Resenha Crítica

Por Simone Lobato Ferreira da Cruz | 10/03/2017 | Educação

Discente: Autora: Simone Lobato Ferreira da Cruz

 

 

SOUZA, A. M. N. S/d. CURRÍCULO INTEGRADO E PROEJA: POR UMA OUTRA EDUCAÇÃO DO TRABALHADOR.

 

 

 

Resenha critica apresentada como requisito parcial de avaliação da disciplina Concepções de Currículo Profissional do Curso Especialização em Docência para a Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Instituto Federal do Pará.

Orientador: Prof. Djalmira Almeida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Santarém, PA

Março – 2017

 

 

Souza, A. M. N. (s/d). Currículo Integrado e Proeja: por uma outra educação do trabalhador.

 

 

 

Simone Lobato F. da Cruz

 

No artigo, a autora objetiva, primeiramente analisar o papel de currículo integrado, mostrando a sua função para a Educação Profissional de Jovens e Adultos (PROEJA), e seus efeitos para a suplantação de padrões de formação do trabalhador que favorecem somente os conhecimentos técnicos instrumentais, em prejuízo ao saber propedêutico, pertinente ao conhecimento da teoria, em detrimento à prática. Para, isso, Souza faz uma conceituação de currículo, transcorrendo por suas particularidades ideológicas, sociais e sua função na escola, bem como a relação e especificidades entre trabalho e educação, e de que maneira estes podem se articular em contribuição a qualificação social do homem. Essas abordagens estão divididas em quatro partes.

A primeira parte denominada “Currículos e currículo integrado: algumas reflexões” trata da configuração histórica da educação do trabalhador brasileiro”, onde pessoas da classe dominante direcionam o processo de educação do trabalhador, em detrimento deste. Souza afirma que esse quadro fortalece o dualismo resultante do processo histórico brasileiro, onde em que a autora cita o escravismo, no qual os trabalhos braçais e de menor valor eram destinados aos escravos, fato que ainda reflete nas duas formas de ensino: profissional e propedêutico.

A autora indica que ao se elaborar um currículo de ensino é importante pensar no tipo de sociedade que se pretende construir, legitimando ou não o sistema dominante de ideias, pois se trata de um elemento mediador entre sociedade e escola. Nesse sentido, o currículo deve ser flexível e estar em consonância com as experiências de vida dos alunos, concentrando-se na prática, e não mais em disciplinas que pouco tem a ver com o conhecimento fora da escola. Assim, o currículo integrado, dentro do conhecimento, deve integrar teoria com a prática, mostrando aos alunos, questões relacionadas a vida real.

Ao citar Ciavatta (2005), Souza demonstra o conceito de integrar que o significa compreender o todo, tratando a educação como uma completude social, focalizando o trabalho como princípio educativo, ultrapassando o dualismo do trabalho manual /intelectual, formando assim, trabalhadores atuantes,  tanto como dirigentes, quanto como  cidadãos.

Segundo a autora, no PROEJA é fundamental que o currículo integre os referidos saberes, pois assim terá sentido o objetivo principal do programa, que é recuperar jovens e adultos em vulnerabilidade social em ambiente educacional  e incluí-los socialmente. No segundo item, intitulado “Currículo Integrado e PROEJA” a autora aponta que o público-alvo da EJA e do PROEJA é formado por pessoas que, por motivos sociais e históricos diversos foram desviadas do processo educacional formal e que necessitam ser incluídas socialmente através da educação. Assim, o currículo elaborado para este segmento deve ser elaborado buscando romper o formalismo, procurando a adequação à realidade atual. Além disso, a autora cita o exposto no Documento Base do PROEJA: “Em relação ao currículo, pode ser traduzido em termos de integração entre uma formação humana mais geral, uma formação para o Ensino Médio e para a formação profissional.” (BRASIL, 2006).

   Souza determina, no terceiro item “Currículo Integrado e Proeja: por uma outra educação do trabalhador” que o currículo integrado inaugura uma forma diferente de qualificação para o trabalhador, concentrada na relação entre trabalho, ensino, prática e teoria, ensino e comunidade, o que supera o modelo de educação que busca atender somente aos interesses do Capitalismo, formando mão de obra  para  mera colocação no mercado em uma vaga de emprego. A autora se remete a Marx, o qual prega o trabalho não pode ser alienado ao ser humano, ou seja, deve ser pertencente ao seu eu.

A autora comenta sobre o parecer CNE/CEB 11/2000 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, e afirma que  a EJA representa uma dívida social não reparada, para aqueles que de, alguma forma não tiveram acesso ou foram excluídos dos processos formais de aprendizagem, e que por conta dessa exclusão, têm o exercício pleno de sua cidadania ameaçado. Por isso, a EJA precisa estar comprometida em oferecer a esses sujeitos a percepção de que existem outras formas de viver, além da que lhes é colocada como única opção. O parecer mostra ainda as três funções da EJA que são:

-Função reparadora, que além do simples acesso à escola, seja uma instituição de qualidade que aprecie e reconheça a equidade de acesso aos bens sociais;

 -Função equalizadora, que se constitui na volta dos indivíduos excluídos da educação formal.

 

 -Função permanente ou qualificadora, que é o objetivo principal da EJA, promovendo o aperfeiçoamento constante das potencialidades do ser humano, levando em conta seu caráter inacabado.

Na quarta e última parte, denominada de “Algumas palavras finais”, Souza conclui que: qualificar o ser humano para a cidadania de fato, é o principal compromisso da EJA, o que só pode ser atingido através da existência de um currículo que não separe o saber propedêutico, do saber técnico, a teoria da prática, o manual e o intelectual, relacionando os saberes, sob vários aspectos.

Além disso, autora indica a necessidade de cobrar dos Ministérios do Trabalho e Educação uma legislação para a Educação Profissional, como forma de parar a multiplicação de cursos e instituições de educação profissional sem comprometimento, com péssimas condições de funcionamento, professores de formação duvidosa, e que vendem ao trabalhador uma falsa ideia de admissão imediata no mercado de trabalho.

Concorda-se, totalmente, com a autora, pois, a partir do momento em que, através de um currículo integrado à realidade dos discentes, a educação será capaz de despertar o interesse pelos estudos, mudando a realidade de milhares de pessoas que não tiveram boas oportunidades em suas vidas, o que resultará na melhora da sociedade como um todo.