Resenha do Livro: "O outono do Patriarca"
Por Gabriella da Silva Mendes | 28/01/2014 | ResumosO livro "O outono do Patriarca" conta a história fictícia de um ditador solitário, velho e sem nome, que governa um país nas Caraíbas na América Latina, com todos os traços de um “ditador” para governar seu país. Há toda uma descrição do local e das discussões a respeito principalmente da vida e personalidade deste ditador, sendo ele realmente fora do comum desde sua idade (que não é apresentada ao certo) até o número de filhos espalhados por vários países, e é claro sua incomum maneira de governar, pois, nunca precisou de seus ministros para nada, com exceção somente do Ministro da Saúde, que inclusive era seu médico pessoal, mas nunca o curou de seu problema nos testículos.
A história faz - se refletir a respeito da figura central que presidentes de jeitos autoritários adotam com relação sua postura, sem deixarem transparecer pessoas com sentimentos normais. O personagem central a todo o momento tenta "esconder" este seu lado humanizado, só deixando ser realmente "normal" em duas situações: com relação a sua mãe e seu verdadeiro amor, a moça de nome Manuela Sanchez. Com uma série de dúvidas a respeito de si mesmo principalmente depois que passou anos no poder, sua principal preocupação era de como a nação se comportaria caso ele morresse. E ele resolveu usar o seu sósia Patrício Aragonés, para simular a sua morte. Ele observa poucas manifestações de carinho com sua morte. A população invade o seu palácio presidencial e comemora a liberdade de todos os cidadãos. Depois de todas as cenas observadas, ele resolve vingar – se.
O autor do livro Gabriel Garcia Márquez [1] é citado em vários meios literários como um dos mais importantes escritores colombianos do século XX. Neste livro, sua escrita é com um humor sarcástico e irônico a respeito de como "funciona" um regime ditatorial, especificamente com um olhar sobre a América Latina, há um texto sem muitos parágrafos e com uma leitura "corrida" para o leitor, onde quase não há uma pausa. Esta maneira de escrita ajuda até mesmo para nós leitores,imaginarmos ainda mais como no livro em questão,os fatos aconteciam.A impressão que o autor tenta passar é que:"tudo acontece ao mesmo tempo".
Em um contexto histórico o livro remete - se bastante nas estruturas de poder, pertencentes à América Latina entre os séculos de XIX e XX, desde o imperialismo ao populismo. O livro demonstra a fragmentação de um país marcado pelo autoritarismo até a luta por uma “liberdade”. O autor utiliza – se dos fatos que os regimes autoritários possuem, sendo estes, caracterizados pelo uso do abuso de poder, não havendo maneiras de todos da sociedade se expressarem, o Estado não reconhece nada além do que ele mesmo implementa e no centro há a "figura" do ditador, que procura controlar a todos sob suas normas, "[...]A pátria e o poder de decidir o seu destino estão em suas mãos, sua vontade, pois ele é o patriarca – o pai da pátria – e o “dono de todo o seu poder”. Além disso, “ele só era a pátria”[...]”. (MÁRQUEZ,1975,p.66). Nestes regimes, na América Latina havia toda esta repressão, e abrangendo a nacionalidade do autor (colombiano), além de abranger este exemplo em toda a América Latina, ele pode usufruir da perspectiva de seu país de origem, a Columbia [2] durante a Independência e ao Republicanismo, onde conflitos e o regime autoritário foram marcantes, no país.
Fazendo – se uma ponte do livro com as aulas, pode – se lembrar do livro principalmente nas aulas sobre “Ditaduras Militares na América Latina”, onde boa parte das nações latino – americanas conquistaram sua independência política nas primeiras décadas do século XIX, mas, apresentam em sua história uma evolução política e econômica marcada por instabilidades e desigualdades sociais, "[...]O ditador critica a pátria que tem sob o seu comando e que lhe foi imposta pela potência estrangeira para que a administrasse de acordo com os interesses dessa última. Uma pátria que ele menospreza, que possui “cheiro de merda”, que não tem valor para ele e que é povoada por uma “gente sem história”[...]".(MÁRQUEZ,1975,p.149).Ocorreram crises sociais, envolvendo principalmente, a questão agrária e a resistência à dominação estrangeira: a Revolução Mexicana, o Peronismo, a vitória de Fidel Castro em Cuba, a Revolução Peruana, o governo de Alende, a Revolução Sandinista.
