Resenha do livro Preconceito Linguistico (Marcos Bagno)

Por Rebeka Nylkare Marques | 20/08/2010 | Resumos

Preconceito lingüístico o que é, como se faz (Marcos Bagno)

O livro preconceito lingüístico: o que é, como se faz, de Marcos Bagno trás a tona a discussão acerca da confusão que muitas pessoas fazem entre língua e gramática normativa. Para o autor, o que acontece é que a língua não é considerada um tema político e que esta, não deve ser levada em consideração só como uma coisa morta, mas devem-se considerar também as pessoas vivas que a falam.
O livro trata das temáticas: exclusão e discriminação e está dividido em quatro capítulos. O primeiro ressalta a existência de oito mitos do preconceito lingüístico, dentre os quais se destacam: "A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente", que é considerado pelo autor como o mais sério dos mitos, pois não leva em conta a diversidade cultural do povo brasileiro e que "toda variedade lingüística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam"; "Brasileiro não sabe português" / "Só em Portugal se fala bem português", este mito demonstra a subordinação dos brasileiros em relação à cultura de Portugal, refletindo, em pleno século XXI, "o complexo de inferioridade de sermos até hoje uma colônia dependente de um país mais antigo e mais civilizado"; "Português é muito difícil", este mito nada mais é do que a demonstração do pensamento arcaico dos gramáticos que, por considerar só a gramática normativa, não aceita o português falado pelos brasileiros; "As pessoas sem instrução falam tudo errado", este preconceito está mais relacionado às camadas mais pobres da população que geralmente não utilizam a norma culta em sua fala.
Assim como Carlos Bagno, o autor Maurizzio Gnerre, em seu livro Linguagem, escrita e poder considera que há uma discriminação na fala das camadas mais populares. Como no Brasil há um abismo enorme entre ricos e pobres, que refletem a segunda pior distribuição de renda em todo o mundo e como estas pessoas em sua maioria não tem acesso a educação de qualidade, portanto não dominam a língua "culta" ou "padrão, considera-se que o português falado por essas pessoas, nordestinos, principalmente, é inferior, demonstrando assim, que o preconceito linguístico não se revela apenas entre Brasil e Portugal, mas entre as próprias regiões do nosso país. O que ocorre "infelizmente é que as mesmas regras da língua literária começaram a ser cobradas da língua falada, o que é um disparate linguístico científico sem tamanho", pois o que importa é a comunicação entre as pessoas e o entendimento do que é falado e não apenas como foi falado.
A segunda parte do livro trata do circulo vicioso do preconceito lingüístico que é composto por: gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos e se dá da seguinte forma: "a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por vez provoca o surgimento da indústria do livro didático, cujos autores ?
fechando o círculo ? recorrem à gramática tradicional como fonte de concepções e teorias sobre a língua". Este processo se evidencia numa crise do sistema de ensino da nossa língua e para que seja feita uma desconstrução do preconceito linguístico, evidenciada na terceira parte do livro, é necessário ter em mente que a norma culta não é uma verdade absoluta e que há a necessidade de se fazer uma relação entre o que é falado pela população e o que está escrito na gramática. Ninguém fala certo o tempo todo, as pessoas têm uma necessidade natural da fala coloquial, na qual é agregada os dialetos, gírias, entre outros.
Não defendo que é certo falar errado, mas que temos que entender como, porque e de que forma esse processo acontece e não discriminar as pessoas que não dominam a gramática normativa.
O que o autor deixa claro é que não existe necessariamente certo ou errado na língua, o temos que entender é que nossa "língua é brasileira", pois reflete a cultura e características específicas do nosso povo.
É de suma importância a recomendação deste livro para estudantes de Serviço Social, pois este contextualiza a discriminação, o preconceito, as falhas do sistema de ensino, entre outros, que são expressões da Questão Social, um dos objetos de intervenção do profissional desta área.