por ordem de influência teórica na região estão sucessivamente:
- Armand Mattelart, no Chile, coordena o CEREN e realiza a primeira pesquisa sobre multinacionais, que procurava identificar e compreender a campanha internacional contra o governo socialista;
- Antonio Pasquali, na Venezuela, fundador da escola de jornalismo e escreve a primeira antologia do curso que dá início à análise dos mecanismos de dependência cultural;
- Luis Ramiro Beltrán, na Colômbia, seu principal trabalho é o livro Comunicação dominada, a partir do qual busca identificar os mecanismos que transmitem a influência norte-americana;
- Eliseo Verón, na Argentina, apresenta em um seminário um texto de análise de imprensa, a partir de seu conceito de ideologia, comprova que é possível tornar aparente o que estava oculto, assim, se revoluciona a pesquisa semiótica;
- Paulo Freire, no Brasil, seu livro em destaque é Comunicação ou extensão, 1968, Chile, que critica os meios de comunicação de massa, por considerá-los meros instrumentos de transmissão e de tratarem os destinatários como se fossem receptores passivos, etc.
Em fins dos anos 70, preocupados em não apenas discutir por discutir, os estudiosos latino-americanos produzem documentos que visam fazer com que a informação fosse difundida desde o ponto de vista do local, e a democratização da informação acompanha a democracia política, além de projetos econômicos para a região.
A dominação cultural estrangeira é combatida com a cultura latino-americana, surgindo inúmeras experiências de inversão dos meios. Por trás desta mudança havia a ação de políticas nacionais de comunicação, que buscavam transformar o Estado e a política de comunicação popular – o que veio a transformar a pauta da teoria da comunicação, forçando o estudo da teoria da comunicação de massa a ser relacionado à realidade a qual pertence.
No final dos anos 80 já era grande a produção sobre os sistemas de comunicação e seu poder de manipulação ideológica, alguns ainda, tratavam de formas alternativas e populares de comunicação. A partir dos anos 90 as fronteiras do campo da comunicação já não são tão claras, o que se percebe é a necessidade de se revisar leituras e que se proponham novas teorias e métodos.
Segundo BARBERO (1983), considerado o "formulador de questões" e o impulsionador da renovação deste campo, os pesquisadores estavam em um processo de construção de um novo modelo de análise, no qual cabia à cultura mediar de forma social e teórica a comunicação com o popular, com o cotidiano e com os meios.
Para concluir, é possível se utilizar das palavras de TAVARES (1995 apud ADORNO, 1995) quando trata da importância para o pesquisador de conhecer a si próprio para depois conhecer o outro. Este artigo nos possibilita isto, e desta forma dá subsídios para que se realize um bom trabalho de pesquisa em Ciências Sociais.
ADORNO, Sérgio (org). A sociologia entre a modernidade e a contemporaneidade. Editora da UFRGS/Sociedade Brasileira de Sociologia. Porto Alegre, 1995. p. 73-84.