RESENHA INFORMATIVA SOBRE O LIVRO A PESQUISA SÓCIOLINGUÍSTICA DE FERNANDO TARALLO

Por Emanuela Kruschewsky | 13/04/2010 | Educação

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – BAHIA Campus XXI

RESENHA INFORMATIVA[1]

EMANUELA MENDES KRUSCHEWSKY[2]

Fernando Tarallo, doutor, é professor da Universidade de Campinas e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Discute neste livro dois aspectos da pesquisa sociolingüística, a teoria – da variação e da mudança lingüística –, e o método – passos metodológicos de uma pesquisa sociolingüística –, a partir do objeto de estudo: a variação da língua falada. O livro A pesquisa sociolingüística está divide em cinco capítulos, a saber: A relação entre língua e sociedade, O fato sociolingüístico, A variação lingüística: primeira instância, A variação lingüística: segunda instância, Variação e mudança lingüística. Após estes, vem às conclusões, o vocabulário crítico e por fim, a bibliografia comenta.

O primeiro capítulo "A relação entre língua e sociedade", topicaliza-se em: Palavras inicias; Breve histórico da sociolingüística quantitativa; A variável e as variantes lingüísticas; Variantes-padrão/não-padrão, conservadoras/inovadoras, estigmatizadas/de prestigio; Próxima atrações. O autor propõe o objetivo do livro: as possíveis maneiras de combater o "caos" do universo da língua falada. Para tanto, ele associa o caos lingüístico a um campo de batalha. Também propõe um ponto de partida para a analise do pesquisador – a relação entre língua e sociedade. E por fim, delimita o modelo de analise abordado neste livro, a teoria da variação lingüística – modelo teórico-metodológico – que tem como objeto de estudo o caos lingüístico. No segundo tópico, Tarallo cita William Labov como o iniciador do modelo teórico-metológico, para isso, ele defendia a relação língua e sociedade e a sistematização da variação e da língua falada, haja vista que este modelo também é conhecido como quantitativo, por operar com números e estatísticas. No tópico três o autor conceitua e exemplifica a variável e as variantes lingüísticas. Sendo que a primeira é um conjunto de variantes, exemplificando-a com a marcação do plural no sintagma nominal no português falado no Brasil. E as variantes, como as maneiras de dizer a mesma coisa numa mesma situação com o mesmo valor de verdade, exemplificando-as com a presença do segmento fônico /S/ e a ausência desse segmento, ou seja, a forma "zero". E elenca os caminhos para a sistematização da variação, tais como: levantamento exaustivo de dados da língua falada; descrição detalhada da variável; analise de fatores condicionadores; encaixamento de variável; e a projeção histórica da variável. No quarto tópico, ele discorre sobre a questão da variante padrão que ao mesmo tempo pode ser conservadora e prestigiada na comunidade, já com as inovadoras ocorre o contrário, já que em uma comunidade as variantes tornam-se concorrentes. Mas observa que nem sempre existem coincidências ente padrão/conservadora/prestigiada e para isso vale-se do exemplo da pronuncia do fonema /r/ pós vocálico estudado por Labov no inglês falado. E por fim, fala da importância da língua, como identificadora de grupos e de diferenças sociais. Nas Próximas atrações, apresenta os outros capítulos do livro.

O capítulo 2(dois) aborda sobre o fato lingüístico do modelo de análise sociolingüística. O objeto de estudo da lingüística é a língua falada. Uma vez que teoria e método sustentam entre si uma relação lógica, essa teoria e método da sociolingüística parte do objeto bruto, não polido, não aromatizado artificialmente, sendo que dentro deste modelo o objeto- fato lingüístico- é o ponto de partida. Para uma análise sociolingüística, é necessário quantidade de dados e que são coletados por meio do conhecimento direto entre os falantes; por outro lado, essa participação direta pode perturbar um ato natural do estudo.

