Resenha do livro "O outro da educação" de Anna Dorziart
Por Maria Cotillo Pazini | 12/06/2011 | EducaçãoTEMAS IDENTIDADE/DIFERENCA E INCLUSAO O OUTRO DA EDUCACAO: PENSANDO A SURDEZ COM BASE NOS
Dorziat, Ana(2009). Editora Vozes: Petropolis.
Neste livro de noventa e quatro páginas, a autora aborda o tema inclusão de surdos no ensino regular, tendo a surdez como uma identidade do sujeito surdo e não uma limitação. Assim sendo, a surdez passa a ser vista como uma diferença e esta não limitam essas pessoas, mas lhe da uma identidade própria.
A pessoa com surdez apresenta também, além de sua identidade surda, uma língua própria que caracteriza o surdo, que é a Língua brasileira de sinais ? Libras ? esta língua, com a qual se comunicam com outros surdos e que dará condições do aluno surdo se manifestar no mundo, além de possibilitar aos surdos o acesso ao currículo (conteúdos curriculares), com os quais poderá adquirir os conhecimentos necessários a sua autonomia.
Nessas noventa e quatro páginas, a autora faz um estudo auspicioso ao abordar a surdez, a cultura do surdo, suas diferenças; e ao fazer referência ao processo de inclusão do aluno surdo, nas escolas públicas brasileiras, como consequência legal das políticas públicas em educação, a partir da "Educação para Todos" (1990) e da "Declaração de Salamanca" (1994).
Ana Dorziat dividiu esta memorável obra em três capítulos distintos e bem definidos, sendo que o primeiro faz uma abordagem sobre a construção da identidade do sujeito surdo como um processo marcado por representações do discurso de poder quando essas forcas a repressão e opressão do ouvinte sobre o surdo, ou do opressor sobre o oprimido.
Dessa maneira, esse discurso de poder incutido na trajetória de vida do surdo e que também está presente em nossa sociedade, quando do processo de colonização de nossa história e dos discursos de poder que tão bem é explanado pelo autor Foucault (1992), no seu livro denominado "Arqueologia do Poder", onde ele mostra a dominação que os detentores do poder fazem com os dominados.
Assim, a identidade homogeinizadora, que mostravam todos iguais sem diferenças marcantes, hoje são substituídas por uma identidade coletiva (a heterogeneidade), onde todos assumem comportamentos, valores e crenças diversificadas que caracterizam a sociedade atual e compõem a riqueza do nosso universo, uma vez que somos formados por uma multiculturalidade das quais participam os surdos com sua cultura própria e sua língua.
Dorziat lança um novo olhar sobre a surdez e o ser surdo, no sentido de desestabilizar o mito da surdez como uma doença, ou seja, como um quadro clínico como destacou Skliar (1998), em várias de suas obras sobre a surdez, a educação de alunos surdos e a educação especial, ao tratar o sujeito surdo como alguém incompleto e necessitado de um tratamento clínico.
No segundo capítulo desse livro, a autora destaca a importância de um currículo adequado e significativo para a educação de surdos, nisto implica , o desenvolvimento de estratégias educacionais e humanitárias proporcionando conhecimentos desejados e importantes para tornar o surdo competitivo no mercado de trabalho e na vida em sociedade.
Portanto, esse capítulo é de fundamental importância para e na educação do sujeito surdo, uma vez que os conteúdos curriculares são necessários para que estes possam se situar no mundo ao desempenhar as suas habilidades e competências tão importantes no mercado de trabalho, além de que este currículo possa se fazer em língua de sinais, como está destacado na Lei n 5626/05 que dispõe sobre o uso dessa língua nas escolas e repartições públicas e, com a qual o surdo possa receber os conteúdos e informações para o seu desenvolvimento emocional e cognitivo.
O terceiro e último capítulo traz para estudo e reflexão o processo de inclusão escolar do surdo, não da forma que está sendo conduzido na rede pública de ensino, mas como um processo que propicie ao aluno surdo condições dele ser tratado como alguém capaz de se desenvolver social, emocional, cultural e cognitivamente. Isso só acontecerá com a mediação de interlocutor de língua de sinais, e da presença da Libras na sala de aula, como está determinado na Lei 5626/05.
Sendo assim, como professora de surdos e mestranda em Educação Especial recomendo essa obra fantástica e indispensável às pessoas relacionadas com surdos e com a surdez, professores, pesquisadores, pedagogos e simpatizantes com a causa surda, para que leiam e possam usufruir desse livro em estudos posteriores e, possam assim, entender a sensibilidade do surdo e todos os fatores que fazem dessas pessoas tão especiais para nós educadores.
Profeesora: Maria Rita Cotillo Pazini
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