Resenha do filme Laranja Mecânica

Por Rachelly Clécya Brandão de Castro | 07/12/2016 | Direito

Rachelly Clécya Brandão De Castro 

A história se desenvolve em um ano fictício, em uma Inglaterra futurista e tem por protagonista Alexander DeLarge, conhecido como Alex, um jovem de 15 anos que ainda morava com seus pais e adorava ouvir a 9ª sinfonia de Beethoven, constantemente se reúne com sua gangue, composta por ele e seus 3 “drugues”: Pete, Georgie e Dim na leiteria Korova onde “rassudocam” seus próximos atos de “ultraviolência”, tais como estuprar mulheres, depredar patrimônios alheios, espancar mendigos, entre outros.Mesmo com seus amigos, ele demonstrava sua força e fazia com que eles reconhecessem seu lugar de autoridade e chefe do grupo não deixando-os tomar iniciativas por conta própria. Normalmente se utilizava do poder simbólico para controlar a situação e quando não conseguia utilizava-se de coerção física.

Nessa Inglaterra futurista, a violência era exacerbada e extremamente comum. Além da gangue de Alex havia também a gangue do Billyboy, composta pelo Billyboy e mais 4 “drugues”. O vocabulário dos jovens dessa sociedade era repleto de gírias que faziam parte da linguagem “nadsat”. Viviam de práticas violentas não apenas para conseguir dinheiro e objetos valiosos, mas sim por puro prazer. Eles viam em seus atos cruéis um espetáculo bem “horroshow”. Alex era “monitorado” por um consultor pós-correcional, o senhor Deitoid que o aconselhava a não praticar condutas ilícitas pois sua função é ajudá-lo a se recuperar.

Apesar da extrema onda de violência, a polícia ainda tentava conter as práticas criminosas e prender essas gangues. Em certa noite, Alex e seus “drugues” espancaram violentamente com socos, chutes e bengaladas um idoso bêbado que estava deitado no chão de uma viela escura. Entre uma agressão e outra o idoso dizia não querer viver mais em um mundo como este onde nem lei nem ordem existem mais, onde não há mais respeito ao ponto “deste mundo fedorento deixar que jovens batam nos velhos”, afirma também que o Estado está dando tanta atenção à ida do homem ao espaço que deixou de dar atenção devida àqueles que ficaram na terra bem como às leis e a ordem desse lugar. Através desse discurso há a afirmação de um sentimento de abandono pelo estado que colabora para a manutenção do caos pela qual essa sociedade passa.

Outra ação comum da gangue de Alex era o que costumavam chamar de “visita-surpresa.” Ao escolherem a casa alvo, Alex batia na porta e se apresentava como um jovem, vítima de acidente de carro na estrada no qual um amigo seu ficara bastante ferido e por isso necessitava fazer um telefonema através do telefone da residência. Evidente que essa era a brecha que precisava para invadir a casa, espancar o homem que lá estivesse, destruir móveis e demais objetos além de estuprar a mulher que estava na casa. Utilizando-se desse mesmo procedimento, ele invadiu e violentou sexualmente a mulher de um escritor contrário ao atual partido político da época provocando a morte dela. 

A situação começa a mudar quando Alex ao realizar uma outra visita surpresa na qual mata uma mulher, é traído por seus amigos com um golpe que o impede de fugir e com isso acaba sendo pego pela polícia.

Ao chegar na delegacia começa a ser interrogado e a experimentar diretamente os efeitos da repressão física da polícia. Não paga pelos crimes que cometeu apenas cumprindo sua pena, mas também sendo agredido pelos policiais antes mesmo de seu julgamento. Quando enfim é julgado, recebe sentença de 14 anos. Na prisão tem início o que Foucault chama de docilização do corpo, por meio do qual Alex se torna submisso e disciplinado a reconhecer cada vez mais a autoridade dos funcionários da prisão, fazendo perguntas e respostas como foi instruído (chamando-os sempre por senhor) e caminhando também da forma como lhe foi orientado.

 Certo dia Alex toma conhecimento de um tratamento que poderá tirá-lo dali mais rápido que imaginava. Era chamado de tratamento Ludovico. Ele decide então se candidatar a essa nova técnica sob o pretexto de que “queria se tornar bom” e o padre por já saber no que o tratamento consistia, diz a ele que a bondade vem de dentro, que o novo tratamento o tiraria a liberdade de escolha e “quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser homem”. Mesmo assim Alex se submeteu ao novo tratamento no centro médico Ludovico no qual tomava um coquetel de vitaminas e vários medicamentos e logo após era amarrado em uma cadeira, com uma presilha nos olhos que o impossibilitava de fechá-los e colocado em frente a uma tela para assistir à cenas de violência semelhante aos que praticava, enquanto via às cenas o remédio fazia efeito causando-lhe uma imensa sensação de mal estar. O intuito era fazer que ele associasse a sensação ruim à violência para que não agisse mais daquela forma . O tratamento consistia na tentativa de matar o instinto criminoso pois viam que a restrição da liberdade apenas na prisão não surtia efeito algum.

