Resenha PROFESSOR NÃO É EDUCADOR
Por LEÔNIDAS PIMENTEL BATISTA | 15/01/2016 | EducaçãoTrata-se de uma resenha sobre o livro PROFESSOR NÃO É EDUCADOR, de Armindo Moreira.
PROFESSOR NÃO É EDUCADOR
MOREIRA, Armindo. Professor não é educador. 4ª. Edição. Profeduc. Cascavel/PR. 2012.
Leônidas Pimentel Batista
Um livro que traz em seu conteúdo um tema polêmico, recorrente e que faz refletir sobre a formação docente nas Universidades brasileiras.
Armindo Miranda é filósofo e foi docente por 40 anos. Atuou em vários países do mundo. Mestre em Filosofia pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Controverso em suas posições sobre a História do Brasil, notadamente sobre a colonização inicial do Brasil ter sido feita por ladrões, condenados e degredados vindos de Portugal. Sobre isso ele afirma que nenhum rei, em seu perfeito juízo, entregaria sua melhor colônia a um bando de imbecis. Tem Aristóteles como referência, que Descartes não foi filósofo, mas um formulador de métodos, que Nietzsche não tem uma tese filosófica, que se trata de “uma piada”.
O autor faz a distinção entre instruir e educar, definindo instruir como a disposição de compartilhar conhecimentos e habilidades pertinentes à pessoa, ao seu desenvolvimento e, com isso, satisfazer suas necessidades na sociedade, ou seja, na opinião do autor, instruir é preparar o cidadão para a competitividade profissional que a vida em sociedade exige. Educação, para o autor, está mais relacionado ao convívio na sociedade e que ela se constrói no dia a dia do cidadão, desde a infância, obrigação dos pais e vai se desenvolvendo, que o professor não poderia jamais interferir no modelo de formação que os pais desejam para seus filhos.
Para Armindo Miranda, o período ideal em que a criança deve aprender a ler é nos 5 primeiros anos e ao professor cabe tirar as dificuldades na leitura, esclarecer as dúvidas. O aluno sabendo ler será sempre um bom aluno. O professor é obrigado a acompanhar o aluno e ele terá sempre um bom professor.
Em vários capítulos da obra Professor não é Educador, o autor descreve diálogos em ambientes da escola, numa reunião de pais e professores, durante uma aula em sala de aula, em discussões entre professores. Chama a atenção o relato de uma reunião de pais e professores em que o tema “uso de drogas” e um pai pergunta ao diretor sobre as ações da escola para combater isso. O diretor se manifesta afirmando que o uso de drogas traz prazer aos fracos de espírito e que todo jovem aos 17 anos de idade tem consciência disso e que a função de educar esse jovem quanto ao uso ou não das drogas cabe aos pais. À escola cabe a função de impedir que esse jovem faça uso durante sua estada na escola, durante o período de aulas. Caso esse aluno descumpra essa norma, ele deverá ser excluído da escola. Para fortalecer sua tese, o diretor refere que se uma jovem casa-se e o casamento não dá certo, a escola também não deve se sentir na responsabilidade de educar as pessoas para a “felicidade no casamento”, que isso é escolha de cada um. Com isso o autor procura enfatizar que à escola, ao professor, compete instruir, compartilhar conhecimentos, mas que as escolhas de cada indivíduo a ele compete.
Em toda a obra, o autor marca que não há ausência de valores dos pais, que nenhum pai, por mais irresponsável que seja, deseja um destino ruim para seu filho, que o bandido não vai formar seu filho em bandidagem, que o professor não tira os valores dos pais. Se o professor é educador, um indivíduo que teria passado por 40 professores, terá recebido 40 educações. Isso criaria uma grande deformação na formação do cidadão.
No capítulo 20, “Preparar para a vida”, o autor relata que o professor é um ser humano comum, que também teve sua educação formada desde a infância, que tem suas preferências, seus comportamentos, suas posturas pessoais. Se o professor assume uma posição austera com seus alunos, com uma autoridade opressora, seu trabalho se torna mais fácil. Cada professor deve sim sempre se vestir das suas qualidades mais notáveis, mais dignas e, dessa forma, obter respeitabilidade, confiabilidade e ser modelo para seus alunos.
Armindo Miranda, no Capítulo 43, afirma que “Compreender o aluno não é alinhar com ele nem contra ele”, mas disponibilizar a esse aluno julgamento sensato.
Nos dias atuais, alguns coordenadores de escolas pregam que o para “conquistar” o aluno, o professor deve “descer” a ele e usar suas gírias, ser conselheiro sentimental, “entrar na onda” dos alunos, aceitar o tratamento como se um “pareceiro” fosse do aluno. Sobre isso, o autor relata que nem os psicoterapeutas fazem com seus pacientes e como querer que o professor o faça com seus alunos? Para compreender o aluno basta ter sensibilidade afetiva e dar o apoio quando for necessário, mas também não apoiar quando for o caso.
Na verdade, o professor tem que se preocupar mais com a função de instruir seus alunos, pois se ele se envolve com a educação de cada alunos, ele perde o foco coletivo e passa a ser um clérigo, um mero formador de consciências comportamentais e a instrução, o compartilhamento do conhecimento não acontecerá como deveria.
Quando o autor discorre no Capítulo 45 “O professor não gosta de mim”, ele deixa claro que todo professor gosta de alunos que participam do momento da aula, que não perturbam a aula com interrupções descabidas, que durante as aulas o professor deve desenvolver seu trabalho com aqueles que realmente querem se desenvolver, aprender, mas que isso não implica gostar ou não do aluno. Não é raro, durante o recreio, o professor conversar descontraidamente com esse tipo de aluno.
Sobre a educação de qualidade, o autor define no Capítulo 67 que o ensino de qualidade é o que fornece conhecimentos e habilidades, em tempo hábil e com menor esforço, para que o cidadão possa se desenvolver social e profissionalmente e ganhar a vida com seu trabalho.
Na obra, o autor se posiciona contra a aprovação sem a devida competência para evoluir na aquisição dos conhecimentos, que se existisse um ensino ideal, existiriam o aluno ideal, o professor ideal. Mas nada disso existe porque não existem os recursos didáticos idéias e que a repetência deve sim existir para que as correções na aprendizagem sejam implementadas.
Para concluir, depreende-se da obra que, por conta das incompetências, dos descasos com a formação escolar, notadamente na escola pública, onde mirabolismos são inventados pelos Ministros da Educação de plantão e impostos aos professores, fazendo com que se eduquem os alunos para os interesses dos fascismos neoliberais da moda, das necessidades da economia do mundo capitalista, que se preparem consumidores e não cidadãos conscientes e instruídos. Com isso e, conforme o autor, “Nosso povo [...] não é instruído nem educado. [...] mesmo com bons professores: a relação entre instrução e educação é desproporcional: passa-se mais tempo educando que instruindo”.
A obra em análise remete a uma reflexão sobre a formação de professores nas Universidades brasileiras. Sugere avançar na discussão de paradigmas para que empecilhos impostos ao longo do tempo sejam quebrados e que uma nova forma de fazer educação nas escolas brasileiras alcance a qualidade no ensino.