RESENHA DO FILME ''O GRANDE GOLPE'' - STANLEY KUBRICK 1956

Por Lara (Cinéfilara) Rodrigues Pereira | 12/04/2010 | Sociedade

O GRANDE GOLPE, STANLEY KUBRICK – 1956.

O Grande Golpe é desses filmes que nos fazem identificar a genialidade de um diretor por sua objetividade. De maneira rápida (o filme dura cerca de 90 min.) as cenas vão se escrutinando e revelando a história que apesar da falta de rodeios, apresenta grandes desdobramentos que irão garantir surpresas no final. A forma como a trama começa a ser contada no universo obscuro dos jóquei clubs,( onde o glamour usual deste tipo de cenário dá espaço à marginalidade) imprimi um ritmo frenético que será mantido até a última cena.

De forma extremamente convincente Kubrick traz para a trama um narrador de voz grave que irá além de contar o enredo, dramatizá-lo. A utilização deste tipo de artifício, o da narrativa feita por um elemento de fora da cena, poderia ser um erro se não fosse tão bem calçada por elementos como roteiro e trilha sonora que arrematam cada consideração feita pela narração. Assim, podemos estabelecer uma relação um tanto previsível com o elemento narrativa, pois somos condicionados, no decorrer da trama, a identificar um clímax a cada término de narração seguido pelo aumento de volume e de força da música ambiente.

A descrição dos personagens centrais se dá através da análise de suas personalidades, promovida por pequenos recortes em seus quotidianos. Em decorrência disto, conseguimos perceber em Jhonny um personagem que quer deixar seu passado em Alcatraz bem longe de seu futuro promissor; George é um homem que ama desesperadamente sua Sherry que o usa para pagar suas contas e o trai constantemente; o garçom do bar do jóquei, que apesar de sua aparência truculenta tem em sua esposa doente a maior motivação para ganhar dinheiro; o policial corrupto que fez de gângsters locais seus credores; o contador que se faz a figura mais enigmática do filme, pois tem dinheiro para financiar o golpe e não justifica em momento algum motivação para ganhar ainda mais... esta análise pode ser um tanto ingênua, pois, afinal, quem precisa de justificativas nobres ou não para querer se tornar um milionário? Através deste universo rico de figuras, a direção de forma cuidadosa trabalha os diálogos rápidos, marcados ora pela ingenuidade de George, ora pela acidez de Sherry e objetividade de Jhonny.

À medida que as cenas se desenrolam somos chamados a tomar parte do plano quase perfeito que originará o Grande Golpe. A partir disso, somos apresentados a personagens secundários com responsabilidades de protagonistas que alinhavam o cerne de cada cena. E tudo parece que terminará perfeitamente nesta narrativa linear e alucinante. Mas, as características pessoais de alguns personagens, apresentadas preliminarmente, interferem no gran finale e através de cenas emblemáticas como a do tiroteio onde George escapa para cumprir seu destino de marido traído, e a da mala de Jhonny no aeroporto, a trama se cumpre nos deixando ainda mais extasiados com o fim dado pelos acontecimentos à história.