RESENHA DO LIVRO ÓRFÃOS DO ELDORADO

Por JOSE MARIA MACIEL LIMA | 17/03/2017 | Literatura


HATOUM, Milton. Órfãos do Eldorado. 4ª reimpressão, Editora Companhia das Letras, Coleção mitos, São Paulo, 2008.

JOSÉ MARIA MACIEL LIMA[1] 

Milton Hatoum, nasceu em Manaus (AM), em 1952. Na década de 1970, viveu em São Paulo, onde cursou arquitetura na Universidade de São Paulo (USP). Em seguida, direcionou-se para os estudos literários. Nos anos 1980, depois de morar na Espanha, foi para a França e fez pós-graduação na Universidade de Paris III. De volta a Manaus, lecionou língua e literatura francesas na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Foi também professor-visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos. Em 1989, publicou, seu primeiro romance, Relato de um Certo Oriente. Voltou a morar em São Paulo em 1998, onde fez doutorado em teoria literária na USP. Publicou, ainda, Dois Irmãos (2000) e Cinzas do Norte (2005). Seus três romances foram ganhadores do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do país.

A obra narra uma história de sucesso, desafeto, amor e fracasso. Os fatos se passam na cidade de Manaus e Vila Bela, no interior do Amazonas, onde ocorre a maioria dos fatos. Aminto, filho de Amando Cordovil, homem rico e piedoso que sempre rejeitou o filho, por culpá-lo pela morte de sua esposa, que morreu em consequência de um parto mal sucedido. O Contexto histórico-social em que se passa a narrativa é no final da cabanagem, no auge e declínio do ciclo da borracha. Amando, após perde sua esposa, dedica-se aos “negócios”, sábio e ganancioso consegue acumular fortuna. Após sua morte, seu filho Aminto, sofre de uma paixão doentia e por vingança devido ao desprezo e rejeição do pai, perde toda herança deixada pelo pai. Na miséria, Aminto termina seus dias, em uma tapera sofrendo por amor de uma mulher (Dinaura) que misteriosamente, desaparece após uma única noite de amor.

A obra “Órfãos do Eldorado” se caracteriza como uma novela. O estilo moderno com que o autor escreve a narrativa se diferencia de outras composições do gênero. As falas dos personagens sem travessão para marcar os discursos diretos no texto é um exemplo desse estilo moderno de compor. A narrativa não segue um tempo cronológico, uma vez que, ora está no presente e ora no passado. Além disso, apesar de ser uma novela, a obra não está estruturada em capítulos. O narrador caracteriza-se como narrador personagem, pois ele narra e participa dos fatos narrados.

A obra é muito rica em informações regionais, contextualiza fatos históricos que aconteceram na Amazônia, que contribuíram para o crescimento e desenvolvimento da região. O autor escreve a obra em uma linguagem moderna e simples que facilita o entendimento do leitor. A linguagem predominante na obra é rica em regionalismo, e variações linguística, enfatiza o falar típico do caboclo da Amazônia. Além disso, os fatos narrados aguçam o raciono de quem ler, por abordar bastante, aspectos da mitologia amazônica. A maneira de escrever do autor, misturando fatos históricos (reais) com lendas mitológicas regionais, o que enriquece ainda mais a obra, firmando seu caráter literário. Porém, percebe-se em certo ponto da narrativa, que o autor parece se distancia dos fatos narrados, provavelmente, porque seu contexto social é outro, diferente do que é narrado, pelo narrador personagem. 

Por ser rica em informações, pode ser considerada multidisciplinar. Por isso, a obra em estudo pode ser indicada para acadêmicos de letras, história, geografia, etc. e demais públicos que apreciam uma boa obra literária, que descreve o contexto regional da Amazônia, sobretudo os que se interessam em estudar os aspectos mitológicos da região.

[1] Professor da rede Estadual de Ensino, Licenciado Pleno em Letras/Português - UFPA, Letras/Espanhol-UNIUBE, Letras Inglês-UFOPA, Graduado em Filosofia pela FPA, Especialista em metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia-UNIASSELVI e Ensino de Língua Espanhola-UNICAM. E-mail: ze.maciel@bol.com.br.