O terceiro capítulo "A variação lingüística: primeira instância" divide-se em cinco tópicos. O primeiro denominado O envelope lingüístico, Tarallo delibera este envelope como o elencamento das variantes adversárias, exemplificando-as como as adversárias ([S]) e vazio. Menciona mais uma vez a proposta de Labov na concepção e na aquisição do modelo sociolingüístico em ao mesmo tempo ser sincrônico e diacrônico. E o duplo objetivo da comparação de variantes. Em As armas e as artimanhas das variantes: fatores condicionantes, o autor discorre sobre as hipóteses que são dadas ao contexto ou fatores que influenciam a variável. Em A operacionalização do modelo, quatro grupo e fatores possíveis são usados como exemplo da variável do plural do sintagma nominal. No quarto tópico, O encaixamento lingüístico, o encaixamento deve ser alcançado como a motivação das hipóteses dos grupos de fatores. E o último tópico Os fatores extralingüísticos, o autor diz que tudo que convém de pretexto para variável poder ser proeminente para o exame dos dados. E por conta disso, os fatores precisam partir da percepção do pesquisador.

O quarto capítulo, "A variação lingüística: segunda instância" divide-se em cinco tópicos, a saber: A avaliação de variáveis sociolingüísticas: o informante; A situação de teste: estilo e classe social; Teste de percepção versus teste de produção; A variação e a normalização lingüística; gramática e estilo. O primeiro tópico traz a afirmação de que os dados estatísticos indicarão que certos grupos de fatores são responsáveis pela implantação de variantes e para tanto, o autor se vale dos estudos sobre a centralização dos ditongos em Matha's Vineyard, de Labov. No segundo tema, Tarallo raciocina sobre os procedimentos que o pesquisador deve seguir em ocorrência de teste: contrastar o vernáculo com o não-vernáculo; instituir fatores condicionantes; submeter o informante a teste. No terceiro tópico, o autor sugere pedido ao informante para que ele se exprima em relação à aceitabilidade ou não de acomodarem variantes. Além da tentativa de levar o informante ao teste de construção de variável. No quarto tópico, o autor conceitua a língua falada como um sistema variável de regras que deve corresponder a tentativas de normatização, um exemplo é a língua portuguesa veiculada nas escolas. Nesse sentido o pesquisador pode investigar fontes que tenha objetivos de unificar a língua vernácula.É nesse sentido que o autor propõe analisar textos de média para perceber até que ponto esses textos permitem a infiltração de variante não-padrão.

O capítulo cinco "Variação e mudança lingüística" está dividido em quatro tópicos: Contemporização ou morte?; A faixa etária: o tempo aparente; O tempo real: fontes históricas; A viagem de ida e de volta: do presente ao passado e de volta ao presente. No primeiro tópico, o autor faz a relação entre variação e mudança. E a análise de variantes pode tomar duas direções, a variação estável ou a mudança em progresso. Ele também discorre sobre a estrutura da língua, esta só será entendida a partir do seu processo histórico de sua configuração. Já no segundo tópico, Tarallo conceitua o tempo aparente como um recorte transversal da amostra sincrônica em função da faixa etária dos informantes. Para exemplificar o autor se vale dos resultados de Cedergren e de Peter Trudgill. No terceiro tópico, a partir de fonte histórica como cartas pessoais, Atlas lingüísticos, entre outros, é possível, para o sociolinguísta, analisar as variantes de uma determinada época. Para tanto, é necessário considerar cinco dimensões: fatores condicionantes, encaixamento, avaliação, transição e a implementação. No quarto tópico, o autor se vale do exemplo das orações relativas, tendo uma variante padrão e duas não-padrão, com o objetivo de colher informações históricas sobre cada variante num momento sincrônico.

Na conclusão, Tarallo faz uma breve síntese dos capítulos abordados no livro. Destina o livro àquelas pessoas que ainda não reconheceram que a lingüística se vale de pressupostos teóricos e metodológicos. Além de ressaltar que o papel do pesquisador é "investigar aquilo que varia e como a variação pode ser sistematizada". (p.83)

E por fim, concordando com o autor, este livro pode ser indicado à todos os estudantes ou profissionais da área da lingüista que tem a intenção de se tornar um pesquisador e à todos que de um modo ou de outro meche com a linguagem e principalmente com a educação.



[1] Resenha informativa apresentada ao professor Gredson Santos, professor da disciplina Diversidade Lingüística.

[2] Graduanda em Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.