Resenha crítica: apologia da história, ou, o ofício de historiador
Por Reginaldo dos Santos Soares | 20/02/2012 | HistóriaCONTRIBUIÇÕES EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO
Obra póstuma do escritor francês, co-fundador da Escola dos Annales e da Nova História, morto pelos nazistas em 1944, esta obra ficou interrompida, foi publicada pela primeira vez em 1949, inaugurou uma nova perspectiva do estudo e do entendimento da concepção da história e do papel indispensável do historiador.
Neste livro, Bloch expõe elementos de metodologia de pesquisa em História buscando identificar o objeto de estudo fortalece a concepção da ciencia histórica , partindo de uma indagação de seu filho "Papai, então me explica para que serve a história." (Bloch, 2001, p.41), visando expor sua visão de história e do papel do historiador.
Marc Bloch retrata no primeiro capitulo da sua obra que o objeto principal da história não é estudar o passado e sim estudar o ser humano, pois “já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”, e faz uma discussão sobre a história como ciência ou arte e conclui enfocando que a história é a ciência "Ciencia dos homens", "dos homens, no tempo". O historiador não apenas pensa "humano"(Bloch 2001: 55p) faz uma conclusão final do capitulo enfocando a história como ciência, não apenas pelo objeto mais também pelo método próprio que é a observação histórica ou seja no titulo ele resume no título a intenção do autor que é representar o homem quanto sujeito da sua história. Buscando não mais uma História voltada apenas aos fatos, às datas e aos relatos. Ele a partir de então procurava uma história que conseguisse compreender as relações sociais que se deram através dos fatos, suas problematizações e seu contexto histórico.
Bloch enfoca a questão da observação histórica na qual sugere que o historiador está impossibilitado de constatar os fatos estudados e por isso que no estudo do fato recente, têm-se maiores possibilidades de compreensão, embora os testemunhos em qualquer tempo sejam indispensáveis, na atualidade, os vestígios originais claramente em sua volta, como a ganhar corpo e vida pela manipulação do pesquisador, pois, “A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele.” (Bloch 2001: 79p). Na pesquisa histórica, o historiador limita-se aos relatos dos testemunhos, devido à impossibilidade do historiador testemunhar os fatos estudados, pois eles já acontecerão, portanto é imutável e seu conhecimento pode ser progressivo e aperfeiçoado.
Durante a pesquisa histórica, o historiador deve ter persistência, entendendo que há dois tipos de documentos na poderá encontrar: os explícitos, que são fabricados, e os implícitos que não aparece espontaneamente na reprodução desses documentos no anonimato.
Bloch inova ao dizer que o historiador não deve utilizar apenas os documentos escritos, mas trabalhar também os testemunhos não escritos, de outras ciências, em particular os da arqueologia, nos mostra que o passado estará sempre em processo e progredindo, mudando muitas vezes seu modo de analisá-lo e entendê-lo, e que poderá ser escrito de maneira diferenciado de acordo com a visão de cada historiador e até mesmo interpretado diferentemente dependendo do leitor.
A postura do historiador deve ser de questionamento para perceber o contraditório em certos autores, o que na maioria das vezes levaram investigações às fracas, pois “Os textos ou os documentos arqueológicos, mesmo os aparentes mais claros e mais complacentes, não falam senão quando sabemos interrogá-lo” (Bloch 2001: 79p).
Durante a Idade Média, os historiadores escreviam o que eram convenientes, baseava-se no bom senso, onde a história era favorecida pela incerteza da falsificação dos testemunhos, transcrevia outro momento praticamente alheio aos acontecimentos e os fatos que era dito pela ordem adequada e fidedigna ao pensamento dos filósofos e dos teólogos, considerados donos da verdade, não conheciam ainda, a elaboração da análise critica.
O autor afirma que existem dois problemas no caminho do pesquisador: imparcialidade histórica e o da tentativa de reprodução. Na qual pode de ser imparcial tomando a postura do:
- Cientista que orienta – se em busca de provar o seu experimento e finaliza a sua missão.
- Juiz de direito que através da comparação dá a sentença, respaldado na precisão dos autos e do experimento cientifico.
Os historiadores segundo Bloch têm atuado como juízes, visando condenar bandidos ou coroar heróis, dando qualidades aos seus atos, bons ou ruins para só então explicarem seus atos, o que torna tal explicação insignificante. O autor apela para compreensão de fatos que levaram de antemão as ações desses seres, pois a análise das ações humanas nos leva a um ser especial que é o homem que age e interage como autor e receptor de um espaço neste sentido deve-se fazer a leitura histórica de acordo o pensamento do tempo histórico.
Bloch defende que o historiador deve selecionar o período histórico, chamado de recorte histórico e, portanto “escolhe e peneira” o seu estudo e analise, pois não é obrigatório o saber todo o passado ou do seu estudo, já que a noção de fonte é ampliada e abrangente, principalmente ao aumentar o período pesquisado. Na produção o historiador, necessita ter consciência da própria nomenclatura da história, beneficiada pela matéria de seu estudo, que é fornecida de forma ultrapassada diante da época vivenciada pelo escritor. “A história recebe seu vocabulário, portanto em sua maior parte, da própria matéria de seu estudo. Aceita-o, já cansado e deformado por longo uso; ambíguo, alias, não raro desde a origem, como todo sistema de expressão que não resulta do esforço severamente combinado dos técnicos” ( Bloch 2001:136p ).
O último capítulo é incompleto, não recebeu um título, parte considerações acerca das causas dos fatos históricos, e que tais causas não são postuladas e sim buscadas, não tendo como pré-determinadas –faz uma crítica ao positivismo –, que um fato é ligado ao outro e que as produções do próprio historiador terá conseqüências e influências.
Finaliza dizendo: “Resumindo tudo, as causas, em história como em outros domínios, não são postuladas. São buscadas” (Bloch 2001: 158p).
CONCLUSÕES DA AUTORIA
Fica evidenciada no livro que algumas noções básicas sobre o que toda história é: social, mutante, transformadora, e que a história deve ser problematizada;
Esta obra de Bloch retrata de forma clara, direta e consistente a postura e a atuação do historiador diante do seu papel na sociedade.
Remetendo para o professor de historia dá uma posição clara do educador diante da importância da historia como ciência dos homens.
Ele escreve sobre conceitos basilares do ofício do historiador, sintetiza o historiador e a sua função enquanto produtor do conhecimento histórico.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BLOCH, Marc Leopold Benjamin, Apologia da história, ou, O ofício de historiador. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.