Os países da América Latina foram fortemente atingidos pelas duas guerras mundiais e pela Grande Depressão, o que implicou maior agravamento dos problemas típicos do subdesenvolvimento. O rápido crescimento demográfico, as estruturas sociais arcaicas, as dificuldades de exploração dos recursos naturais, a escassez de capitais e a falta de mão – de – obra qualificada contribuíram para a agravar a dependência ao novo polo econômico mundial: os EUA. (AQUINO, 1980, p.389 e 390). A combinação desses fatores implicou crises violentas na América Latina. Tanto no nível político, quanto ao nível socioeconômico, onde o desemprego, a inflação e a miséria cresceram assustadoramente. (AQUINO, 1980, p.394).
De modo geral, os regimes militares da América Latina foram extremamente autoritários e violentos, "[...]numa posição de resistência às potências estrangeiras, esboçando um sentimento de patriotismo ao declarar “antes mortos que vendidos”[...]”. (MÁRQUEZ,1975,p.210). Os novos governantes criticavam as antigas elites oligárquicas, os partidos políticos tradicionais e a influência norte – americana no continente. Dirigiam – se diretamente à população, sem depender da mediação dos partidos. Apresentavam – se como defensores do “povo”, que tratavam como massa homogênea, como se não houvesse em seu interior divisões de classe ou grupos distintos. Procuravam, dessa maneira, conquistar a lealdade das camadas populares, manipulando – as de forma e evitar que elas se rebelassem. (SERIACOPI, 2008, p.465 e 466). Ao mesmo tempo que reprimiam toda e qualquer forma de oposição, os militares procuraram promover a recuperação econômica de seus países. Em alguns países foi posta em prática uma política baseada no estímulo e na abertura da economia para o mercado externo. Com o tempo, tal política gerou uma grave crise econômica na América Latina, com o aumento da dívida externa, arrochos salariais, perda de poder aquisitivo de boa parte da população, desemprego e aumento das desigualdades sociais. (SERIACOPI, 2008, p.469).
A recessão abalou as bases das ditaduras latino – americanas e contribuiu para enfraquecer os regimes militares na década de 1980.
- Referências:
- MÁRQUEZ, Gabriel García. O outono do patriarca, 1975, 2º Edição. Tradução: José Teixeira de Aguilar. Rio de Janeiro: Público Comunicação Social SA.
- SERIACOPI, Gislane Campos Azevedo. Capítulo 76 – Ditadura e Violência na América Latina. In: História - Volume único, 2008, 1º Edição, São Paulo: Ática. (p.465 – 469).
- AQUINO, Rubim Santos Leão. Unidade V – Sob o signo trágico do desenvolvimento: A América Latina no século XX. In: História das Sociedades: Das modernas às Atuais, 1980, 36º Edição, Rio de Janeiro: Ao livro Técnico. (p.389 – 394).
- http://www.suapesquisa.com/biografias/gabriel_garcia_marquez.htm
- Acessado em 09/10/2013 às 20h48min.
- http://www.infoescola.com/colombia/historia-da-colombia/
Acessado em 09/10/2013 às 21h32m
[1] Gabriel Garcia Márquez é um importante escritor de contos, novelista, jornalista e ativista político colombiano. Nasceu em 6 de marco de 1927, no município de Aracataca. É considerado pela crítica literário mundial como sendo um dos mais importantes escritores do século XX. Em 1982, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto de sua obra.
Disponível em http://www.suapesquisa.com/biografias/gabriel_garcia_marquez.htm
Acessado em 09/09/2013 às 20h48min.
[2] Em 1811, Simón Bolívar, militar e político, proclamou a independência da então Nova Granada. Devido à resistência dos espanhóis, somente em 1819, foi criada a República da Colômbia, foi promulgada a primeira constituição, e Simón Bolívar foi declarado presidente. Em 1821, a região era chamada de Grã-Colombia, sendo que a liderança dessa grande área era de Simón Bolívar.
A partir de 1830, com a morte de Bolívar, Equador e Venezuela se tornaram independentes. A independência do Panamá ocorreu em 1903.
Em 1849, são formados os dois partidos políticos colombianos: o Liberal e o Conservador. A rivalidade entre eles deu inicio a uma guerra civil em 1899, conhecida como a Guerra dos Mil Dias, que teve fim em 1903. Instaurou-se então um período de relativa paz.
Em 1948, com o assassinato do líder liberal Jorge Eliecer Gaitán, explodiu novamente a rivalidade entre liberais e conservadores. A violência teve inicio em Bogotá e se espalhou pelo interior do país, levando milhares à morte. O conflito levou os partidos rivais a um acordo. Os líderes deram respaldo a um golpe militar (1953 e 1958) e resolveram que o poder seria compartilhado.
Disponível em http://www.infoescola.com/colombia/historia-da-colombia/
Acessado em 09/09/2013 às 21h32min.