O resultado foi o almejado pelos médicos e responsáveis pelo tratamento Ludovico. Por algum tempo Alex não mais conseguia praticar atos violentos, sexuais e ilícitos como fazia antes, porém, não conseguia também reagir diante de situações violentas que lhe colocavam em risco. Ele ficou extremamente vulnerável e até a música que mais gostava, a 9ª sinfonia, não agüentava mais ouvir por associá-la a atos violentos.

Opositores ao governo se manifestavam de maneira totalmente contrária ao tratamento Ludovico e Alex passou a ser  a grande peça de um jogo político. Após se jogar de uma janela por não suportar ouvir a 9ª sinfonia devido ao tratamento, virou manchete nos jornais que questionavam a validade do tratamento, acusando o governo de usar métodos desumanos e classificando-o até como assassino. O governo então ofereceu a Alex total apoio para tentar mostrar à sociedade que o tratamento era legitimo, bom e que o governo era a grande solução e que possuíam a cura pra a criminalidade tentando assim ganhar a próxima eleição. 

  • IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO 

2.1 PROBLEMÁTICAS POSSÍVEIS 

  • O Estado desempenhou um adequado papel no controle da violência social
  • O Estado foi ineficiente no controle da violência social 

2.2 DESCRIÇÃO DOS ARGUMENTOS CAPAZES DE FUNDAMENTAR CADA DECISÃO 

  • O Estado desempenhou um excelente papel no controle da violência social

-Se o Estado detêm o poder, deve ser também o detentor do controle social

- O método Ludovico utilizado em Alex o impediu de praticar novos atos de “ultraviolência”

- Se a prisão já não surtia efeito e a maioria dos detentos voltava a praticar atos criminosos,o Estado realmente deveria experimentar novos tratamentos

- Para reestabelecer a ordem social e garantir a segurança da sociedade o Estado tem a legitimidade de usar seu órgão repressor, a polícia para alcançar o bem social

- Ao utilizar o tratamento Ludovico, quis garantir de maneira efetiva a extinção da criminalidade

- É menos oneroso submeter detentos a procedimentos médicos visando corrigi-los que criar mais prisões para abrigar mais detentos sabendo que quando saírem a chance de cometerem crimes é muito grande

- Matando diretamente o instinto criminoso os resultados serão muito mais visíveis

-O Estado é o responsável pelo controle formal e deve exercer esse controle por meio de suas intituições, como a prisão por exemplo

- Ao tornar os criminosos em corpos dóceis, termo criado por Foulcault, haverá menos resistência destes para com o Estado, facilitando o controle sobre esses indivíduos

- É adequado também o controle negativo, que segundo Ana Lucia Sabadel, “consiste na reprovação de determinados comportamentos por meio de sanção” 

  • O Estado foi ineficiente no controle da violência social

- Mesmo com as prisões e sanções físicas os índices de violência continuavam aumentando

- O consultor pós-correcional mesmo sabendo que Alex estava envolvido em situações criminosas e continuava praticando atos violentos, ao invés de submetê-lo a investigação, apenas tem uma conversa “amigável”

- A polícia quando deveria investigar para solucionar os crimes ocorridos como o estupro da mulher do escritor, foi inerte, provavelmente por submissão ao governo. Alegando que a posterior morte foi decorrente de pneumonia

- A polícia tortura Alex para saber quem são seus comparsas e apesar dele não ter dito os nomes, a polícia também não investiga.

- Os comparsas de Alex em vez de serem presos também, tornam-se policiais desonestos, corruptos e violentos

- O método Ludovico é utilizado não para o bem-estar da sociedade e melhora dos detentos mas sim para fins políticos

- O método Ludovico tira de Alex a liberdade de escolha, tornando-o apenas uma pessoa adestrada. Não deixa de ser mau e violento, apenas suas práticas estão limitadas

- Após ser liberado, Alex deixou de sofrer apenas sanção física por parte do Estado e passou a sofrer sanção física e social.

- Utiliza técnicas destrutivas de condicionamento

- Futuramente esse tipo de experimento poderá vir a ser usado não só em detentos mas também em inimigos do governo, causando em todos uma restrição da liberdade social e sentimento de medo o que consequentemente reforçará o totalitarismo do governo.

[...]

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