Resenha: Escravidão Brasileira - um balanço historiográfico

Por MIDIANE VENCESLAU DOS SANTOS | 05/10/2010 | História

Resenha
Escravidão Brasileira - um balanço historiográfico

Por Midiane Venceslau dos Santos

Os trabalhos de Suely R. R de Queiróz (2001), Robert W. Slenes (1999) e Stuart B, Schwartz (2001) quando discutindo o processo de escravidão no contexto historiográfico, traz uma série de informações cruciais para entendermos o presente através do passado. Os três autores, através dos estudos e debates sobre a escravidão no Brasil, ao mesmo tempo em que contribui no acervo historiográfico, desmistifica conceitos e estereótipos que qualificaram por muito tempo o escravo (negro), como ser desprovido de capacidade e maturidade suficiente na construção de uma identidade e na formação da instituição familiar ? tema este que se sobressai na discussão dos três textos.
O texto de Queiroz trata o período escravocrata no Brasil sobre diversos parâmetros, quer sociais, políticos, econômicos e também ideológicos. A autora não limita os seus estudos sobre a exploração do negro escravo apenas ao território brasileiro e traz discussões sobre a dualidade que norteia o processo escravagista, ora tido como brando, paternalista e passivo, ora como cruel e violento, teorias pautadas (mencionadas também pela autora) nos estudos, respectivamente, de teóricos como Gilberto Freyre (1933) e Jacob Gorender (1983).
O trabalho de Slenes - inspirado no relato de um viajante francês Charles Ribeyrolles, no século XIX, que ao visitar o Brasil concluiu que a grande massa de escravos existente estava condicionada ao esquecimento, desprovidos de condições de sobrevivência e organização familiar - comprova a existência de arquivos que evidenciam a formação da família entre cativos, dialogando com outros historiadores e autores como Florestan Fernandes (1969), Eugene D. Genevose (1971), Frankleim Frazier (1942), Caio Prado Jr (1983) - entre outros - e assumindo visões distintas ou semelhantes sobre a formação da família escrava, onde não apenas Slenes identificou essa formação enquanto instituição de sobrevivência, mas de formação de uma identidade social e coletiva.
No que se refere à obra de Schwartz, podemos dividir o texto em duas partes, a primeira onde o autor traz à tona os trabalhos sobre a escravidão até 1988, e a segunda onde ele aborda as publicações sobre este mesmo tema após 1988 - onde autor o identifica um decréssimo de produções. Segundo Schwartz, embora o 13 de maio tenha sido o último ato que aboliu a escravatura, o que veio posteriormente não significou melhoria para a condição de vida dos escravos, e neste sentido, o autor traça um caminho, um diálogo com diversos teóricos clássicos e contemporâneos, como Gilberto Freyre (1933), Jacob Gorender (1983), Ciro Cardoso (1979), Manolo Florentino (1997), entre outros, traçando um debate sobre as condições de vida nos engenhos, os laços familiares, bem como a amplitude do sistema escravocrata e a busca do escravo - mesmo em um contexto turbulento e desfavorável - de afirmação e construção de sua identidade.
O trabalho desses autores acima abordados - que não se limita apenas às obras trabalhadas aqui - nos faz identificar a existência de certas lacunas na historiografia brasileira, no que se refere ao processo de escravidão, e principalmente sobre a formação da família escrava, onde nos textos se observa várias divergências e concordâncias entre os autores. Podemos encontrar uma vasta bibliografia nessas obras, abordando teorias de autores como Gilberto Freyre - mencionado e discutido pelos três autores - onde estimula a estudos sobre questões que foram na historiografia omitidas para garantir a supremacia de um povo sobre outro e nos oferece um elenco de informações que ultrapassam os enfoques tradicionais sobre a história da escravidão no Brasil, colocando em evidência a necessidade de essa história ser vista e revista, através de novos olhares e novas perspectivas.

Referências

QUEIRÓZ, Suely R. R de. Escravidão Negra em Debate. In: FREITAS, Marcos C. Historiografia brasileira em perspectiva. ?São Paulo: Contexto, 2001, p.103-117.

SCHWARTZ, Stuart B. A historiografia recente da escravidão brasileira. In: SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, roceiros e rebeldes. ?Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001, p.21-57.

SLENES, Robert W. Histórias da Família Escrava. In: SLENES, Robert W. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava, Brasil Sudeste, século XIX. ? Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.27-53.