RESENHA DO FILME ''COMO ESTRELAS NA TERRA'' NA PERSPECTIVA DE VYGOTSKY

Por EDILENE CABRAL LIRA | 15/02/2023 | Educação

No filme “Como Estrelas na Terra”, o personagem principal é uma criança de nome Ishaan que apresenta ter muitas dificuldades de aprendizagem e de interação afetiva com seu pai, porém com sua mãe, por ela ser mais afetuosa consegue ser mais próximo. A família é de uma cultura patriarcal, onde o pai é provedor, a mãe é responsável pelos cuidados com os filhos e a casa.

No enredo do filme percebe-se que o pai faz distinção entre o filho mais novo e o filho mais velho. Para ele o filho mais inteligente é o mais velho, por ter mais habilidades nas suas atividades escolares, é o exemplo de um aluno “nota 10”, sempre recebe elogios dos pais e mais atenção. Enquanto o filho mais novo corre o risco de repetir de ano mais uma vez na escola. Demonstrando que nada prende a sua atenção, nenhum conteúdo lhe desperta interesse. O pai, após ser convocado pela diretora para conversar sobre o baixo desempenho escolar do filho, decide tirá-lo do colégio e enviá-lo para um internato.

No internato Ishaan sente falta da mãe, do irmão, da casa, da rotina familiar e vai tendo cada vez menos vontade de viver, isso é visto na cena em que um colega o encontra num local muito alto. Muitos conflitos internos fizeram com que ele se isolasse de todos, e cada dia no internado era um caos, sempre era taxado pelos professores como um aluno preguiçoso e até mesmo taxado de indisciplinado por não acompanhar o ritmo dos demais colegas. Na escola onde Ishaan estudava, os professores só corrigiam os erros gramaticais dele, não percebiam que ele era uma criança que precisava ser compreendida para poder ampliar seus conhecimentos e assim desenvolver as habilidades de leitura e escrita.

Quando um professor substituto de artes chega à escola percebeu que havia algo diferente com aquele aluno. Sendo observado pelo professor que Ishaan apresentava características de uma pessoa com dislexia. De acordo com o próprio garoto: “as letras dançam em sua frente”. Surge então, um professor substituto com metodologias próprias, inovadora, e acima de tudo, conhecedor do problema que a criança possui. O novo professor mostra que Ishann tem as suas particularidades, que precisa de uma atenção especial para que possa desenvolver suas habilidades e superar as suas limitações. Após, mobilizar a escola no tocante a esta questão, o professor consegue ensinar Ishann a ler e escrever. A partir de então, Ishann vai se superando compreendendo o mundo da leitura, da escrita e recuperando a sua autoestima.

Para Vygotsky (2007) o ambiente no qual está inserido influência diretamente em sua aprendizagem, o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente. No início da infância, explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem ou deveria ter disponível para aprender.

O Filme nos leva a refletir, a importância do olhar atento, do olhar observador, investigador e da sensibilidade para com a pluralidade que compõem uma sala de aula e a sociedade, bem como as particularidades de cada pessoa, o convívio social, familiar e a interação com o outro. Somente identificar o problema não é o suficiente, faz- se necessário é indispensável observar como a criança interage no ambiente familiar.

Para propiciar à criança um desenvolvimento mais significativo, na abordagem de Vygotsky o desenvolvimento cognitivo é associado ao meio em que o sujeito está inserido. Ou seja, o contexto social, histórico e cultural influencia diretamente no desenvolvimento dos sujeitos e, portanto, do aluno. Pode-se dizer, a partir da leitura de Vygotsky (2007), que esse contexto sociocultural não apenas influencia o desenvolvimento dos sujeitos, mas sim que o mesmo constitui os próprios sujeitos, sem ele não há sujeitos.

CONCEIÇÃO, SIQUEIRA e ZUCOLOTTO (2019) cita Vygotsky (2007) acrescenta que relações sociais e interações se convertem em funções psicológicas superiores sempre por meio da mediação. Assim, a conversão de relações sociais em funções mentais nunca é direta, mas sempre mediada. Mediar seria trazer as condições para processos de internalização, ou seja, para os processos de reconstrução interna de uma operação externa. Mediar demarca, na teoria vygotskyana, que não seríamos sujeitos se não fosse por meio do outro e da cultura.

 

REFERÊNCIAS 

CONCEIÇÃO, Elizete de Fátima Veiga da; SIQUEIRA, Liz Behr  e ZUCOLOTTO, Marcele Pereira da Rosa. Aprendizagem mediada pelo professor: uma abordagem vygotskyana. Research, Society and Development, vol. 8, núm. 7, pp. 01-14, 2019. Universidade Federal de Itajubá. Disponível em: . Acesso em 08/11/2022 às 22h.

 VYGOTSKY, L. S. (2007). A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes.