Resenha - "Confissões" de Santo Agostinho
Por Eydy Souza Silva | 28/09/2017 | FilosofiaResenha do texto: "Confissões" de Santo Agostinho.
Resenhado por: Eydy Souza Silva.
Santo Agostinho ou Aurelius Augustius nasceu em 354 em Tagaste, hoje, Argélia, norte da África. Morreu no ano de 430, na mesma cidade. Era filho de Patrício, um pagão, e Mônica, uma cristã. Estudou gramática em Madura e retórica em Cartago, tendo sido intelectualmente influenciado ao ler Hortensius, de Cícero. Após uma vida entregue aos pecados mundanos, durante seus dias de estudante, afiliou-se à religião Maniqueísta (373). Ele ensinou gramática e retórica na África do Norte (373-382), em Roma (383) e em Milão (384), onde foi influenciado pela leitura da filosofia neoplatônica e pelos sermões de Ambrósio. Converteu-se ao cristianismo aos 32 anos de idade, tendo sido batizado por Ambrósio (387) e reunido à sua mãe, que faleceu pouco tempo depois. De volta a Tagaste, vendeu as propriedades que herdara dos pais e fundou uma comunidade monástica. Foi vigário da igreja de Hipona (391) e bispo de Hipona (395). Teve um filho, Adeodato, que faleceu na adolescência. Seu pai faleceu quando tinha 20 anos de idade. Agostinho morreu em 430, quando os vândalos estavam sitiando Roma.
Santo Agostinho começa seu primeiro livro louvando a Deus, sujeitando sua existência a existência do mesmo, porque estando em Deus, ele existiria. Indagava-se sobre quem era Deus, chamando aqueles que não o conheciam de charlatães, pois Deus para ele era Onipresente, misericordioso, sempre agindo em prol de seus filhos, cuidando, proporcionando tudo o que somos e possuímos.
Santo Agostinho era muito conhecedor da Bíblia, pedindo sempre a absolvição de seus pecados, visando o descanso eterno, crendo em Deus, sua única salvação. Mesmo com toda essa sabedoria, Santo Agostinho pede licença para contar seus pecados desde sua infância, ainda que não se lembrasse de sua infância, sabia que tudo o que lhe era dado, era por intervenção de Deus. Sabia que suas primeiras palavras foram conhecimentos transmitidos pelo senhor, via gestos de seus familiares que só lhe foi possível entender porque Deus lhe deu sabedoria.
Ainda que fosse dotado de toda essa sabedoria, ele não foi uma criança que gostava de estudar, odiava que o obrigasse a este ato, mas por sorte conheceu homens que invocavam a Deus. Ainda menino, ficou doente e quase morreu, sua mãe como era muito temente a Deus, sabia da importância do batismo e cuidou logo para que ele fosse batizado antes que acontecesse uma fatalidade. Refletindo sobre isso, Santo Agostinho percebeu a importância de tal ato, de ser absolvido de seus pecados antes de morrer, concluindo que os pecados depois do batismo se tornavam ainda maiores e mais perigosos. Por sorte não lhe aconteceu nada, após ser batizado, começou a melhorar.
Santo Agostinho termina seu primeiro livro pedindo perdão pelos pecados cometidos quando criança, sabendo que estes só o afastavam de Deus, sabia que o modo como tratava seus empregados, mestres e seus pais, desagradava o seu senhor. Sabia ainda que a humildade das crianças conquistava o coração de Deus e que delas era o reino dos céus, por isso se arrependia de suas atitudes quando menino.
Em seu décimo livro, Santo Agostinho começa a se indagar sobre a importância dessas confissões, dizia que ela desejando ter o amor de Deus que estava lhe contando tudo, em busca da misericórdia de Deus, sabendo que seu senhor sempre lhe foi bom sentiu o desejo de lhe confessar tudo isso.
Desde pequeno, Santo Agostinho, sentia vontade de conhecer as divinas palavras e também de confessar seus pecados, sabia que Deus o escutava mesmo que estivesse no abismo, pois ele o reconhecia como pai, e seu filho como mediador. Agostinho tinha anseio de compreender a voz de Deus, não importava a língua usada, assim como Moisés fazia, ele queria ter a fé que Moisés possuía, por isso pedia a Deus sabedoria para interpretar as verdades ditas por Moisés.
Ele afirmava que Deus nos criou , assim como Deus criou o mundo, mas se indaga de como esta criação se deu. Assegura que não havia espaço para toda essa criação, mas concluiu que só pelos comandos de Deus tal obra se deu. Para ele tudo que Deus fala é eterno, é levada em consideração para vida inteira, sua sabedoria foi o princípio de tudo, e foi a voz divina que nos conduziu até aqui, na origem do que somos.
Santo Agostinho se indagava também, sobre o que Deus fazia antes da criação do mundo, dizia que as pessoas só foram criadas através da vontade de Deus, e questiona -se o porquê das pessoas não serem eternas, já que Deus permitiu que elas existissem.
Continua os seus pensamentos, falando da diferença entre tempo e eternidade, onde o primeiro sempre é representado pelo presente e a sucessão do tempo não tem fim, demonstra sempre uma continuidade e já a eternidade não tem aquela progressão, sua marca é o presente. O tempo de Deus é a eternidade.
Santo Agostinho se perguntava como era o tempo sem a existência de Deus e se isso é possível de acontecer, concluindo dizendo que o tempo só existe porque Deus existe, ele veio em primeiro lugar, todas as demais coisas só vieram após sua existência.
Para Santo Agostinho, o passado já não existia e o futuro ainda não existe. O tempo só pode ser longo se existir, então só o pode ser durante o presente, e assim dá pra medir sua duração.
Agostinho fazia questionamentos sobre o modo de ensinar as coisas do futuro se elas ainda não existem, porque para ele se essas coisas são futuras elas ainda não estão lá, não existem. Mas ele reconhecia suas limitações sobre esse tema e confessa que só Deus pra ajudá-lo a compreender esses mistérios.
A grande maioria da obra se designa a pedir perdão por não ter compreendido mais jovem sobre a religião cristã e assim se tornar fiel mais cedo. “As confissões de Santo Agostinho” se transformaram em uma interpretação sólida da Bíblia e deixou de ser só uma autobiografia, o autor procurou compreender de maneira humilde as escrituras no sentido da intenção de Deus ao criar o céu e a terra, pois, para ele somente Deus é o portador de toda a sabedoria.
O autor acredita que o único mediador entre Deus e os homens é Jesus e que tem todo o projeto de redenção nas mãos, o qual Santo Agostinho coloca todas as suas esperanças para se ver curado de todas as feridas. Ao lermos a obra citada acima, vimos o quão Santo Agostinho se arrependeu de seus atos, pediu perdão e buscou não cometer os mesmos erros novamente, esse foi o ponto mais marcante que pudemos extrair de sua obra.
Confessar não é só pedir desculpas. Existem pessoas que são excelentes em fazer tal coisa. Muitas vezes dizem “sinto muito”, “foi mal”, “foi sem querer”, sem na verdade admitir qualquer remorso. Já a verdadeira confissão se dá em reconhecer que errou, admitir o pecado e fazer de tudo para não repeti-lo.
REFERÊNCIA:
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1955.